Os Opostos se Atraem? - Livro 2

Capítulo 61 - Milagre

"Eu só estou tentando me lembrar de como é sentir o coração batendo" – Two Ghosts, Harry Styles

A notícia me atingiu como um tiro.

Senti meu subconsciente tomar conta de tudo, e de repente, eu estava ligada no piloto automático. Lágrimas caíam, mas eu não as via. Gabriel dizia algo, mas eu não escutava. Miguel me disse algo, mas não respondi. Meu coração batia, mas eu não sentia.

Acabei de morrer um pouco.

  – Melissa? – Miguel chamou.

Levantei meus olhos de robô para olhá-lo nos olhos.

  – O caso de Bella é urgente demais. Por favor, não se perca, ok? Ela precisa de você aqui.

Assenti.

  – Precisamos de um doador urgente. Consigo colocar ela no primeiro lugar de uma lista de espera, por ser uma criança e por ter contatos para isso. Não é certo... Mas, eu não posso deixar ela morrer.

E de novo aquela palavra. Aquela maldita palavra.

Morrer.

  – Me deixe ver ela, Miguel... – pedi. Na verdade, supliquei.

Era minha menina que estava lá dentro, eu precisava estar com ela.

  – Venha, então. Mas, não por muito tempo, ok? Eles a estão costurando de volta.

O ar deixou de entrar em meus pulmões por um tempo.

Me levantei, e segui Miguel até a sala de cirurgia. Lá, coloquei a touca, a máscara, lavei as mãos e ele colocou as luvas e o avental em mim.

Entramos.

Bella estava branca como o papel, deitada na mesa com os cabelos presos dentro de uma touca descartável. Alguns fios rebeldes estavam para fora.

Sua cabeça pendia para o lado esquerdo, e havia um tubo de oxigênio ligando sua boca à máquina. Os olhos fechados. Um dos internos estava costurando seu peito.

  – Fiz um corte pequeno bem no meio do peitoral para vermos o coração e os ventrículos, nada grande demais. – Miguel me disse.

Minha máscara absorvia as lágrimas que escorriam dos meus olhos.

  – Não te chamei antes, Melissa, me desculpe. Achei que seria coisa demais para você de uma vez só. Mas... Pode acompanhar a cirurgia dela se quiser. Você é medica.

Assenti.

Não sabia se acompanharia. Não sabia se era demais para mim ver minha menina sendo aberta ali, bem na minha frente.

Voltamos para a sala.

Joguei a máscara e as luvas no lixo. Miguel ficou com meu avental. Me sentei ao lado de Gabriel.

  – Como foi? – ele perguntou.

  – Horrível – sussurrei.

  – Precisamos urgentemente de um doador. – Miguel disse – Pensei que ela aguentaria mais um tempo, só que o estado é crítico demais. Um esforço a mais que ela fizer, as paredes dos ventrículos se rompem.

  – E ela morre. – falei.

  Miguel assentiu.

  – Eu disse a Melissa que ela pode acompanhar a cirurgia na semana que vem, se quiser. Nós nunca permitimos pais dentro da sala cirúrgica, mas nesse caso, podemos abrir uma exceção.

  – Como sabe que vai ser semana que vem? – Gabriel perguntou.

Miguel levantou os olhos e eu senti o peso de suas palavras.