Capítulo 13 - Nathan

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~Gabriel~

E ela bateu a porta na minha cara. Cerrei a mão em punho embaixo do lençol. A xinguei mentalmente, mas depois respirei fundo.

Calma, Gabriel. Você está no hospital, lembrei a mim mesmo, há máquinas ligadas a você e qualquer alteração fora do normal pode fazer alguma enfermeira maluca aparecer e me sedar. E o que eu queria era ficar acordado, repassando os últimos acontecimentos na mente.

Os últimos acontecimentos... Arregalei os olhos quando a morte da minha mãe me atingiu em cheio. Eu havia me esquecido.

Não vou chorar. Não vou chorar. Não aqui. Já pareço vulnerável o suficiente deitado nessa cama sem poder sair. Chorar já é demais.

Fiquei tão imerso nos pensamentos que me esqueci completamente de Nathaniel, desde que encontrei minha mãe na sala. Nos falamos algumas vezes por telefone, e o maluco disse que mudaria de cidade junto comigo de vez, ou seja, para cá.

Nathaniel, ou Nathan, foi meu colega de cela. A história dele ainda é mais triste do que a minha. Ele era casado, mesmo novo, e amava sua esposa com todas as forças. Mas foi vítima de uma armação. Havia um cara, Rodrigo, que era louco por sua esposa desde o fundamental e simplesmente não acreditou quando os dois se casaram. Alguns anos depois, esse tal Rodrigo reuniu uns amigos e invadiu a casa de Nathan e da esposa, Amanda, quando Nathan não estava. Assim que ele chegou, viu sangue por toda parte. Chamou Amanda mas ela não respondeu, isso causou desespero. 

Ele a encontrou caída na sala sobre uma poça de sangue. Levou 12 facadas na barriga. A primeira reação que ele teve ao cair de joelhos foi  colocar a cabeça dela sobre seu colo enquanto chorava.

A polícia chegou momentos depois. Havia digitais dele, apenas dele, na esposa e na faca que havia sido usada. Como ele não sabia. Não havia sinais de arrombamento, nenhuma atividade fora do comum nas ruas.

Nathan foi preso.

Ele esperava que sua família o apoiasse, ficasse ao lado dele e acreditassem nele, mas não aconteceu. Eles se recusavam a acreditar em provas que não existiam de fato. Havia digitais dele por toda parte, e aquilo bastava para eles.

Nós fizemos amizade logo no começo de tudo. Dividimos nossas experiências e dores, nos amparamos como amigos fazem.

  - Quero me mudar daqui - ele havia dito uma vez. - Nada mais me prende.

Quando fui para a casa da minha mãe, em outra cidade, ele começou a trabalhar e alugou uma casa perto da nossa, assim que saiu da cadeia, dois anos depois de mim. Nossa amizade foi crescendo cada vez mais, e quando eu decidi que voltaria para esta cidade, logo após a morte da minha mãe, ele disse que estava comigo nessa e já veio procurando uma casa para alugar por aqui, e veio antes de mim.

Eu fiquei na casa da minha mãe esperando para saber do que ela havia morrido. Os médicos disseram que iam ligar e eu prometi ligar para Nathan assim que chegasse aqui, para nos encontrarmos. Contando hoje, já fazia  3 dias que ele estava aqui. Esse era o meu segundo, e nem um dos dois eu passei bem.

Bipei uma enfermeira e pedi que ela me deixasse usar o telefone. Ela perguntou quem havia me atendido e eu quase engasguei ao falar o nome de Melissa acompanhado com um "doutora" na frente.

Ela abriu um sorriso e saiu do quarto. Mas que merda está acontecendo? Quando ela voltou, trazia uma espécie de bolsa preta e me entregou.

  - A doutora Melissa disse para entregar isso a você assim que acordasse.

Eu abri a bolsa, era uma espécie de mochila, e lá estavam minha carteira, documentos, celular, dinheiro, e a roupa com a qual eu havia chegado aqui.

Melissa ainda me conhece muito bem. 

  - Agradeça a ela por mim. Posso usar o celular?

  - Claro. Logo traremos o café.

Assenti e ela saiu da sala.

  - Seu idiota, onde se meteu? - perguntou Nathan assim que atendeu - Tô esperando sua ligação faz dois dias!

  - Tô no hospital. Mas relaxa, nada demais. Exagerei com a bebida, só isso.

  - Acho bom não estar morrendo, se não eu mesmo vou aí e termino o serviço.

  Eu soltei uma risada.

  - Não, cara, relaxa. Conseguiu uma casa, né?

  - Sim. Tá tudo certo. Começo o trabalho amanhã. Em que hospital você tá? Vou aí te dar uns tapas.

  - Naquele perto da funerária - engoli em seco. - Passa em casa, pega umas roupas para mim?

  - E a chave?

  - Deve ter uma embaixo do carpete. Tira o piso e está dentro da caixinha. Mas você vai ter que pular o portão!

  - É  baixo e tem uns negócios que dá para fazer de apoio. O máximo que vai acontecer sou eu parar aí com você, todo quebrado.

  - Ainda faz piada. Anda, vai.

  - O que ganho com isso?

  - Um abraço?

  - Não, você precisa esfriar essa cabeça. Uma garota me mandou mensagem e você vai sair comigo, com ela e com uma prima dela, amiga, sei lá, na semana que vem. Sem furos. 

  - Que isso, já tá passando o rodo?

  - Não começa. 

  - Fechado.

  - Te vejo em 20 minutos.


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U.U ESSA "GAROTA" VOCÊS SABEM MTO BEM QUEM É.


Os Opostos se Atraem? - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora