Capítulo 38

622 46 15
                                    

India narrando:

- Pára, pára, pára já! - Ordeno, batendo com as mãos na lateral da cabeça, ao mesmo tempo que grito as palavras para mim mesma.

Pouso a cabeça entre as mãos e esfrego o cabelo que nem louca psiquiátrica, tentando repelir pensamentos que quero manter bem longe de mim. Não consigo nada mais que uma juba horrível e uma dor de cabeça descomunal, mas pelo menos tentei, mesmo que tenha sido uma coisa meio doida para se fazer.

Respiro fundo e levanto a bunda da cadeira, sentindo-a quadrada de tanto tempo que estive sentada e me espreguiço languidamente, fazendo um barulho enorme ao bocejar.

Nossa, tão graciosa que você é, India. O sarcasmo do meu "eu" interior não me passa despercebido.

Porque é que eu haveria de me preocupar com isso se estou sozinha no momento? Respondo de mim para mim.

Faça como quiser, mas depois não se queixe de não conseguir arrumar um namorado com esses modos de ogra. Sinceramente, não me admira nada que o Santiago tenha te rejeitado outra vez...

Estaco na escada, agarrada ao corrimão com força, irritada e magoada por me lembrar dele à toa. É que eu mesma estou fazendo isso comigo! Já não basta o trabalhão todo que tive para jogar esse quebrador de corações para fora do pensamento e quando finalmente consigo, mesmo que por um breve segundo, lá está a maldita me lembrando dele de novo!

Maldita é você!

- Cala a boca!

Você percebeu que está falando consigo mesma, certo?

Ignoro minha voz interior e vou à cozinha beber um copo de água. Tenho fome também, mas confirmo ao abrir a geladeira, que não tenho nada de jeito para comer. Não que fosse cozinhar, mas pelo menos uns ovos mexidos seriam bem-vindos. 

Se o Santiago estivesse aqui, de certeza que arrumaria algo para você comer...

- Ah! Mas que porra!

Bato com as mãos na bancada fria da cozinha e minhas palmas reclamam, mas até a dor é bem vinda para me esquecer dele. O pior é que ao me aperceber que não estou pensando nele, acabo pensando nele e fica tudo estragado.

Fecho os olhos e me apoio na bancada, sentindo os ombros descaírem em derrota. Por mais que tente, não consigo tirá-lo da cabeça. E quando dou por mim, fico recordando as coisas lindas que ele falou, quando admitiu ter sentido minha falta. Até sinto minhas mãos formigar quando me lembro dos seus dedos entrelaçados nos meus. Mas pior mesmo é o beijo. Esse então não pára de invadir meus pensamentos, quase como se fosse uma praga. A toda hora fico lembrando da doçura do beijo dele e juro que até consigo sentir o sabor da sua boca na minha língua. É que eu literalmente fui reduzida a geleia nos braços dele, me derretendo com aquelas mãos quentes, deixando cada nervo meu em polvorosa. E quando me lembro da minha completa safadeza em cima do colo dele, com as minhas formas curvas e macias prensadas nas firmes e duras dele... Mmm...

Solto um suspiro trémulo e passo a língua nos lábios, mordendo o inferior em seguida. Me sinto tão necessitada... Faz muito tempo desde a última vez que transei e nunca antes desejei tanto alguém, quanto desejo ele.
Mas ainda não acabaram. As memórias, quero eu dizer, porque depois destas, vem a mais cruel. Ela me leva à dor da rejeição, uma dor e um pesar tão forte que às vezes parece que me rouba o ar diretamente dos pulmões. E eu quero chorar, quero me encolher num canto de casa e nunca mais de lá sair. Quero ficar imersa na minha autocomiseração.
Minha mão já vai esfregando o coração, e meus pés estão me levando para lá...

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora