Santiago narrando:
Me sinto incrivelmente melhor assim que saio do escritório da India e não posso negar que também saio com um sorriso enviesado na cara ao lembrar a reação dela quando falei que cheirava bem também.
Cruzo a esquina de encontro ao corredor e reparo na algazarra criada pelos adolescentes mostrando algo nos celulares uns aos outros.
- Tio! - Oiço atrás de mim e me viro para encontrar o olhar espantado da minha sobrinha, saindo do banheiro. - O que está fazendo aqui?
Ela olha para a direita, em direção ao escritório da India e dá um sorriso matreiro para mim.
- Pare de imaginar coisas, Mel.
- Não estou imaginado nada. Dá para perceber que você veio naquela direção e não há mais nada lá a não ser o escritório da India.
- Pois não - me viro e vejo a India se aproximando. Noto que se esforça para manter uma expressão séria, mas seus olhos a denunciam, assim como os cantos da sua boca que teimam em subir. - E você já devia estar na sala se aquecendo para começar o treino, senhorita. Tal como todos vocês - acrescenta elevando a voz para se fazer ouvir no barulho das conversas e risos típicos de adolescentes.
Todos se calam assim que a India fala e não posso deixar de me impressionar com a forma como eles a obedecem. Parece que ficam todos em sentido e, um a um, entram pela sala sem que seja necessário outra palavra.
Todos menos a Melanie que permanece parada onde está.
- Vá, vamos - India incita, vendo que ela não se mexe. Ela encaminha-a através do corredor, com a mão nas suas costas e lança um sorriso quando passa por mim. Eu acho que ela não tem noção do quão linda fica quando sorri desse jeito. É que a India não é só bonita, ela é atraente de uma forma muito sensual. E eu realmente adoro olhar para ela, adoro como ela pode ser tão confiante e tímida ao mesmo tempo, só porque a olho por um pouquinho mais.
- E aí? - Carla pergunta assim que passo na receção. - Você parece melhor - constata me analisando.
- É, desculpa não ter falado com você como deve ser. Estava um pouco...
Ela faz um gesto de descarte com a mão enquanto penso num termo adequado.
- Não tem problema, você não parecia nada bem e eu entendo que não estivesse a fim de conversar comigo - ela salienta o "comigo" e apesar de estar escondendo a cara ao escrever algo num caderno, reparo que seu rosto se contrai num ligeiro sorriso.
Me acerco do balcão e me encosto a ele.
- O que você quer dizer com esse "comigo"? - Pergunto, intrigado.
Ela olha para mim e afasta o cabelo loiro da cara.
- Nada de mais - mas o sorriso volta e acho que já sei onde ela quer chegar com essa conversa.
- Vim só entregar o casaco para a India. Ela o deixou no meu carro.
Carla me olha de olhos esbugalhados e parece que eles ainda ficam mais azuis e maiores do que já são.
- A India esteve no seu carro?! - Sua voz soa fina por causa do espanto e só aí percebo minha falha. Não acredito que disse isso. - Porque ela esteve no seu carro?
Não respondo. Coloco as mãos no bolso e finjo estar prestando atenção noutra coisa.
- Sabe que o facto de você não falar faz tudo ainda mais suspeito, não sabe? - Ela está sorrindo quando diz isso, se levanta e vem para perto de mim, se encostando ao balcão.
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Encarar É Feio
RomanceOdeio que me encarem. Podem me olhar dentro do limite da educação, podem tirar foto para ver mais tarde ou até "googlar" India de Portillo e pesquisar o que quiserem. Podem fazer tudo isso, desde que não me encarem em pessoa, como se eu fosse o hom...