Capítulo 9 - Digno de cobras.

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Irmãos?  ... Como podem ser tão diferentes? E não posso deixar de pensar que David agiu mesmo como um anjo da guarda. Quem se meteria nessa por alguém que nem conhece? Eu nunca faria isso. Então porque você fez David? (...)
Desperto de meus pensamentos quando escuto Christopher tentando abrir a porta. Algo me fazia achar que ele estava conseguindo.
"DAVID! O CHRISTOPHER!" - gritei ja me direcionando para a cozinha.
Peguei uma faca média ja enferrujada. David pegou uma outra ainda maior e me olhou com deboche.
Subimos as escadas e a porta estava aberta.
David me puxou, fazendo com que eu ficasse atrás dele, quando de repente, toda a casa ficou escura.
David agarrou minha mão e correu para o quarto, avistou em meio ao escuro o banheiro e nos trancou lá.
"Temos que ficar aqui até termos um plano." - disse.
"O que? Você acha que ele não arromba essa porta em questão de segundos David?"
Um disparo.
"Ainda por cima, tem uma arma agora" - digo revirando os olhos.
David pareceu perdido por uns instantes, até que disse:
- Se entrega a ele. Eu me escondo.
"O QUE? VOCÊ TÁ ficando louco?" - grito, mas logo abaixando a voz quando lembro de Christopher.
"Camilla, confia em mim. Ele não vai te matar porque isso acabaria com todo o plano de vingança. Eu vou logo atrás de você, enfio nele a faca e tudo vai ficar bem. Eu não vou deixar nada de ruim acontecer a você. Você precisa confiar em mim."
Confiar nele.. Mas eu nem o conheço o suficiente pra isso...
Apesar de que ele ja me provou várias vezes que eu devia confiar nele... Sim, eu devo confiar!
Coragem Camilla.
Segurei a chave da porta e mais um disparo. Então resolvi antes gritar:
- CHRISTOPHER? EU ME ENTREGO. MAS NÃO ME MATA. ESTOU SAINDO.
"Então venha minha boneca" - sussurrou.
Girei a chave lentamente enquanto David se escondia.
Abri a porta e Christopher estava lá, ele sorria, veio até mim e me jogou para uma parede. Minha cabeça bateu tão forte que não pude conter a dor. Cai no chão e temi o que ele faria. Ele acariciou o meu cabelo e disse algumas palavras que não puderam ser ouvidas por mim, que estava distraída demais em David atrás dele com a faca.
O plano vai dar certo. Christopher vai morrer e eu finalmente vou sair desse lugar!
David se prepara para enfiar a faca, quando Christopher se vira ja derrubando a mesma no chão.
Ele solta uma risada maléfica e diz:
- Então vocês acharam mesmo que esse planinho daria certo? Que ingênuos...
Nos pegou pelo pescoço, e nos tirou do quarto. Ele descia as escadas com a gente e eu não conseguia andar direito. Meus pés iam batendo em cada degrau e eu quase caía.
Quando chegamos a sala, ele destrancou a porta, me fazendo um ponto de interrogação.
Olhei para o David e o mesmo olhava assustado para a porta, me fazendo ver que não era coisa boa.
A porta se abriu e Christopher nos jogou lá fora, trancando a porta por dentro.
Caída no chão, olhei ao meu redor.
Estávamos em um quadrado, a casa era cercada por uma cerca alta e atrás dessa cerca só havia matos e matos.
Pude então perceber que não havia como sair dali, então comecei a chorar.
Foi quando David chegou perto e me deitou em seu ombro.
Eu precisava daquilo. De um ombro pra chorar tudo que estava entalado.
E David sempre me oferecera tudo que precisava.
Chorei. Chorei como uma criança longe de sua mãe.
Apertei David com toda minha força. Eu gritava.
Eu só queria voltar pra casa. Queria meus pais novamente e eu nunca mais ia ter isso. Tudo por causa de uma maldita boneca.
"Porque ele faz isso David?" - perguntei soluçando. 
"Porque ele me prendeu neste lugar... Eu era só uma criança. Eu não tenho culpa do que ele passou em sua infância. Não tenho culpa pela mãe de vocês."
"Eu nunca entendi minha mãe" - diz David se afastando.
Limpo meu rosto e olho atentamente para ele, então completa:
- Ela adotou o Christopher por dinheiro, Camilla.
Ela nunca fez nada comigo. Sempre me cuidou tão bem que eu não conseguia imaginar outro lado dela. Até que um dia ouvi gritos no porão...
                  ● Flash back on ●
- Mamãe? - gritei, mas ela não me respondia, então resolvi descer e ver o que estava acontecendo.
Não há ninguém na casa. Mas no porão ainda ouço gritos.
Um passo de cada vez. Sem fazer qualquer barulho. E quando chego lá, um menino sangrando e... Minha mãe... Com... Uma corda... Grossa... Ela batia nele. Mamãe fazia o menininho sangrar.
- MAMÃE! - gritei chorando.
Então ela se vira pra mim, abre um sorriso e em seus dentes há sangue. O seu olhar estava completamente diferente, e ela grita:
- SUBA PARA O QUARTO MEU QUERIDO! 
                  ● Flash Back off ●
David ja chorava e em meu rosto também escorriam lágrimas.
Agora entendo porque de serem tão diferentes.
David não sofreu o que Christopher sofreu com a mãe.
Em uma atitude desesperada, pego em suas mãos e o beijo.
Meu rosto cora, mas David retribui.
Sua mão em meu pescoço faz com que eu não queira parar aquilo...
Até que escutamos uma voz:
- Que casal lindo! É digno de cobras. Ou melhor, palmas.
Uma caixa de som e câmeras pro lado de fora. Eu não havia percebido. 
"Camilla, Christopher sabe da sua fobia de cobras. Você precisa se acalmar, só confia em mim tá bom?" - David diz, me colocando mais perto dele. Começo a chorar desesperadamente.
Me encolho toda quando a porta se abre e vejo cobras vindo em minha direção.
"Não se mexa" - David sussurra.
Eu não pensava em me mexer mesmo.
Uma das cobras passa em meu pé, fazendo com que eu me desespere, e me mexa.
David rapidamente se levanta e me puxa, fazendo com que eu corra por onde não há cobras. Alguma tentou vir para cima de mim.
Chegamos na parte de trás da casa. Havia uma pequena escada que dava ao telhado lá.
"Suba!" - ouço.
Olho para o lado e vem vindo uma cobra, então começo a subir rapidamente e David logo atrás de mim.
Chego ao telhado, então a escada começa a se mexer.
"DAVID!"
Seguro, mas não aguento por muito tempo.
A escada cai, e por sorte David consegue se agarrar ao telhado.
Com muito esforço, o puxo pra cima, então ele me abraça, beija minha testa e diz:
- Conseguimos. Fica calma agora minha pequena princesa.
Me acomodo em seus braços e ali me sinto segura. Mesmo que por minutos.
David era mesmo o meu anjo da guarda.

De repente, boneca. - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora