Olho-me no espelho e meu Deus. Eu realmente parecia uma boneca com toda aquela roupa.
Aquela roupinha fazia eu me lembrar de uma boneca que eu tinha quando menor. Ela era linda. Falava, cantava e até mexia os olhinhos. Todas as crianças gostavam dela.
Uma vez, um menino no parquinho tentou roubar ela de mim e aquele dia, eu briguei com unhas e dentes pra ficar com minha bonequinha com a ajuda de meus pais tiveram que falar com a mãe dele. Ah, meus pais... Que saudade. O que será que fizeram com eles?
Uma lágrima escorre em meu rosto ao pensar nos meus pais. Mas rapidamente a seco, quando a porta lentamente se abre.
"Querem você na sala" - diz o tal cara que estava aqui pra me servir.
Não pude deixar de perceber que ele estava com um corte no pescoço.
Sigo ele e sem querer, pergunto:
"O que aconteceu com seu pescoço?"
"Não faça perguntas, é perigoso" - sussura levantando a gola da camisa na tentativa de esconder o corte.
Pode ser loucura minha, mas aquele cara demonstra ter muito medo de algo ou alguém. Esta na cara que está aqui obrigado. E ele pode ser a minha única chance de sair daqui.
Chego na sala e vejo que a tv está ligada. O homem diz pra eu me sentar e logo, começa um tipo de vídeo na televisão.
"Um parquinho. Uma menina brincando com uma boneca e os pais atrás a olham orgulhosos.
Do outro lado, um menino com uma aparência estranha sentado na areia brincando com um graveto. Ele era carequinha. E no rosto ele tinha uma mancha preta enorme que parecia ser de nascença. Atrás, a mãe o olha parecendo estar irritada. O olhar dele é triste. Quando ele vê a menina, abre um grande sorriso, mas os pais dela sussuram pra ela ignorar. Então, ela olha pra ele com olhar como se fosse superior. Ele rapidamente corre e toma a boneca da mão dela, fazendo a chorar descontroladamente.
O menino estava encantado com a boneca. Olhava pra ela sorrindo, parecendo estar paralisado até que a menina, da um tapa na cara dele e ele começa a chorar.
A menina o empurra no chão e cospe na cara dele, dizendo que ele era imundo, pra não tocar em sua boneca.
Os pais da menina que estavam andando na frente, voltam correndo e empurram o menino mais uma vez ao chão, chamando-o de pirralho. Vão até a mãe dele, e a mesma, bate na cara do menino tão forte que fica vermelho na hora."
O vídeo acaba assim e não posso negar o quanto fiquei com pena daquele menininho. Eu podia jurar que ja tinha visto aquilo, mas não consegui pensar, pois levei um enorme susto quando vi alguém do lado da TV, todo de preto, com uma máscara que escondia todo seu rosto.
O olhei paralisada quando ele soltou palavras que não puderam ser ouvidas por mim por causa do meu medo enorme.
É ele. O meu raptor. É essa voz. É ele!!!!
"EU PERGUNTEI SE VOCÊ RECONHECE ISSO." - grita ele parecendo estar furioso demais.
"Não." - respondo com a voz trêmula.
"Então vou refrescar sua memória."
Ele tira a máscara e o meu coração acelera ao ver a mesma mancha do menino no vídeo, no rosto dele.
Logo me recordo.
A menina naquele vídeo era eu e o menino... Ele.
"Se lembrou, né? Se lembrou do quanto era mimadinha por seus pais e o quão mal tratou uma menino que nada tinha feito a você."
"É por isso? É por isso que estou aqui? Meu Deus. Aquilo foi a tempos atrás e eu era uma criança que de nada sabia. Isso não pode ser motivo pra tanta crueldade."
Ele ri.
"É claro que eu sabia que você diria isso. Depois daquilo, você foi acolhida. Seus pais te abraçaram e te beijaram. Eu não. Minha mãe me deu um tapa na cara. Eu tinha 6 anos e ela me deu um tapa na cara. Como se isso não bastasse, quando chegamos em casa, ela me trancou em um cômodo horrível que tínhamos em casa. Lá tinha ratos. Era escuro. E eu, pobre menino indefeso, chorava muito. Enquanto ela ficava rindo lá fora. Ela me deixou lá por dois dias. Eu não comia. Tudo por causa de uma puta boneca que tentei pegar só pra olhar. E quando sai daquele cômodo, cometi o erro de dizer 'mamãe, me compra uma boneca daquela' porque estava encantado por aquilo. Não tinha brinquedo algum. E sabe o que ela fez? Haha. Ela riu e abusou de mim e me disse que ela era a minha boneca." Ja estava chorando muito por ouvir aquilo, então só consegui pedir perdão.
Ele não me deixou nem terminar e disse:
"Tudo bem. Eu cresci. E agora eu tenho você, minha boneca. E tenho até uma casinha de boneca."
"Como assim?"
"Essa aqui não é sua casa minha querida. É só uma cópia dela. Estamos muito longe da verdadeira. Olhei vocês por anos. Eu estive em seu quarto por várias noites, sabia? Estudando cada móvel pra não errar em nada aqui. Foram anos de trabalho e agora você está aqui e vai ser a minha boneca até que eu me enjoe de brincar com você, e aí, minha querida bonequinha, eu te mato."
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De repente, boneca. - Livro 1
Mystery / ThrillerCapa por: @JpAlcon1 [EM REVISÃO] ATENÇÃO: O LIVRO DOIS JA ESTÁ EM MEU PERFIL ~PARA SEMPRE, BONECA~ Camilla Queiroz. Uma jovem que comete o erro de desprezar um garotinho em sua infância com uma boneca. Por conta disso, o pobre garotinho sofre nas...