Capítulo 4 - "Você está convidado..."

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~Melissa~

10 ANOS DEPOIS

Reviver memórias às vezes pode fazer bem. Outras vezes não. Na verdade, às vezes nem chega perto de fazer bem. Mas mesmo assim somos obrigados a encostar a cabeça no travesseiro e pensar: E se eu tivesse feito aquilo?

Era o que estava acontecendo comigo esta noite.  Bella já havia ido dormir, meu noivo havia acabado de mandar boa noite, e eu estava em meu quarto à penumbra, olhando para o teto e para os lados apenas tentando tirar da minha cabeça aquele amor adolescente que não saía do meu coração. 

Quem eu estava querendo enganar? Eu não queria tirar ele da minha cabeça, apenas achava errado estar de casamento marcado e continuar pensando nos amores impossíveis e "verdadeiros" da adolescência. Corrigindo: o amor.

Eu estava com quase 27 anos, tinha uma filha de 10, que graças a Deus não fica perguntando todos os dias onde está o pai dela. Pai esse que nem sabe da existência de Bella. Todas as vezes que ela pergunta, eu simplesmente dizia que estava viajando, e que não sabia se iria voltar.

Mentir era a única opção no momento. Mas não menti completamente. Algo me dizia que nós iríamos nos ver novamente. Muito em breve. Eu só não sabia o que faria quando isso acontecesse.

Ainda guardo o desenho que peguei da casa de Gabriel a última vez que fui lá. Sim, aquela foi a última vez que pisei lá. Que vi sua casa, seu quarto, as coisas de Mirella.

Quando Gabriel foi condenado, meu pai achou justo ligar para a mãe dele. Contatou a tia e conseguiu o celular de dona Maria, e lhe deu a pesada notícia. Ela, de alguma forma, sabia sobre mim, e acabou pedindo o meu telefone para o meu pai. Como eu nunca havia falado com ela na vida, fiquei meio desconfortável da primeira vez que ela me ligou, mas sua voz jovial e seu jeito acolhedor acabaram com minha paranoia.

Uma das primeiras coisas que ela havia me dito foi que quando viu o filho pela última vez, percebeu um olhar brilhante em seu rosto, um jeito mais aberto de se comunicar, viu um garoto carinhoso que havia sumido por mais de dois anos e sabia que havia uma garota por trás disso. Ela me contou que Gabriel falou de mim, que me elogiou e falava meu nome quase suspirando. Contou que ele não conseguia descrever o que sentia por mim, e havia voltado mais cedo de viagem, pois eu não estava respondendo suas  mensagens, já que havia descoberto sobre seu passado.

"Eu soube que ele a amava assim que tocou no seu nome. O modo como ele pronunciava, como se fosse uma relíquia. Naquele momento, eu tive certeza de que você era uma pessoa especial demais, Melissa. Naquele momento eu percebi que ele nunca deixaria de te amar e agradeci aos céus pelo meu filho ter achado alguém que o ajudou a se desviar do mal caminho para o qual ele estava indo." - ela me disse na ligação. Fazia mais de um mês que ela me ligava pelo menos uma vez por semana e nós ficávamos conversando não só sobre Gabriel, mas ela me contava como havia sido sua infância, como havia conhecido Rodrigo, o pai de Gabriel, onde haviam se casado. Eu ouvia tudo atentamente e ria  de suas piadas. Ela tinha um senso de humor incrível, mesmo com câncer na faringe e um pequeno tumor no cérebro. 

Por incrível que pareça, ela me disse que ainda tem contato com Rodrigo. Disse que nada justificava sua partida, mas a morte da filha havia sido um choque para a família toda. Rodrigo queria se reaproximar de Gabriel naquela época, mas Maria havia pedido para ele esperar um tempo. Havia saído da vida do filho do nada, e agora queria voltar do nada? Não faria sentido, e o jeito explosivo de Gabriel não deixaria isso acontecer tão fácil.

Anos foram se passando, eu acabei indo visitá-la várias e várias vezes e acho que Gabriel nunca soube disso. Maria ficou sabendo da netinha e chorou de alegria, pois pensou que partiria sem ver o filho ser pai. Mas eu percebi a decepção em seus olhos quando disse que Gabriel não sabia e nem iria saber sobre ela.

E todo esse tempo, Gabriel estava na prisão.

E hoje, 10 anos depois, ainda falo com ela. Semana passada, ela ainda me ligou. Mês passado veio ver Bella. Sua voz está menos jovial, mas seu humor ainda não mudou. Já estou esperando seu telefonema dessa semana, que por sinal está demorando a chegar.

Talvez eu ligue para ela amanhã.

E sim, no dia seguinte, acabei ligando para ela. Mas ninguém atendeu. E quando saí de casa, um dos muitos papeis colados no poste perto de casa me chamou a atenção.

Era um convite de velório, como muitos que eu já havia visto. Mas dessa vez, o nome que estava nele fez meu coração parar de bater.



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E É CLARO QUE EU NÃO VOU REVELAR O NOME HOJE

Os Opostos se Atraem? - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora