Capítulo 11

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Aviso: Se está com fome, coma antes de ler este capítulo kkkk

India narrando:

Quando finalmente páro de chorar, me sinto tão exausta e fisicamente drenada que não tenho forças nem para sentar. Me desprendo da Carla, caio de costas na areia e fico olhando para o céu azul.
Meu cabelo vai ficar cheio de areia, mas não estou nem aí.

- O que aconteceu? - Carla pergunta. E eu falo para ela. Falo tudo sem dó nem piedade. Falo sobre o babaca do Heitor, da vadia da Viviana e falo de como sou um fracasso de pessoa.

- Você? - Ela grita, me assustando e me sento de imediato, com minhas forças restauradas num ápice. - Um fracasso de pessoa? Que besteira é essa, India? De onde tirou isso?

Eu nem sei como reagir a esta explosão. Carla não é dada a este tipo de coisas, sua reação intempestiva me surpreende.

- Você só construiu um estúdio de dança sozinha aos vinte e três anos que tem tanto sucesso, que cada aula tem quase trinta alunos, mas você é um autêntico fracasso. E só foi júri no "Achas que sabes dançar" Portugal, dois anos consecutivos, mas que fracasso, né? Um fracasso tão grande que foi ao programa do Jimmy Fallon. Nossa, você é uma perdedora mesmo, India, nem sei porque me dou com você! E que me diz dos mais de três milhões de subscritores no YouTube que te idolatram e ficam histéricos só de te ver? Eu aposto que eles também acham que você é um fracasso.

Fico olhando para ela de boca aberta, sem nem saber o que falar.

- Poxa India, você está rodeada de pessoas que se importam com você, que te adoram e não é por causa de um bastardo mulherengo que te faz sentir como se você fosse um trapo para usar e deitar fora, que você vai esquecer de tudo isso!

Ela se levanta, sem nem me dar tempo para pensar em tudo o que me disse, sacode a areia da bunda e das pernas e estende os braços para mim.

- Vamos lá. Vamos dar uma caminhada enquanto eu falo algumas coisas para você.

Fico parada a olhar para ela, ainda em choque.

- Vamos, India - ela insiste e eu acabo por sair do transe e aceito a ajuda.

Caminhamos por muito tempo, escalamos algumas rochas e desbravamos caminho enquanto falamos. Fico feliz por ter uma amiga como a Carla, ela me entende e sabia mesmo do que eu estava precisando.

O sol está a pique quando paramos para descansar na plataforma que leva ao farol. Nos sentamos num dos lados, com as pernas baloiçando igual crianças, ouvindo a rebentação das ondas contra as rochas abaixo de nós.

Carla olha para mim com um sorriso quando meu estômago ronca furiosamente.

- Dá para controlar a besta aí?

Dou uma gargalhada. - Você sabe como é, a única coisa que a pode controlar é mesmo comida e eu estou faminta. Não cheguei a tomar café da manhã hoje.

- Você se adora mesmo, né? É impressinante quão bem você cuida de si - Carla fala, sarcástica. Lhe dou um empurrão com o ombro e ela retribui. - Está melhor?

- A besta?

- Você.

Aceno que sim e estou mesmo. Falar com ela me ajudou imenso a pôr tudo em perspetiva e a voltar aos trilhos. Já é a segunda vez em pouco tempo que me descontrolo assim e eu não gosto disso. Não gosto nada disso.

- Você me assustou - confessa a Carla. - É a primera vez que a vejo chorar e já nos conhecemos à mais de três anos.

- É, eu não costumo chorar mesmo. Minha mãe sempre me ensinou a não demonstrar minhas fraquezas para ninguém e até que me foi útil depois que eles se foram. - Engulo o nó na garganta, nunca é fácil falar sobre minha família. - E também porque chorar não resolve nada.

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora