Santiago narrando:
Estou muito feliz pela minha sobrinha, a sério que estou, ela sempre quis ser uma Escolhida e para além disso ainda tinha o bónus de estar com a India três vezes por semana. Eu entendo que ela esteja entusiasmada e incrivelmente falante demais para o meu gosto, juro que entendo, mas já não suporto ouvi-la muito mais.
- Ela disse que a gente vai ter um casaco e t-shirt dos Escolhidos - Melanie fala, batendo palmas de excitação, toda feliz da vida. - Eu já os vi e eles são demais da conta! Mal posso esperar por contar à tia Seara.
Eu aceno focado na estrada e só reparo no silêncio que se faz ao ouvir o barulho do pisca, quando faço uma curva para esquerda. Finalmente algum sossego, penso.
- Tio?
Era bom demais para ser verdade.
- Sim? - Respondo.
- Você ainda está triste por causa da Teresa? - Ela pergunta com cuidado, a voz não mais alta que um sussurro.
Suspiro. - Estou mais triste com o que a sua avó falou, Mel - admito.
- Eu não gosto de ver você triste - ela sussurra, olhando pela janela do lado dela. - Você devia esquecer o que aconteceu com a Teresa. Como pode seguir em frente se continua tão preso a ela? - E volta os olhos para mim.
- Não é tão fácil assim...
- Porque não?
- Foi muito tempo com ela, Mel. Estivemos juntos quase tanto tempo quanto o tempo que você tem - faço um cruzamento à direita e desligo o pisca depois de entrar. - São muitas memórias, muitas coisas passadas juntos, não é fácil esquecer isso.
- Mas você ainda gosta dela?
- Sinceramente, eu não sei - desvio meu olhar para ela por um momento. - Não sei - repito.
Vejo a propriedade dos meus pais ao longe, vedada e escondida por palmeiras e árvores altas e frondosas e minha vontade é de dar meia volta e sair dali. Não sei como vou encarar minha mãe depois da nossa discussão e não estou com vontade de ser o alvo dos olhares piedosos do resto da família. Já estou farto disso.
Abro o portão com o comando e entro no acesso da casa, considerando minhas opções e já decidido a não participar do que resta daquele jantar de fantasia.
Páro o carro ao lado dos outros e espero que a Melanie desça. Ela abre a porta e começa a sair, mas quando repara que eu não faço nenhum movimento para deixar o carro, ela pára.
- Você não vem?
Abano a cabeça. Ela fica me olhando por um bocado, depois se chega a mim e me abraça com força.
- Eu falo para tia Seara que você está bem - fala depois de me soltar. - Não vá fazer nenhuma doidice, tio.
- Quando é que você vai aprender a se comportar como uma menina da sua idade e não como uma adulta? - Pergunto com um sorriso.
- Mas eu me porto como uma garota da minha idade - ela replica. - Vim chateando você durante todo o caminho, como uma verdadeira adolescente que sou.
- Ah, você estava me chateando de propósito?
- Não, eu estava e estou mesmo muito entusiasmada - e solta um gritinho. - Ainda nem acredito que sou uma Escolhida!
- Eu disse que você tinha hipótese de conseguir, agora não demora mais a entrar antes que sua avó tenha um ataque.
- Tá bom - ela começa a sair do carro e pára de novo, se virando para mim e me olhando de uma forma estranha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Encarar É Feio
RomanceOdeio que me encarem. Podem me olhar dentro do limite da educação, podem tirar foto para ver mais tarde ou até "googlar" India de Portillo e pesquisar o que quiserem. Podem fazer tudo isso, desde que não me encarem em pessoa, como se eu fosse o hom...