- Oi, peste! - ela entrou em casa e me abraçou - Fala, por que você precisa da conselheira aqui?
- Senta aí, que lá vem história. - falei e me joguei no sofá.
- Espera. Estou com fome. Tem pizza? - falou indo para a cozinha.
- Por que teria pizza no fim da tarde?
- Sei lá. Você é meio doida. Vai Nutella mesmo. - ela veio com um pote e duas colheres e se sentou do meu lado.
- É da Bella. Só avisando - ri. - E ela vai te matar.
- Nem vai. Se eu cumprir a promessa de dormir uma noite com ela, ela me perdoa.
- Faz um ano que você prometeu isso. E faz um ano que ela te cobra.
- Realmente - colocou a colher na boca e a tirou - Cara, isso é muito bom. Mas vai, desembucha.
- Okay, sabe aquele garoto que te falei?
- O gostosão que te engravidou? - deu mais uma colherada
- Sim - rolei os olhos.
- Tenho uma leve impressão de que a Bella conversou com ele hoje.
- O quê? - ela me olhou estática.
- No velório da mãe dele. Eu fui. Bella insistiu para vir comigo. Eu sabia que ele podia estar lá, mas não o vi a princípio. Bella saiu de perto de mim, e eu a vi conversando com um rapaz alto e loiro. Quando eu a chamei e me aproximei, ele se foi. Não sei se me viu.
- E só existe o Gabriel de olhos azuis e loiro?
- Não, idiota, eu estava no velório da mãe dele, entendeu? As chances só aumentam. Bella disse que ele tinha olhos azuis iguais aos dela, e ela é o tipo de garota que falaria algo como "Ele tem olhos azuis mais escuros/ mais claros do que eu". Bella é bem observadora, você sabe.
- Tá, isso é verdade, porque no dia do aniversário de 6 anos dela, ela me olhou e disse que eu estava sem calcinha. Isso é porque eu estava de roupa preta.
- E você estava sem calcinha? - levantei uma sobrancelha.
- Sim. - ela riu - Matt havia rasgado a minha. A gente estava na casa dele um pouquinho antes da festa.
- Não entendi por que terminaram.
- Longa história. Continua.
- A questão é: Bella tem exatamente o mesmo tom dos olhos de Gabriel. Nada muda. Ele é o único cara com olhos azul piscina meio escuros que eu conheço.
Brunna não disse nada por um tempo.
- Tá, tudo bem. O que eu tenho a fazer é te perguntar: E se for ele?
- Eu não sei. Se for, ele falou com a filha sem saber, se não for, ainda não sei onde ele está.
- Ele tinha a tal tatuagem? Esse cara tinha a tatuagem que o Gabriel tem?
- Não sei, ele estava de camisa.
- Que pena, podia estar sem.
- O animal, estou falando camisa, tipo camiseta de manga. Não dá para ver. - encolhi as pernas no sofá. - Que. Merda.
- Que merda. Uma merda bem grande. Mas, sabe, Mel, acho que ele tinha que saber. É filha dele. Filho é uma coisa que não dá para desfazer, ele tem que aceitar. Talvez até goste.
- Ele tem uma vida muito instável, Bruh. Tinha, pelo menos. Não sei como está agora. Em um segundo ele está sorrindo para você, e no outro ele pode estar cortando o último fio da corda que te impede de cair para a morte. Esse é o Gabriel. Bipolar.
- E você sempre odiou garotos assim. - ela afirma.
- Sim. Sempre. Mas... ele tem uma coisa... Tinha uma coisa que me fazia... Não sei. Ir para perto dele sempre, ficar com ele e querer mais... Difícil explicar.
- Amor. É bem assim.
- Nem me fale.
- E Renato? Como ele está?
- Estressado por causa da editora. Parece que tem uma funcionária lá que não está trabalhando direito, é complicado - suspirei.
- Brigando muito?
- O de sempre: às vezes. Casais brigam.
- Sim. Brigam.
Ficamos em silêncio um tempinho.
- Mel, eu tenho uma coisa para contar.
- Medo. - a olhei - Fala.
- Conheci um garoto.
- Novidade - rolei os olhos e ela jogou uma almofada em mim.
- Tô falando sério. - ela riu - Nathan, apelido de Nathaniel. A gente se conheceu duas vezes.
A olhei sem entender.
- A primeira foi quando eu estava no parque tomando um sorvete que minha TPM tanto pediu, e vi ele passando. Aí o telefone dele caiu do bolso do jeans, e ele nem viu. Saí correndo e entreguei, aí ele sorriu ela se encostou no sofá sonhadora - E que sorriso...
Eu ri.
- Idiota.
- A segunda foi quando eu estava saindo do trabalho, lá do escritório, ontem. Saí mais tarde porque fiquei lendo um manuscrito, e ouvi alguém me seguir. Dava para perceber que era um cara, então eu comecei a correr. Quando olhei para trás para ver se ele ainda estava vindo, trombei com alguém. E era ele, o Nathan. Ele percebeu o que estava rolando e perguntou para o cara: "O que está fazendo com minha irmã?" num tom de ameaça. O cara se virou e foi embora, então o Nathan me acompanhou até em casa e trocamos telefone. Conversamos um pouco hoje. Só quero ver no que vai dar.
- Já arranjou um herói? - sorri.
- Estou até pensando na fantasia de qual heroína vou usar para ele quando estivermos no motel.
- Meu Deus, Brunna! - eu gargalhei.
- Estou brincando. Ele é... diferente.
- Sei - rolei os olhos. Meu telefone começou a tocar - Alô?
- Doutora Melissa, trocamos o seu plantão para hoje.
- Que horas?
- Precisamos da senhora aqui agora! Acabou de chegar um paciente à beira do coma alcoólico. Vou mandar a equipe prestar os primeiros socorros o mais rápido possível e esperar suas ordens.
- Me dê 5 minutos. - falei me levantando e desliguei o celular
- Hospital de novo? Mas eu nem acabei de contar!
- Bruna, chegou o dia de cumprir sua promessa com Bella. As amiguinhas dela vão vir, não posso desmarcar. Durma aqui com elas, pegue minhas roupas se quiser. A casa é sua. - enquanto eu falava, fui fechando o casaco e colocando os sapatos. Soltei o cabelo.
- Virei babá?
- Por hoje sim. A gente marca de sair depois. Tem um cara que acabou de chegar no hospital, está à beira do coma. Não quer que eu assista ele morrer, quer?
- Quer saber minha resposta?
- Tchau, Bruh, se comporta. Elas são só crianças. O Vinícius vai trazer elas, até amanhã.
- Até, né.
Saí correndo de casa, arranquei o carro cantando pneus em direção ao hospital, imaginando quem seria o idiota que bebeu até quase morrer no meio da tarde e se ele tinha um motivo forte o suficiente para fazer isso.
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Os Opostos se Atraem? - Livro 2
Teen FictionDepois de conhecer Gabriel, a vida de Melissa mudou de um dia para o outro. Quase sete meses depois, ela nunca imaginaria que poderia perdê-lo de repente. Esse casal havia passado por coisas demais, coisas ruins demais, e não valia mais a pena conti...