Capítulo 28

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India narrando:

Sento-me no chão depois de dar por terminado o treino dos Escolhidos, estafada de um dia horrível e bebo um grande gole de água, esperando que o nó de ansiedade que se formou na minha garganta se desfaça.

Esse dia tinha tudo para correr bem. Dormi a noite toda, acordei de bom humor, estive a manhã toda com o Santiago e depois: pumba, porcaria atrás de porcaria. Pareço a droga de um íman que atrai más coisas.

Esfrego os olhos com força, como se isso me permitisse bloquear o mundo exterior e todos os seus problemas, quando sinto umas mãos grandes e quentes afastarem meus punhos, gentilmente. Sei quem é mesmo antes de ver. Seu cheiro o denuncia e claro está que o meu coração batendo descompassado também não é muito subtil.

- Está querendo arrancar seus olhos? - Santiago pergunta suavemente. Tenho a visão turva e perlada de pontos negros quando olho para ele agachado na minha frente. Pisco várias vezes.

- O que está fazendo aqui? - Não que me importe, meu humor fica melhor só de o ter por perto. Consigo me abstrair do drama que se passou esta tarde, colocar isso de parte e relaxar um pouco, antes que volte tudo em catadupa novamente.

- Vim buscar a minha sobrinha - ele estende a mão e roça o polegar na minha bochecha. - Uma pestana - ele explica, mostrando a dita cuja para mim e deixando-a cair em seguida. - Eu disse para você que seria eu a apanhá-la hoje.

- Hum? - Minha cabeça parece que vazou depois de ele tocar em mim.

- Você não se lembra?

- Não me lembro do quê?

- De eu ter falado para você que vinha buscar minha sobrinha?

- Ah! Não. - Com certeza ele falou isso depois de suplicar para eu o acompanhar ao maldito casamento da Teresa Traidora. Depois disso, é como se a minha mente se tivesse fechado para tudo o que saísse da boca dele.

E que linda boca.

- India? - Fica ainda melhor quando ele fala o meu nome. Nossa, nunca tinha reparado no quão carnudinhos seus lábios eram. Dá até vontade de...

- India?

- Mmm?

- O que foi, porque está olhando para mim assim? Tenho a boca suja? - Ele passa a mão na boca e olha para a palma, só para verificar.

Mordo o lábio para evitar meu sorriso e decido entrar no jogo.

- Está sujo aqui - digo, tocando no canto do meu lábio inferior, do lado direito, esperando que ele me imite. Ele espelha o meu movimento. - Você está limpando seu lado esquerdo, tonto. É do outro lado.

- Aqui? - Ele passa a mão do outro lado e olha para a palma, à procura do resto de comida inexistente. - E agora?

Ele aproxima o rosto para eu ver, me dando vontade de lhe pregar um beijo naqueles lábios apetitosos.

Que belos pensamentos você está tendo. Se controle, por favor. Já não sabe que ele não quer nada com você, trola.

Reviro os olhos internamente para os meus pensamentos e os afasto.

- Saiu? - Pergunta.

Abano a cabeça.

- Vem cá, deixa que eu tiro - Soergo-me pelos joelhos, coloco a mão na cara dele, sentindo sua barba por fazer pinicar minha palma e acaricio o canto do seu lábio com o polegar.

Minha respiração fica presa, só de pensar no que estou fazendo, mas me forço a inspirar ao me lembrar do cheiro maravilhoso que ele tem.

- Ainda não saiu? - Questiona com meu polegar ainda nos seus lábios. Talvez esteja demorando mais que o necessário o que, sejamos honestos, é mais que compreensível. Não é toda a hora que tenho a oportunidade de tocar assim nesses lábios macios.

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora