Capítulo 8

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Santiago narrando:

Estou muito feliz pela minha sobrinha, a sério que estou, ela sempre quis ser uma Escolhida e para além disso ainda tinha o bónus de estar com a India três vezes por semana. Eu entendo que ela esteja entusiasmada e incrivelmente falante demais para o meu gosto, juro que entendo, mas já não suporto ouvi-la muito mais.

- Ela disse que a gente vai ter um casaco e t-shirt dos Escolhidos - Melanie fala, batendo palmas de excitação, toda feliz da vida. - Eu já os vi e eles são demais da conta! Mal posso esperar por contar à tia Seara.

Eu aceno focado na estrada e só reparo no silêncio que se faz ao ouvir o barulho do pisca, quando faço uma curva para esquerda. Finalmente algum sossego, penso.

- Tio?

Era bom demais para ser verdade.

- Sim? - Respondo.

- Você ainda está triste por causa da Teresa? - Ela pergunta com cuidado, a voz não mais alta que um sussurro.

Suspiro. - Estou mais triste com o que a sua avó falou, Mel - admito.

- Eu não gosto de ver você triste - ela sussurra, olhando pela janela do lado dela. - Você devia esquecer o que aconteceu com a Teresa. Como pode seguir em frente se continua tão preso a ela? - E volta os olhos para mim.

- Não é tão fácil assim...

- Porque não?

- Foi muito tempo com ela, Mel. Estivemos juntos quase tanto tempo quanto o tempo que você tem - faço um cruzamento à direita e desligo o pisca depois de entrar. - São muitas memórias, muitas coisas passadas juntos, não é fácil esquecer isso.

- Mas você ainda gosta dela?

- Sinceramente, eu não sei - desvio meu olhar para ela por um momento. - Não sei - repito.

Vejo a propriedade dos meus pais ao longe, vedada e escondida por palmeiras e árvores altas e frondosas e minha vontade é de dar meia volta e sair dali. Não sei como vou encarar minha mãe depois da nossa discussão e não estou com vontade de ser o alvo dos olhares piedosos do resto da família. Já estou farto disso.

Abro o portão com o comando e entro no acesso da casa, considerando minhas opções e já decidido a não participar do que resta daquele jantar de fantasia.

Páro o carro ao lado dos outros e espero que a Melanie desça. Ela abre a porta e começa a sair, mas quando repara que eu não faço nenhum movimento para deixar o carro, ela pára.

- Você não vem?

Abano a cabeça. Ela fica me olhando por um bocado, depois se chega a mim e me abraça com força.

- Eu falo para tia Seara que você está bem - fala depois de me soltar. - Não vá fazer nenhuma doidice, tio.

- Quando é que você vai aprender a se comportar como uma menina da sua idade e não como uma adulta? - Pergunto com um sorriso.

- Mas eu me porto como uma garota da minha idade - ela replica. - Vim chateando você durante todo o caminho, como uma verdadeira adolescente que sou.

- Ah, você estava me chateando de propósito?

- Não, eu estava e estou mesmo muito entusiasmada - e solta um gritinho. - Ainda nem acredito que sou uma Escolhida!

- Eu disse que você tinha hipótese de conseguir, agora não demora mais a entrar antes que sua avó tenha um ataque.

- Tá bom - ela começa a sair do carro e pára de novo, se virando para mim e me olhando de uma forma estranha.

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora