Capítulo 20

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India narrando:

Me arrasto escadas a baixo, tão cansada do dia que só quero cair na cama e desmaiar. Desço as persianas todas da sala, que não são poucas, corro os cortinados e deixo só a luz do corredor acesa para ver alguma coisa antes de entrar no quarto.

Depois de estar pronta para ir para cama, enfio-me dentro das cobertas e apago a luz. O som do mar é a única coisa que ouço, minha canção de embalar, e me sinto resvalar para o sono quando oiço um ruído. Abro os olhos de imediato, alerta, tentando aguçar o meu ouvido, quando o barulho se repete de novo e de novo, se aproximando mais.

São passos.

Meu coração começa a bater desenfreado quando, com os olhos ajustados ao escuro, vejo o manípulo da porta mexer. Olho para à porta horrorizada, com o pânico toldando minha capacidade de reação e de repente já não estou na minha casa, estou no meu quarto minúsculo dos meus dezassete anos, encolhida de terror. Me esqueci de trancar a porta. Como raio fui me esquecer de trancar a porta?

- India - o homem chama, colocando a cabeça para dentro do quarto. - Te achei.

- Não - balbucio, tremendo de medo ao vê-lo se aproximar da minha cama. Minha mente me ordena a sair dali, fazer alguma coisa, mas é como se estivesse presa e não conseguisse me mexer. O que aumenta ainda mais o meu pânico.

Ele sobe uma perna em cima da cama e eu recuo ainda mais, ao vê-lo me olhando com os olhos amarelos brilhando no escuro.

- Encontrei você - seu sorriso diabólico brilha também e toda eu tremo, encolhida no canto da cama de solteiro, sem me conseguir mexer. - Sua tia não quis brincar comigo hoje, você quer? Eu também estou farta dela mesmo. Quero carne nova.

Sua mão envolve a minha coxa e a aperta com força me puxando para perto dele. Começo a gritar por socorro, mas ninguém me ouve.

- Você é minha, India - seus olhos brilham amarelos. Anormais. - Minha. Você é minha, India. INDIA. INDIA!

- AHHHH! - Grito e acordo ofegante, com o coração batendo a mil à hora. Me deparo com o olhar preocupado do Santiago e percebo que era ele quem estava gritando o meu nome para que acordasse.

Foi um pesadelo. Não foi real. Não foi real. Respiro fundo, com a mão sobre o coração tentando me acalmar. Pareceu tão real.

Santiago me estende a garrafa de água que sempre tenho no escritório da minha casa e eu dou um grande gole nela, sôfrega.

- Você está bem? - Pergunta, agachado do meu lado. Ele afasta madeixas desgarradas do meu cabelo e pousa as mãos dos dois lados da minha cara, lançando borboletas pelo meu estômago. Não posso deixar de reparar no quanto ele tem me tocado hoje. Claro que foi para cuidar de mim e me consolar, mas mesmo assim não me passou despercebido. Seu toque é sempre tão seguro e reconfortante. Calmante.

Fecho os olhos e assinto uma vez, engolindo em seco. Toda a cena volta de novo em catadupa e eu nem posso acreditar que estou tendo pesadelos novamente. Não com ele. Faz anos que não tenho pesadelos com aquele filho da mãe, seria de esperar que eles voltariam depois dele me aparecer no estúdio hoje à tarde. Que droga! Mal tinha recuperado das noites mal dormidas no aniversário da morte da minha família e agora isto.

Pego suas mãos nas minhas e as afasto da minha cara. Parece que estou destinada a que o Santiago me veja no meu pior.

- Já está tarde, India - ele fala, brincando com os meus dedos. - Você não quer ir dormir?

- Acabei de acordar e ainda tenho que terminar meu guião, filmar e postar o vídeo - falo já mais recomposta. Vejo que passa da uma da manhã no relógio do computador. Devo ter dormido uma boa meia hora em cima da secretária. Fantástico.

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora