Eu estava no andar debaixo, pronta para ouvir a qualquer momento sons de socos, gritos, destruição de móveis e o alarme de incêndio da casa soando.
Mas, não houve nada disso.
- Mãe, o que tá fazendo aqui embaixo? - Bella entrou na sala.
- Seu pai está conversando com o...
- Com o Renato - ela rolou os olhos - O filhote de pônei estragado. Eu vi ele entrando. O que eles estão conversando?
- Eles brigaram. Vão resolver.
- Não vão sair no soco?
- Acho que hoje não.
Ela suspirou. Ao analisar melhor seu rosto, percebi que ela estava um pouco pálida.
- Bella, você está bem?
Ela assentiu.
- Tem certeza? - coloquei a mão em sua testa.
Gelada. Sem febre.
- Tenho, mãe. Vou lá com as meninas, tchau.
E saiu.
- E você fez amizade com ele depois disso? - ouvi a voz de Renato e olhei para cima. Ele e Gabriel desciam as escadas conversando.
- Nathan é meu melhor amigo até hoje. Ele está aqui em casa. - falou Gabriel.
Eu rapidamente peguei meu celular é fingi mexer nele enquanto os dois passavam por mim.
- Estão vivos? - perguntei.
- Sim, Renato escolheu morrer a base de prestações. - Gabriel riu.
- Depois eu deixo vc me pagar. - disse Renato.
Era bom vê-los assim. Parecia tão surreal, que a qualquer momento as câmeras poderiam surgir e todos gritar: Foi uma pegadinha!
Mas isso não aconteceu nas próximas duas horas em que a festa se seguiu.
Todos foram embora mais ou menos umas 18:30. Havíamos conversado tanto, que poderíamos ficar sem nos encontrar por 5 anos para termos assunto de novo.
- O dia foi cheio - falei - Estou doida para me jogar na cama.
- Não vai se jogar, não senhora. - ele disse enquanto colocava as cadeiras no lugar.
- É modo de dizer.
- Mesmo assim, agora eu sei que a bolsa não pode estourar, mas eles ainda podem morrer se você fizer alguma coisa.
Eu me calei. Gabriel não tinha dito nada além de verdades, eu sabia. Mas, o modo como ele tinha falado foi meio diferente. Como se esperasse que alguma hora eu fizesse algo idiota e perdesse os bebês.
Ele não disse "perder", ele disse "morrer".
- Abortos também acontece de forma natural. Sem que a mãe tenha feito nada. Não sabia disso?
- Sabia. Mas, não precisa chegar a fazer algo, não é, Melissa? Não precisa dar mais um motivo para eles morrerem.
E de novo essa palavra. Morrer.
Havíamos mudado de assunto tão rápido, que eu nem estava acompanhando direito.
Morrer.
Uma lâmpada de acendeu em minha cabeça quando notei o motivo que ele falava tanto essa palavra.
Muitas pessoas na vida de Gabriel morreram. Tanto em sua família, quanto ao redor dela. Os gêmeos são duas vidas a mais que vão chegar, e quando ele pensa no risco da gravidez de gêmeos, que são bem maiores do que uma gravidez normal, ele não consegue usar a palavra "perder".
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Os Opostos se Atraem? - Livro 2
Teen FictionDepois de conhecer Gabriel, a vida de Melissa mudou de um dia para o outro. Quase sete meses depois, ela nunca imaginaria que poderia perdê-lo de repente. Esse casal havia passado por coisas demais, coisas ruins demais, e não valia mais a pena conti...