Capítulo 24

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Santiago narrando:

Deveria ter adivinhado que guardar as minhas mãos enquanto estou dormindo não é algo possível no que diz respeito a mim. Dessa vez eu simplesmente não sei o que foi, não sei quando, nem como, só sei que quando acordei estava completamente aninhado a ela, com as mãos em todo o lado, menos guardadas para mim como ela fez questão de pedir.

Meu braço continua debaixo da sua bochecha e ainda não me veio nenhuma ideia brilhante à cabeça de como tirá-lo de lá sem que ela acorde e se aperceba. Estou pensando nisso quando ouço o toque estridente do meu celular, me assustando. Mas que sentido maravilhoso de oportunidade.

A India não acorda de primeira, mas começa a remexer-se e a dar aqueles resmungos de alguém que não quer acordar, mas que está prestes a fazê-lo. O celular continua a tocar em cima da mesa de cabeceira, sem dó nem piedade e eu tento alcançá-lo sem tirar meu braço debaixo dela abruptamente. Quando lá consigo desligar o despertador, sinto-a mexer ao meu lado. Ela levanta um pouco a cabeça e olha para o meu quarto, meio confusa, olha para o meu braço perto da sua cara e acaba se sentando lentamente na cama, limpando o canto da boca com as costas da mão. Ela permanece encarando meu braço que continua exatamente na mesma posição. Olho também.

- Babei seu braço - fala por fim, seus olhos vagueando do braço para mim e de mim para o braço. De facto reparo num ponto aguado e brilhante lá, onde sinto ligeiramente molhado. Não me importo muito com essas coisas, mas sei que ela é bem capaz de estar envergonhada por causa disso, no entanto, e surpreendentemente, ela parece estar achando isso tudo muito engraçado.

- É bem feita - fala com um olhar de deboche. - Não falei para guardar suas mãos para você?

- Tecnicamente não fiz nada que não devia - só espero que ela não se tenha apercebido da minha outra mão na barriga dela. - Estamos falando do meu braço.

- Seu braço babado - corrige ela, se aproximando e observando a baba acumulada como se fosse uma espécie de outro planeta. - E que poça de baba! - Dito isto, desata a rir que nem uma perdida, me apanhando completamente desprevenido com a sua reação. - Que nojo! - Exclama em meio a gargalhadas.

Não sou uma pessoa muito amiga de manhãs, mas vê-la rindo depois de acordar, com o cabelo todo bagunçado, os olhos ligeiramente inchados e com a minha t-shirt da Marvel vestida, me faz esquecer que é de manhã e dou por mim rindo também.

Ela é tão diferente. Quer dizer, mesmo após tantos anos de namoro, a Teresa ainda ficava envergonhada quando acontecia de dormir no meu peito e babar minha camisola. Já a India se vê tão à vontade com isso que é comigo que goza.

- Como raio eu acabei dormindo em cima do seu braço? - Ela limpa-o com a ponta do lençol de flanela. - E... - se interrompe com os olhos fitos no meu tronco nu, como se só agora se desse conta de que eu não estava usando a t-shirt com que dormira. Seus olhos ficam muito grandes de repente. - Cadê sua t-shirt? Você não veio para cama assim ontem! Quer dizer, para além de não respeitar o meu pedido, ainda vem dormir semi-pelado para o pé de mim!

- Fiquei com calor a meio da noite - refilo me sentando do lado da cama, de costas para ela, divertido. Assim que o faço ouço-a sugar o ar e posso até adivinhar o que a fez fazer isso.

- Meu Deus, o Ben te contaminou! - Exclama escandalizada e sinto o colchão ondular com o peso dela, se mexendo e arrastando pelos lençóis e cobertas até mim. - Que porra é essa Santiago?

Solto uma gargalhada. Desde que tenho as tatuagens, nunca antes tive uma reação parecida. Claro que com a India tinha que ser diferente.

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