Não. Não. Não. Ele não está aqui.Gabriel me fitou, mas eu virei meu rosto, só então percebi que havia parado de respirar. Por que estou gelada?
- BRUNNA, SUA FILHA DE UMA PUTA, ABRE ESSA PORRA! - gritei enquanto esmurrava a porta.
- Não! Vocês dois têm muito o que conversar! - ela disse do outro lado.
- EU TÔ FALANDO SÉRIO, ME TIRA DAQUI!
- Gabriel, cara, toma coragem, vai - disse Nathan e eu olhei de rabo de olho para o Gabriel.
Por que ele continua me fitando?
Me lembrei de que estava sem blusa. Que se dane. Para fazer uma filha, ele teve que ver bem mais do que só um sutiã de renda.
- BRUNNA, PELA ÚLTIMA VEZ, ME TIRA DAQUI, EU NÃO TÔ BRICANDO!
- Nem a gente. - ela riu - Está na hora de vocês dois deixarem de ser cegos. Quando isso acontecer, eu e Nathan estamos aqui esperando para abrir a porta.
Ouvi os passos deles se afastando.
- Brunna!!!!
Nada.
Bufei e me sentei no chão com a blusa em cima de mim.
Gabriel deu um pequeno sorriso.
- Tá rindo de quê?
- Você não mudou nada.
Engoli em seco. Eu não sabia se ele havia mudado em alguma coisa. Mas os traços de seu rosto eram os mesmos. Ele ainda não havia tirado a barba. Estava rala, o que o deixava com um aspecto mais maduro.
- Talvez. - dei de ombros.
- Vai mesmo ser assim? - ele falou - Esse lugar deve fechar umas dez da noite. Se der na telha de Nathan prender a gente aqui até lá, ele vai fazer isso. - ele se ajoelhou na minha frente. Foi então que percebi que havia chocolate em sua blusa.
Brunna e Nathan armaram para cima de nós dois. Exatamente do mesmo jeito, e nós caímos como patinhos.
- Você é o tal amigo dele? - falei
- Ele é quase um irmão para mim. - ele disse se recostando à parede ao meu lado. - Você é a tal amiga da Brunna?
- Ela é minha prima.
- E por que eu nunca a conheci?
- Porque ela morava na Califórnia. Veio para cá quando soube da minha gravidez. Ela é como uma irmã.
Engoli em seco e percebi que ele havia feito o mesmo. Havia me esquecido de que eu havia adquirido esse hábito com ele.
- Humm... - ele murmurou. - Eu te vi no... Enterro. Acho que falei com sua filha.
Fingi uma tosse. Era ele. Eu sabia que era ele!
- Ela me disse.
- O que você estava fazendo lá, afinal?
- A confundi com uma paciente minha - limpei a garganta - Uma que eu não sabia o nome direito. Fui lá para confirmar. Não fiquei né dez minutos.
Ele sorriu.
- Você ainda não sabe mentir.
- Eu sei muito bem, tá? Quer dizer, não é mentira!
- Tá, tá - rolou os olhos - Pode fingir se quiser. Não faz diferença, ela já se foi.
Percebi a dor na sua voz. Até aquele momento eu não o havia olhado nos olhos, então o fiz.
Azuis. Pensei que encontraria algum vestígio que o tempo teve sobre ele, um azul mais apagado, qualquer coisa. Mas ainda eram os mesmos olhos azuis vívidos de quando ele tinha 17 anos.
De quando tudo aconteceu.
- Ela sentia orgulho de você, Gabriel - falei. - Eu tenho certeza.
- Orgulho? De mim? Por quê?
- Porque você enfrentou tudo o que teve pela frente. Claro que fez umas merdas, mas continuou firme. Duro na queda. Você sempre foi assim.
- Como tem tanta certeza? - ele me olhou desconfiado.
- Será que pode confiar no que eu falo pelo menos uma vez? - alterei um pouco a voz.
- Como assim "pelo menos uma vez"? Quando foi que eu não confiei em você?
- Quando eu disse que te amava. Duvido que você acreditava, quis se livrar de mim tão fácil.
- O que?! Me livrar de você? O que você tem na cabeça, Melissa?!
- Então por que me mandou embora? - me levantei e fiquei na sua frente. - Por que achou melhor que a gente terminasse?! Por que não me quis mais? - eu gritei.
- Eu não te quis mais? Desde quando?! Quando eu te mandei embora, eu estava pensando em você, porra!
- Ah, claro - fingi uma risada - Que pena, não acredito.
E lá estávamos nós, brigando de novo!
- Mas que caralho, Melissa! - ele deu um murro na porta. - Você não tinha que me ver na porra da delegacia todo dia, você não merecia isso! Tinha uma vida toda pela frente, tinha que viver, tinha liberdade!
- Liberdade?! Você tirou minha liberdade quando eu tinha 16 anos. Gabriel!!!
- O quê?!
Eu me calei. Não iria contar. Prometi a mim mesma que não iria contar.
Me encostei na parede; os olhos com lágrimas.
- Você podia ter tentado - falei baixo - Nunca perguntou o que eu queria... Só me mandou embora. Eu estava tão chocada, que só concordei. Mas eu te esperei, Gabriel. Eu te esperei sair de lá. Quando fui te procurar, você já havia se mudado e o tempo foi passando... E... - eu mordi o lábio e olhei para baixo. Não posso chorar.
- Hey... - ele sussurrou. Chegou perto de mim e colocou suas mãos na parede, me prendendo entre ela e ele. - Você acha que eu não te amava? - roçou os lábios em meu ouvido - Você acha que eu não sabia o que você sentia por mim?
Virei o rosto e ele pegou meu queixo delicadamente, me virando para ele, como fazia nos velhos tempos.
- Eu te amei, sim, Melissa. Eu juro que é verdade. Aquele foi o segundo pior dia da minha vida, quando te deixei. Eu peguei tudo o que eu sentia e coloquei num lugar onde eu não pudesse mexer. Caso contrário, eu nunca seguiria em frente. Mas aí você apareceu de novo - ele sorriu e uma lágrima escorreu por seu rosto rapidamente - Toda mandona, mal humorada quando acaba de acordar, pavio curto e birrenta.
Sorri.
- Mas foi por essa garota que me apaixonei. - ele disse baixo, como se contasse um segredo e me fez amolecer.
Ambos estávamos de olhos fechados. Sua boca estava próxima a minha é suas duas mãos já estavam em minha cintura.
Me esqueci de como ele era rápido com isso.
- Tem uma coisa aqui no seu rosto... - ele disse baixo e eu levantei a mão e a coloquei em minha bochecha.
- Onde?
Tudo não passava de sussurros. Meu coração batia forte. Eu sabia que se colocasse a mão em seu peito, sentiria seu coração acelerado demais.
- Aqui...
E foi nessa mistura de respirações e batidas perdidas que ele acabou de vez com o espaço que havia entre nós.
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Os Opostos se Atraem? - Livro 2
Fiksi RemajaDepois de conhecer Gabriel, a vida de Melissa mudou de um dia para o outro. Quase sete meses depois, ela nunca imaginaria que poderia perdê-lo de repente. Esse casal havia passado por coisas demais, coisas ruins demais, e não valia mais a pena conti...