Olho para o relógio e trinco os dentes, enraivecido.
Quer dizer, o velho me obriga a encontrar com ele na droga de um domingo, me faz sair de casa com um temporal de todo o tamanho e ainda tem a coragem de se atrasar. Velho estúpido, nem sei porque aceitei me encontrar com ele.
Tenho vontade de me cagar para essa porra e dar o fora daqui.- Vai querer mais alguma coisa? - A garçonete ruiva falsa, pergunta para mim toda solicita.
- Já pedi tudo o que quero, obrigado.
O que é? Sei ser educado, também.
Sem nada para fazer enquanto espero, pego no celular e pesquiso um pouco sobre o objeto da minha fixação. Entro no perfil dela no facebook e sem querer, meus olhos se esbugalham com a nova foto de perfil que ela postou, num bikini todo apertadinho e pequeno. Não acredito que ela se expõe assim no facebook, qualquer pessoa pode ver essa pele toda que só eu deveria ter acesso. Ai, quando você for minha...
- Gostosa.
Olho por trás do ombro e bloqueio a tela do celular para esse intrometido ficar longe das minhas coisas.
- Você não tem relógio não, velho?
Ele dá a volta e arrasta a cadeira à minha frente, expelindo ar com força ao se sentar pesadamente. Faço uma careta de repulsa ao ver o estado dele, todo magro raquítico, mas com uma barriga tão grande que parece até que está esperando um bebé nascer para o mês que vem. Seus olhos estão tão amarelos e ramelosos que me dá até nojo.
- Me dê um desconto, minhas pernas já não são como dantes - ele fala, se inclinado para mexer nas ditas cujas.
Me inclino também e enquanto a garçonete chega para anotar o pedido dele, reparo no quão inchadas suas pernas estão debaixo das calças jeans esfareladas e molhadas da chuva.
E não é que o velho parece uma grávida mesmo?Me endireito e me sento à vontade na cadeira, com os braços por cima do encosto e a pernas abertas debaixo da mesa. Sufoco um bocejo quando pergunto:
- O que é que você quer?
- Essa é maneira de falar com seu pai?
- Fala logo que eu não estou com paciência.
Ele dá um suspiro trémulo e me surpreendo com o quão fraco ele parece. Quem diria que alguma vez viria meu pai violento nesse estado. Não tenho pena nenhuma.
- Me fala um pouco de como você está primeiro. Essa menina que você estava vendo é sua namorada?
Isso queria eu. A Cindy não tem nada a ver com essa garota.
- Pára com essa porra de conversa de circustância e diz logo o que quer! - Ele acha mesmo que eu vou cair nesse fingimento barato? Como se ele quisesse saber da minha vida. Nunca quis.
O velho assente engolindo em seco, seu rosto enrugado fica sério, e ele se chega para frente na mesa, cruzando e descruzando os dedos magros. Olho para eles e vejo que ele ainda tem aquele anel apaneleirado no dedo mindinho. Odeio esse anel.
- Eu estou morrendo - ele fala, sem papas na língua. Realmente a subtilidade nunca foi uma qualidade desse imbecil.
- Com esse aspeto nojento, não me admira nada - falo com desdém.
Ele nem pisca com minha maneira grosseira e insensível de reagir.
Que o velho estava morrendo já eu sabia. Pena que não foi mais cedo, esse desgraçado já devia ter sumido faz tempo.- Era de esperar um comentário desses vindo de você.
- Porque não mandou uma mensagem, então? Tenho mais que fazer do que ver sua cara podre. - Paro de falar quando a garçonete deixa o café do meu pai à sua frente.
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Encarar É Feio
RomanceOdeio que me encarem. Podem me olhar dentro do limite da educação, podem tirar foto para ver mais tarde ou até "googlar" India de Portillo e pesquisar o que quiserem. Podem fazer tudo isso, desde que não me encarem em pessoa, como se eu fosse o hom...