Capítulo 33

621 64 32
                                    

[Aviso: Esse capítulo saiu bem maior que o normal, mas não tinha como dividir, por isso ficou mesmo assim. Boa leitura]

India narrando:

Você sabe aquela sensação que você tem, mas não sabe exatamente qual é, até apanhar alguém te encarando à cara podre? É com essa sensação que eu acordo.

Meus olhos se abrem de repente quando ouço alguém respirando à minha frente. Podia até ser o Santiago, se ele não estivesse dormindo atrás de mim e se eu não estivesse sentindo sua respiração cadenciada no meu cabelo. Até considero a hipótese de ser o Simão, gozando da minha cara por estar dormindo toda agarradinha ao seu irmão, mas quando meus olhos vagueiam que nem loucos e mesmo assim não sou capaz de ver ninguém à frente, começo a ficar apreensiva.

As luzes da rua iluminam um pouco da sala e me permitem distinguir os contornos das mobílias. Mas quanto mais tento ver, menos vejo e na sombra tudo parece mais sinistro e assustador, tomando formas que fazem meu coração bater forte no peito.

Soergo-me no cotovelo para alcançar mais área da sala e sinto o Santiago se mover para me fazer deitar de novo. Sua palma da mão pressiona minha barriga para junto dele e ele mesmo se chega a mim, suspirando.

- O que foi? - Ele pergunta com voz rouca de dormir, sentindo minha inquietação. O que até é estranho já que ele tem um sono pesado. - Está tudo bem. Volte a dormir - e deposita um beijo no meu cabelo quando me aconchego de novo nele.

Nem consigo pensar no quanto gostei desse gesto carinhoso, porque ao contrário da calma que ele normalmente me transmite, continuo me sentindo igualmente aflita.
Engulo a seco e tento me acalmar o suficiente para voltar a dormir. Passo meus braços sobre o do Santiago e me obrigo a fechar os olhos.

- Você deveria confiar mais nos seus instintos, sabe.

Quase salto da cama com o susto que apanho. Minha respiração corre desenfreada, como se estivesse competindo com o bater errático do meu coração numa corrida cruel.
Eu aperto o braço do Santiago, finco minhas unhas na sua pele e até o belisco com toda a força que consigo reunir, mas nada funciona para o acordar. Claro que agora que eu preciso dele é que ele decide hibernar.

Engulo em seco, sentindo um nó gigante na garganta e fixo o olhar no monstro à minha frente.

- Co-como é que você entrou aqui? - Minha voz treme.

- Você é tão patética que quase tenho pena de você. Quase - e mesmo no escuro consigo perceber sua careta vincada de desprezo. O ódio contorcendo as suas feições. - Se não fosse essa sua mania de superioridade...

- Eu não me acho superior a ninguém - contradigo a medo, falando tão baixo que mal me ouço.

- Ainda bem, então - ele responde, ouvindo meu sussurro. - Porque você não vale nada mesmo - desdenha.

As palavras dele me atingem como sempre atingiram. Eu sei que tenho valor, mas às vezes é difícil acreditar na verdade quando continuam te falando mentiras.

- E você sabe como eu sei isso? - Ele se coloca de pé, me fazendo retrair de medo e me esquecer de responder. - Veja só - ele mostra as mãos e começa a enumerar. - Sua família morreu. Provavelmente seu pai estava tão farto de você que preferiu lançar a família toda para o rio a estar com você de novo.

Sei que o que ele fala é um absurdo, mas meu coração sangra com essas palavras e eu levo a mão ao peito para tentar acalmar a dor que elas causam. Entretanto ele não se detém e continua com sua enumeração torturante, caminhando pela sala calmamente.

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora