Capítulo 47 - Sequer imaginava...

1.6K 123 42
                                    

~Mirella~

   – GABRIEL, DEVOLVE MINHA ESCOVA DE CABELOS AGORA, SEU FILHO DA...

  – Olha a boca!!! – ele disse rindo de dentro do seu quarto que estava com a porta fechada.

  – EU TÔ FALANDO SÉRIO, OU VOCÊ ME DEVOLVE OU EU VOU ARROMBAR ESSA PORTA!

  – Vai sair com quem, Fiona?

Ele me chamava assim, pois dizia que eu era delicada como uma ogra.

  – Com ninguém, me devolve!

  – Vai fazer o que?

  – Apagar todas as suas músicas! Seu celular está no meu quarto!

Ele havia esquecido o aparelho lá, fazer chantagem com o celular com Gabriel é a mesma coisa de cutucar uma onça com a vara curta.

  Ele abriu a porta, o suficiente para ver apenas seu olho.

  – Você não faria isso.

  – Ah, não? – saí correndo até meu quarto e Gabriel veio atrás de mim. Me alcançou em menos de 5 segundos e me pegou pelo braço.

  – NÃO TOCA NO MEU CELULAR!

  – NÃO TOCA NAS MINHAS COISAS!

  – SOU MAIS VELHO, EU POSSO!

  – VOCÊ É DOIS MINUTOS MAIS VELHO.

  – CONTINUO MAIS VELHO.

  – NÃO DE MENTALIDADE, SEU BEBÊ!

Ele ergueu a sobrancelha e nessa hora, dei um tapa em sua mão e peguei minha escova de cabelos de volta.

  – Mas que coisa, custa você me emprestar? – ele falou.

  – Não, desde que você PEÇA EMPRESTADO.

  – Ha  ha ha engraçadinha.

  – Desde quando meninos usam escovas?

  – Eu quero usar, dá licença?

  – Não. PAIEEEEEE O GABRIEL USA ESCOVA DE CABELO!

  – O QUE? – ele gritou lá de baixo. Sua voz estava séria, mas ao mesmo tempo brincalhona. Acho que ele estava fingindo que estava bravo.

  – Filha da puta, cala a boca! – ele gritou.

  – Me obrigue.

  – Tá bom.

E saiu correndo atrás de mim.

Desci as escadas pulando dois degraus de vez e passava entre os móveis, quase esbarrando neles, fazendo malabarismo com a cintura para passar em lugares onde eu sabia que ele teria que se contorcer para passar.

  – Você está morta quando eu pegar você!

  – Por que? Só porque agora o papai e a mamãe pensam que você é gay? Que pena, né?

  – Considere-se morta, Mirella.

  – Você ia sentir falta.

  – De você? Claro que não.

  – Aham, tá.

  – Vocês dois não vão vir comer? – minha mãe gritou da cozinha.

  – AHAM! – eu e Gabriel falamos juntos. Comida era sempre prioridade. Se estivermos na pior briga do século e for hora de comer, vamos dar uma trégua e depois continuamos a briga de onde paramos.

Era sempre assim.

Na mesa, estava eu, Gabriel na minha frente e minha mãe e meu pai em pontas opostas.

  – Maria, amanhã vou viajar a trabalho. Você fica com as crianças?

  – Por que não deixa a gente sozinho aqui? – Gabriel perguntou.

  – Porque estão tendo muito assaltos no bairro, Gabriel. – falou minha mãe.

  – Mas tem câmeras!

  – Isso não muda nada – falei

  – Gabriel, fique com Mirella em casa. Tenho que ir para a empresa a tarde. Mudaram meu horário.

  – Mas eu tenho treino de futebol! O campeonato começa semana que vem.

  – Falte amanhã. Não deixe Mirella sozinha.

  – Mas eu tenho 15 anos! – protestei.

  – Não importa. Mesmo se tivesse 89, ainda corre perigo. – falou meu pai – Quando o número de assaltos diminuir, eu deixo vocês aqui sozinhos.

  – Mas pode demorar para diminuir!

  – Sim, e até lá você fica com seu irmão – minha mãe falou.

  – Ficar com Gabriel é a mesma coisa de ficar com uma porta. Se entrar alguém, ele corre primeiro que eu – eu falei e meus pais riram.

Gabriel me chutou forte por debaixo da mesa.

Vai ter troco.

Olhei ao redor da mesa e vi um potinho com amendoins. Peguei um, deixei meu garfo cair propositalmente e quando me abaixei para pegar, coloquei o amendoim na ponta do dedão e dei um peteleco, mirando exatamente naquele lugar nele.

Um segundo depois, ouvi um "FILHA DA PUTA" logo depois a cadeira dele se afastando no momento em que me sentei direito.

Ele estava abaixado com as mãos no meio das pernas e a testa encostada na ponta da mesa, respirando rápido.

  Meus pais caíram na risada e Gabriel me olhou com ódio mortal.

  – Você está fodida comigo.

  – Por que? Sou um amor.

  – Demônio.

  – Gabriel, olha a boca. – advertiu minha mãe.

  – Vou implantar um saco em você e chutar pra ver como é bom.

  – Eu não chutei!

  – O que você jogou aqui?

  – Um amendoim.

Meu pai riu.

  – Mirella. Eu definitivamente te odeio.

  – É recíproco. – ela deu uma piscadela.

  – Chega os dois. Vamos comer. Depois se matem. – meu pai falou.

Terminamos de comer e eu fui para o meu quarto ouvir música e mexer no celular.

Fui para a Galeria e vi que as fotos que eu tinha tirado com o Renato ainda estavam ali. Eu realmente gostei dele... Mas ele só queria me usar. Primeiro, achei que Gabriel estava exagerando, mas vi que não. Só que vi isso tarde demais. Hoje, se um dos dois se verem, são capazes de se matarem.

Talvez eu fale com ele amanhã a tarde. Estou com saudades. Posso ser trouxa, mas ele me faz falta.

Deixei o celular de lado, apaguei a luz e fechei os olhos.

Eu nem podia imaginar o que aconteceria no dia seguinte.



Os Opostos se Atraem? - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora