Capítulo 5

820 79 16
                                    

Santiago narrando:

Os dias que minha mãe vem a Portimão acabam sempre por ser uma grande confusão. Confusão porque ela sempre se lembra de fazer um jantar de família toda vez e a nossa família é bem numerosa.

Ora, contando comigo somos três irmãos e uma irmã. O Simão é casado e tem um filho de três anos, com um segundo a caminho; o Salvador tem três filhos, uma com onze, outro com sete e uma menina com quatro anos. Eu e a minha irmã Seara, somos os únicos que não somos casados, mas Seara tem namorado e nesses jantares de família até os namorados são convidados.

Então, toda vez que fazemos jantares desses, são cerca de treze pessoas em casa e tendo em conta que quatro delas são crianças, é sempre tudo muito barulhento, cheio de birras e "come, Matias" e "sente-se como deve ser, Paloma". Não me levem a mal, eu adoro meus sobrinhos, mas eles são capazes de fazer qualquer um perder a cabeça.

- Tio - chama a Melanie, minha sobrinha de onze anos, desviando sua atenção do tablet que tinha nas pernas, - você já falou para avó que a gente não vai ficar para o jantar?

Olho para os lados me certificando que mais ninguém está ouvindo. Minha mãe dá muito valor a essas reuniões e não quero que ela saiba desse jeito que nem eu, nem a Melanie estaremos participando.

Me sento ao lado dela no sofá e me inclino na sua direção, tirando tablet do seu colo e pondo-o na mesinha de centro. - Você acha mesmo que não vamos conseguir chegar a tempo do jantar? - Pergunto e olho para o relógio.

- Claro que não! - Exclama veemente, sua testa se enrugando em discordância. - A audição é às sete e...

- O que vocês estão aí cochichando? - Interrompe minha irmã, aparecendo do nada com seus olhos castanhos brilhando de curiosidade.

Eu olho para a Melanie, a Melanie olha para mim e ninguém fala nada.

- Ah, eu quero saber! - Seara se apressa para junto de nós e se senta no chão alcatifado, à nossa frente. Põe uma mecha de cabelo fino aloirado por trás da orelha e aguarda expectante.

- Posso falar? - Melanie pergunta para mim.

Encolho os ombros. - Mais tarde ou mais cedo ela vai ficar sabendo mesmo. Vá em frente.

Ela se vira para a tia toda entusiasmada e automaticamente os olhos da Seara se abrem esperando com fervor.

- Vou fazer uma audição para entrar nos Escolhidos! - Melanie mal consegue conter a excitação e meio que se põe saltando sentada no sofá, por sua vez, Seara continua igual, sem entender nada do que ela falou.

- É do estúdio de dança da India - dou uma ajuda e assim a Seara compreende e se entusiasma com a sobrinha.

Melanie adora a India e fala dela a toda hora. Fala dos vídeos que a India posta, do quanto a India é boa dançarina, que a India disse aquilo, que a India vestiu isso, fala tanto dela que chega até a ser irritante.
Por isso, nós sabemos o quanto isto é importante para Melanie e acontece que eu prometi levá-la para as audições hoje e acredito que ela tem o que é preciso para ser uma Escolhida. Além de que, o Salvador não queria perder o jantar e arriscar-se a levar um tiro da senhorita Leonor Nastigal, nossa amada mãe, mas a Melanie ficou tão triste por não ir, que eu acabei me oferecendo para levá-la.

- Você acha que tenho hipótese de ser escolhida? - Pergunta a Melanie a medo, retorcendo as mãos, nervosa. Já lhe disse que sim várias vezes, mas ela ainda tem muitas dúvidas.

- Mas é claro! - Seara exclama, sem hesitar. Ela se coloca de joelhos e pega as mãos nervosas da Melanie entre as suas. - Você dança tão bem! Tem que estar confiante, não pode ir com dúvidas para uma audição, senão a India topa logo. Para ela ser tão boa dançarina deve ter critérios bem rígidos.

Encarar É FeioOnde histórias criam vida. Descubra agora