~Melissa~
Na semana passada, meu pai veio falar comigo. Eu perguntei o assunto e quase que não o escuto quando ele respondeu "Gabriel"
- Ele só pediu para você trancar a casa dele, Melissa - meu pai disse ao telefone - Ele disse que você tem a chave e quando saiu não se lembra se fez isso.
- O que mais ele disse? - rolei os olhos.
- Que você sabe o que tem de valor lá dentro sentimental lá dentro, e se não fosse querer fazer isso por ele, faça por essas coisas.
Eu não era burra, sabia que essa última parte meu pai que havia inventado.
- Tá, eu vou.
- Passo aí em 10 minutos.
Tá né...
Meu pai me deixou lá, apesar dos meus protestos sobre como o que eu menos queria fazer era ficar muito tempo. Era só pretexto, claro, mas meu pai me conhecia até melhor que mim mesma e saiu com o carro antes que eu pudesse fazer qualquer coisa.
Tirei as chaves de dentro do bolso e abri o portão de grades brancas. Subi três degraus rodeados por grama e coloquei a mão na maçaneta da porta. Aberta. Rolei os olhos e a bati atrás de mim. Olhei ao redor e toda a minha pose de durona se foi. Suspirei e fechei os olhos, e cheguei a imaginar que eu estava ali sozinha, pois ele estava saindo do banho, ou tirando uma soneca e eu faria uma surpresa para ele, entrando no quarto sem que ele soubesse.
Eu subiria as escadas e abriria a porta do quarto dele. Encontraria a cama meio bagunçada e ouviria o chuveiro ligado. Ficaria admirando sua guitarra na parede, e seus outros instrumentos espalhados pelo quarto, e pegaria seu caderno preto para vê-lo novamente. Ver os desenhos, ver os meus desenhos, suas músicas, seus poemas. Então ele sairia do banho, me veria ali e abriria seu sorriso que ilumina o mundo inteiro. Viria até mim devagar e me beijaria, depois ficaria por cima de mim na cama e nós acabaríamos o dia rindo e conversando, como fazíamos antes.
Mas foi aí que minha ficha caiu. Eu estava sozinha ali. E ao entrar em seu quarto, o que vi foi a cama completamente arrumada, apenas pelo seu caderno em cima dela. Seu caderno preto, que o vi rabiscando no primeiro dia de aula, que usou para esboçar as mudanças em meu corpo quando vivi a pior noite da minha vida, que guardava lembranças de nós dois a todo momento. Ele estava ali em cima, solitário. O violão estava num suporte ao lado da cama e sua guitarra ainda continuava na parede. Sua bateria ainda estava no canto do quarto. No criado-mudo ainda havia um copo de água pela metade, um lápis, um livro com um marcador no meio. Nunca reparei nele. O morro dos ventos uivantes, li na capa.
Algo mais me chamou a atenção lá. Era um desenho. Um desenho que eu havia feito dele, logo após ele ter rasgado o primeiro. O segundo havia ficado com um espaço em branco, mas ele o havia preenchido. Com o meu rosto. Agora, o desenho era um esboço de nós dois juntos, olhando um para o outro, esperando em silêncio um beijo que nunca virá.
Se concentra, Melissa.
Respirei fundo de olhos fechados e peguei o desenho. Ele iria sentir falta, eu tinha certeza. E se o quisesse de volta talvez me procurasse para o ter. Fechei todas as janelas que estavam abertas, tranquei todas as portas e me vi novamente no hall de entrada.
Dei uma olhada para trás, tranquei a porta e liguei para o meu pai.
~Gabriel~
Um mês. Fazia um mês que eu estava preso temporariamente. Um mês que eu estava esperando a porra do processo andar logo. Um mês que eu não via Melissa. Fazia duas semanas que o pai dela havia estado aqui e eu rezava para que ela tivesse trancado minha casa, apesar da raiva que deve estar de mim.
Até entendo ela. No seu lugar, eu mandaria tudo se foder e sairia para beber, mas se ela fizesse isso... Me revoltei ao pensar. Melissa não poderia se entregar para o álcool como eu fiz. Se ela também entrasse nessa vida, eu daria um jeito de sair daqui para impedi-la, não importa o que eu precisasse fazer.
- Mais visita para você, garanhão - disse o guarda - Tu é famoso, hein?
O ignorei enquanto andávamos até a sala de "visitas".
Carlos.
- Tenho uma notícia, Gabriel. - seu tom havia mudado.
- Diga.
- A audiência é na semana que vem, juntamente com o julgamento.
Engoli em seco. Era dali a sete dias que eu saberia meu destino definitivo: ficar não sei quanto tempo atrás das grades, ou voltar para a garota que amo.
Só sete dias...
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Os Opostos se Atraem? - Livro 2
Teen FictionDepois de conhecer Gabriel, a vida de Melissa mudou de um dia para o outro. Quase sete meses depois, ela nunca imaginaria que poderia perdê-lo de repente. Esse casal havia passado por coisas demais, coisas ruins demais, e não valia mais a pena conti...