Capítulo 17 - Diante de meus olhos

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             ● Flash back on ●
Era um sábado, fazia frio. Estava em casa com meus pais. Assistíamos um filme qualquer na televisão, até que mamãe recebeu uma ligação:
- Alô?
- É ela mesmo.
- Como isso aconteceu?
- Meu Deus, quando será o velório?
- Tá ok, obrigada por avisar.
Papai perguntou a ela o que houve, então ela se sentou, pegou em minha mãozinha e disse:
- Filha, sabe a sua amiguinha da escola Gabi? Então, o papai dela foi morar com Deus e agora ela está muito triste. A gente precisa ir falar com ela em um lugar onde damos tchau para as pessoas que vão viajar pro céu. 
O papai de Gabi foi pro céu...
Mamãe me colocou um vestido preto, fez uma trança em mim. Ela vestiu uma calça preta e uma blusa também preta. E o meu pai a mesma coisa.
Eles estavam tristinhos.
Quando chegamos lá, vi Gabi chorando muito e fui abraçar ela.
"Gabi? O seu papai foi pro céu. Porque esta chorando?"
"Porque ele não pode ir pro céu e ficar comigo ao mesmo tempo Cami, eu vou sentir saudades"
A gente deu tchau pro papai dela e Gabi não parou de chorar. Então perguntei para o meu pai:
- Papai, você não vai pro céu nunca, né?
"Filha, todos vamos pro céu um dia. O papai também vai. Mas mesmo quando papai for, ele não vai te deixar, eu vou estar sempre segurando sua mão minha filha. Você vai ter que ser forte, e um dia, nos encontraremos lá."
          ● Flash back of ●
Meu papai foi para o céu. E eu quero ir também.
Christopher ja tinha anunciado outro jogo. Mas eu me recusei a ouvir o que era e mais ainda, me recusei a participar.
Não me interessava se Christopher me mataria por isso. Era o que eu queria. Morrer. Como o meu pai.
Minha mãe jogava chorando e David sempre me olhava preocupado.
Vi eles sentados em rodas. E vi que David precisou se cortar.
Depois, não vi mais nada.
Me encostei na parede, fechei os olhos e só chorei.
O corpo do meu pai ainda estava perto da escada, fui até ele e me deitei em seu peito.
Fiquei lá por um bom tempo.
Até Christopher descer e dizer:
- Você tem certeza que vai me desobedecer? - riu - Você ainda tem uma mãe. 
"Sai daqui desgraçado, você matou o meu pai!"
Senti meu rosto arder e percebi que ele me deu um tapa.
Na mesma hora vi um vulto, alguém foi pra cima dele.
Era David.
Eles lutavam no chão.
Me desesperei ao ver que Christopher tinha uma faca. Ele quase acertou David, mas o mesmo fez com que a faca caísse ao chão.
Agora David ja estava por cima, ganhando a luta então joguei a faca pra ele.
O mesmo fincou a faca no peito de Christopher e pareceu paralisar quando ele fechou os olhos.
Morreu? Christopher morreu?
"Vamos!!!" - disse David.
Júlia acordou John com algum esforço e todos seguimos correndo. Subimos as escadas e então me lembrei que não conseguiríamos sair dali sem uma chave.
Voltei ao Christopher e procurei a chave. Eu tinha encontrado. Mas ele abriu os olhos.
"Ele não está morto. Corram!"
Todos correrram e eu fui logo atrás.
Fechamos o porão e Anna disse:
- Vi uma passagem secreta na sala. Vamos ver onde dá!
Corremos para a sala logo atrás de Anna, então ela arrastou um tapete e realmente tinha uma entrada ali.
Ela não conseguia abrir. Então todos a ajudamos. Estava emperrada. Mas conseguimos.
Olhamos e lá embaixo havia uma escada.
David foi primeiro. E eu logo atrás.
Anna foi por último e fechou a portinha.
La dentro era escuro, não conseguimos enchergar nada.
Então todos foram encostando em cada partezinha da parede, até que Júlia gritou:
- Aí, quase quebro minha unha nesse buraco.
"Buraco?!" - todos exclamamos.
David foi ver e disse:
- É um túnel gente!!
Eu fui ver e realmente era. Peguei nas mãos de minha mãe e entrei com ela. David veio atrás com a mãe, e logo depois as meninas e o John por último.
O túnel deu em outro quarto. Mas agora mais claro.
Pude ver uma escada que dava em outra entrada. Ou... Saída!!!!
"David, ali."
Ele subiu primeiro e gritou que a porta parecia trancada.
Não havia nada para nos ajudar abrir. Todos pensávamos em um jeito até que o túnel se fecha e ouvimos:
- HAHAHAHA, peguei vocês de novo. Entendam que não há como sair daqui. Bem vindos ao cantinho da tortura. E preciso avisar que terão que dividir o espaço com alguns bichinhos.
Olhamos todos para o chão e estava tudo cheio de minhocas, baratas e besouros.
Júlia ia gritar, mas de repente o cômodo foi invadido por um gás.
"Acho melhor não respirarem isso. Podem morrer asfixiados." - ouvimos e na mesma hora, minha visão ficou preta e eu cai no chão.
Ouvi David gritar por mim, e minha mãe ofegante gritar "não", pude ver eles mais uma vez.
David tampava o nariz e pegava em minha mão.
Eu estava no colo da minha mãe que chorava e gritava.
Júlia parecia desmaiada.
Laura gritava por Christhopher.
E John caia ao chão.
Tudo estava em câmera lenta e depois um clarão.
Desejei com toda minha força que aquilo fosse apenas um pesadelo. Desejei acordar e ter 6 anos novamente.
Eu procuraria Christopher e pediria desculpa e denunciaria a mãe dele.
Eu abraçaria mais a Gabi e diria o quanto eu a entendo.
Aproveitaria mais os meus pais e viajaria o mundo a procura de David.
Eu ficaria atenta para que ninguém entrasse em meu quarto. Até procuraria Júlia e diria para que ela não traisse Christopher com John.
Procuraria Laura e diria a ela que Christopher é o teu melhor amigo, e precisa continuar sendo.
Diria a Lucas para nunca chegar perto de Laura, pois isso o custaria a cabeça.
Dizem que antes de morrer, nossa vida passa diante de nossos olhos.
A minha passou.
Eu vi tudo que fiz, tudo que desejei.
Meus sonhos passaram diante dos meus olhos.
Pensei em meus pais e em David.
Vi desde o meu nascimento até aqui e só pude pensar:
Eu morri?

De repente, boneca. - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora