Sabe aquele momento em que sua vida toda passa bem diante de seus olhos? Era mais ou menos isso que eu estava sentindo. Mas não porque eu estava morrendo. Qual é, eu não estava. Só fiquei parada, estática, sem saber o que fazer ou dizer, pensando em qualquer outra coisa que não fosse a morte de Maria. E pensando em "qualquer outra coisa", pude jurar que algumas lembranças da minha infância voltaram para falar um "oi".
Como eu poderia contar à Bella que sua avó havia morrido, e que ela a havia conhecido, mas não sabia que era sua avó?
- Bella... não seria melhor conversarmos sobre isso outra hora? - Rodrigo perguntou.
- Não - disse Gabriel.
Ele coçou a nuca e se ajoelhou novamente para ficar na altura de Bella. Um frio na barriga me percorria sempre que ele fazia isso, e a frase "Ele agora é pai" escoava em minha cabeça.
- Bella... - ele começou e começou e colocou uma mecha do cabelo dela para atrás da orelha - Sua avó... a minha mãe.. ela morreu há um tempinho...
Ele iria contar que Bella já a havia conhecido?
- Então, você não vai poder vê-la, meu amor - ele continuou - Ela nem morava nessa cidade. Morreu um pouco antes de eu conhecer você.
Bella me olhou com os olhinhos tristes. Eles pareciam maiores e mais azuis agora. Eu só balancei a cabeça e ela abraçou Gabriel, que a levantou com ela ainda no colo.
Bella nunca foi muito alta. Desde que nasceu, ela nunca atingiu o gráfico certo de crescimento. Sempre era mais baixa. Agora, com 10 anos, ela possuía 1,30m. Doutora Ingrid me disse que ela irá crescer e atingirá mais ou menos 1,70m, mas no tempo dela.
Então agora, no colo de Gabriel, ela parecia ter apenas 8 anos, e seu rosto triste a deixava ainda mais nova.
Como se ainda fosse um bebê.
Vendo Gabriel a segurar daquele jeito me deu um aperto no peito e eu me perguntei se ele a seguraria do mesmo jeito se caso ela ainda fosse de fato um bebê. Se ele a tivesse conhecido mais cedo.
- Eu acho melhor eu ir, filho - disse Rodrigo. - Preciso ir para o escritório amanhã cedo.
- Tudo bem. Eu tenho umas coisas da faculdade para fazer... - Gabriel respondeu. Acho que ele estava tentando esconder o pesar na voz. Talvez quisesse que o pai ficasse mais, mas ele nunca iria admitir isso.
- Foi um prazer conhecer vocês.
Ele despediu-se de cada um de nós e foi para a porta, mas se virou novamente e disse:
- Gabriel, quer ir almoçar comigo amanhã?
Torci os dedos indicador e médio e os coloquei atrás das costas discretamente, torcendo para Gabriel aceitar o convite e ter um tempo a sós com o pai em um lugar público.
Coisa que fazia mais de 12 anos que não acontecia.
- Sim. Sim, claro. - ele falou e deu um leve sorriso.
Fechei os olhos por um segundo, aliviada. Parece que as coisas estão voltando aos seus lugares.
Rodrigo sorriu, me olhou com um olhar aliviado, igual a mim, e saiu.
Eu que acabei fechando a porta porque Bella ainda estava no colo de Gabriel e acho que ela acabou dormindo com o rosto em seu ombro, porque ele ficava balançando de leve de um lado para o outro enquanto falava.
Acho que ele nem percebeu isso.
- Nem foi tão difícil, foi? - perguntei.
- Um pouco... Quer dizer, não foi difícil falar com ele no geral, mas foi pior saber que eu passei 12 anos sem ele e fiquei com raiva... São tantas coisas, mas ao mesmo tempo não são quase nada... Eu não sei explicar.
![](https://img.wattpad.com/cover/90250185-288-k583018.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Opostos se Atraem? - Livro 2
Teen FictionDepois de conhecer Gabriel, a vida de Melissa mudou de um dia para o outro. Quase sete meses depois, ela nunca imaginaria que poderia perdê-lo de repente. Esse casal havia passado por coisas demais, coisas ruins demais, e não valia mais a pena conti...