Capítulo 25

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India narrando:

- Seu grandesíssimo filho da mãe! - É a primeira coisa que ouço quando coloco o pé fora do carro.

Mas que raio? Penso de cenho franzido, ao ouvir aquele grito abafado.

Tiro a mala do banco de trás e ajeito-a ao ombro, com vozes exaltadas discutindo ao longe como música de fundo.
Tranco o carro à distância e só começo a aperceber-me de onde vêm os gritos quando o volume dos mesmos aumenta, em proporção à minha aproximação do estúdio.

- Mas onde eles pensam que estão para discutirem assim? - Pergunto para mim mesma, furiosa e com uma vontade homicida brotando de mim como uma fonte da nascente.

Me apresso, com a mala gigante da dança, batendo na anca num ritmo constante, e ao ver a porta do estúdio aberta de par em par, percebo porque razão os conseguia ouvir bem. Eles estão berrando para caramba.

- Ficou bem claro desde o início que eu não estava procurando nada sério e você concordou comigo sobre isso. Agora não me venha com esse papo de...

- Que porra é essa? - Meu olhar assassino passa do Heitor para Viviana e da Viviana para o Heitor, ambos exaltados e com as faces ruborizadas. - Ouço os vossos gritos desde o estacionamento!

- Os gritos da Viviana, quer você dizer - refila o Heitor com uma careta de desprezo. - É impossível ter uma conversa civilizada com essa mulher.

Ela bufa. - Como se você fosse muito civilizado.

- Não fui eu que andei gritando para todo o mundo ouvir!

- Nós estávamos discutindo, idiota! As pessoas gritam quando discutem.

- Calem a boca, droga! - Mando com tanta veemência que minha cabeça lateja. - Onde é que vocês pensam que estão, afinal? Isto é um lugar de trabalho, pelo menos tenham a decência de resolver as vossas questiúnculas pessoais fora daqui.

As mandíbulas do Heitor ficam tensas e se contraem, na tentativa dele de se acalmar. Ele dá um aceno de cabeça para mim, num gesto de concordância e sai do estúdio sem falar nada, lançando um último olhar à Viviana. Acompanho sua saída com o olhar e só depois de respirar fundo, me viro para entender o que raio está acontecendo com esses dois.

- O que houve para vocês estarem discutindo assim? - Pergunto para Vi. Ela não me responde de imediato e quando as lágrimas começam a encher-lhe os olhos, ela tapa a cara com as mãos e os seus ombros tremem enquanto chora silenciosamente. Minha primeira reação é encará-la em choque, de boca aberta. Quer dizer, a Vi? Chorando por causa de um homem?

Levo-a para o escritório, porque eu sei o quanto ela gosta dele já que vive usurpando-o como se fosse seu, deixo cair a mala no chão e faço-a sentar. Ou tento.

- Que homem besta! - Ela grita, furiosa com o rosto ainda mais vermelho e começa a andar de um lado para o outro, se desenvencilhando de mim. Quase apanho um susto com a sua reação repentina. Deixo que ela deite a diatribe para fora, limitando-me a fechar a porta para espantar o barulho e sento-me no sofá. Ela devia estar na receção agora, recebendo os alunos que não tardarão a chegar, mas primeiro preciso entender o que está acontecendo.

- O que foi que ele fez? - Pergunto.

- Encontrei o bosta se esfregando noutra, parecia até que estava comendo a cara da ruiva, de tão entusiasmado que estava - revela com uma careta e eu me controlo para não dizer asneira, porque é assim mesmo que eles se parecem quando estão se pegando.

- Mas vocês não estiveram juntos no sábado à noite?

- Tá vendo? É aí mesmo que eu quero chegar! Tudo bem que não estamos namorando, mas estamos juntos!

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora