Capítulo 14

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Olho para o relógio e trinco os dentes, enraivecido.
Quer dizer, o velho me obriga a encontrar com ele na droga de um domingo, me faz sair de casa com um temporal de todo o tamanho e ainda tem a coragem de se atrasar. Velho estúpido, nem sei porque aceitei me encontrar com ele.
Tenho vontade de me cagar para essa porra e dar o fora daqui.

- Vai querer mais alguma coisa? - A garçonete ruiva falsa, pergunta para mim toda solicita.

- Já pedi tudo o que quero, obrigado.

O que é? Sei ser educado, também.

Sem nada para fazer enquanto espero, pego no celular e pesquiso um pouco sobre o objeto da minha fixação. Entro no perfil dela no facebook e sem querer, meus olhos se esbugalham com a nova foto de perfil que ela postou, num bikini todo apertadinho e pequeno. Não acredito que ela se expõe assim no facebook, qualquer pessoa pode ver essa pele toda que só eu deveria ter acesso. Ai, quando você for minha...

- Gostosa.

Olho por trás do ombro e bloqueio a tela do celular para esse intrometido ficar longe das minhas coisas.

- Você não tem relógio não, velho?

Ele dá a volta e arrasta a cadeira à minha frente, expelindo ar com força ao se sentar pesadamente. Faço uma careta de repulsa ao ver o estado dele, todo magro raquítico, mas com uma barriga tão grande que parece até que está esperando um bebé nascer para o mês que vem. Seus olhos estão tão amarelos e ramelosos que me dá até nojo.

- Me dê um desconto, minhas pernas já não são como dantes - ele fala, se inclinado para mexer nas ditas cujas.

Me inclino também e enquanto a garçonete chega para anotar o pedido dele, reparo no quão inchadas suas pernas estão debaixo das calças jeans esfareladas e molhadas da chuva.
E não é que o velho parece uma grávida mesmo?

Me endireito e me sento à vontade na cadeira, com os braços por cima do encosto e a pernas abertas debaixo da mesa. Sufoco um bocejo quando pergunto:

- O que é que você quer?

- Essa é maneira de falar com seu pai?

- Fala logo que eu não estou com paciência.

Ele dá um suspiro trémulo e me surpreendo com o quão fraco ele parece. Quem diria que alguma vez viria meu pai violento nesse estado. Não tenho pena nenhuma.

- Me fala um pouco de como você está primeiro. Essa menina que você estava vendo é sua namorada?

Isso queria eu. A Cindy não tem nada a ver com essa garota.

- Pára com essa porra de conversa de circustância e diz logo o que quer! - Ele acha mesmo que eu vou cair nesse fingimento barato? Como se ele quisesse saber da minha vida. Nunca quis.

O velho assente engolindo em seco, seu rosto enrugado fica sério, e ele se chega para frente na mesa, cruzando e descruzando os dedos magros. Olho para eles e vejo que ele ainda tem aquele anel apaneleirado no dedo mindinho. Odeio esse anel.

- Eu estou morrendo - ele fala, sem papas na língua. Realmente a subtilidade nunca foi uma qualidade desse imbecil.

- Com esse aspeto nojento, não me admira nada - falo com desdém.

Ele nem pisca com minha maneira grosseira e insensível de reagir.
Que o velho estava morrendo já eu sabia. Pena que não foi mais cedo, esse desgraçado já devia ter sumido faz tempo.

- Era de esperar um comentário desses vindo de você.

- Porque não mandou uma mensagem, então? Tenho mais que fazer do que ver sua cara podre. - Paro de falar quando a garçonete deixa o café do meu pai à sua frente.

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora