Capítulo 37

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[Não gosto de ser spoiler, mas também sei que esperaram muito tempo por esse momento e por isso não resisti a pôr esta foto. Boa leitura 😉]

India narrando:

- Porra.

É única palavra que me sai da boca, num tom seco de quem está completamente ferrado, assim que verifico a caixa de entrada do meu endereço de email pela primeira vez ao fim de um mês e alguns dias.

Vou deslizando o cursor do rato para baixo e os emails por ler parecem não ter fim. Desde assuntos com "urgente" em capitulares, "muito importante" em maiúsculas, "India estou ficando preocupada" e mais variações do mesmo, até publicidade desnecessária. Há de tudo na minha caixa de entrada.

Começo a sentir aquela familiar ansiedade, quando o trabalho exigido de mim é superior ao tempo que tenho para concretizá-lo. Afinal de contas há uma razão para eu checar meu email todos os dias, pelo menos duas vezes por dia. Os emails para mim chegam como se fossem chuva em tempo de monção e nem o período de festas de Natal e celebração do ano novo, foram suficientes para o impedir.

- Que droga! - Jogo as mãos à cabeça. - Como é suposto eu responder a tudo isso em tempo útil?

Tenho vontade de arrancar meus cabelos fora. E isso é só uma amostra do trabalho que ficou por fazer, nem quero imaginar na papelada que deve estar parada no estúdio, necessitando da minha autorização. De qualquer forma, a Carla ficou de passar cá para me pôr a par de tudo, pelo que prefiro não me preocupar com isso já e me afasto um pouco do Gmail, abrindo o Twitter num novo separador. Meus nervos já estão em franja e ficam ainda pior assim que a página carrega.

- Ó. Meu. Deus - ofego quando descubro o hashtag #where'sIndia no meu feed e fico louca da vida com todas as suposições que me aparecem à frente.

Foi só um mês! O raio de um mês e eles já agem como se eu tivesse sido raptada, espancada até à morte e desmembrada, com as partes congeladas e guardadas numa arca frigorífica de um talho qualquer, para depois serem vendidos para uso culinário alheio. Sei que na internet, um mês equivale a muitos meses sem postagens, mas ainda assim isso não se justifica!

- Ouço você ofegando e suspirando desde lá de baixo - comenta o Santiago, entrando no escritório, carregando um tabuleiro com o suco de laranja e cenoura que nós acabamos não bebendo. Reparo também nuns biscoitos que ele provavelmente trouxe da mercearia, para onde foi enquanto eu tomava duche e me compunha logo depois do café da manhã.

Não é que estejamos propriamente com fome, já que tomámos o café da manhã faz pouco tempo, mas fico tão ansiosa com as teorias do meu desaparecimento que lanço logo a mão a um biscoito.

- Eu não sei o que há de errado com essa gente? - Vocifero, gesticulando com o biscoito na mão. - Passei a porra de um mês fora da indústria e é como se voltasse para o fim do mundo. Essa caixa de entrada parece a droga do Armagedão! E tenho o Twitter a abarrotar de tweets sobre mim, como se tivesse sido abduzida por aliens. Aposto que quando qualquer um deles fica doente, não têm o mundo conspirando teorias sobre isso. Até parece que não tenho o direito de estar mal. Sou humana também, por amor de Deus!

Atiro o biscoito para o prato, sem nem tocar nele e tapo a cara com as mãos, pousando os cotovelos na mesa e dou um suspiro longo. Que droga! Ainda por cima tinha ficado a meio de reuniões pelo Skype com a Eve, minha manager em L. A., por causa do tour que precisava ser organizado para o início deste ano. Nem tínhamos chegado a confirmar os locais e só de pensar no que falta fazer tenho vontade de me enfiar na cama, tapar a cabeça com as cobertas e nunca mais sair.

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora