Capítulo 6 - Querido diário

11.6K 1.2K 85
                                    

Acordo e estou no quarto. Do lado da cama, está David me olhando atentamente.
"Bom dia, bela adormecida. Como está se sentindo?" - diz, pegando uma maleta de primeiros socorros.
"Meu corpo inteiro dói. O que vai fazer com essa maleta?"
"Cuidar de você." - ele me responde determinado.
Levanto as sobrancelhas, então ele parecendo ler meu pensamento continua:
- Calma, hoje é domingo. Christopher sempre sai logo cedo e só volta de noite.
"Christopher? Esse é o nome?"
"Sim. Mas ele não gosta de ser chamado assim" - respondeu, ja abrindo a pequena maleta.
Fiquei olhando atentamente pra ele e me peguntava o porquê de um garoto tão legal estar aqui obedecendo ordens do meu raptor.. Christopher.
Soltei um pequeno grito quando ele estava cuidando de minhas queimaduras no braço.
"Isso está cheio de bolhas. Você precisava de um hospital"
"Experimenta falar isso para aquele homem. Acho que ele vai querer brincar de ser médico" - respondo sarcástica.
Ele solta uma risada, e então não consigo conter a pergunta:
"Porque você está aqui?"
"Por você."
Me assusto e faço cara de quem não entendeu.
"Eu sei, não entendeu. E nem entenderá agora. Mas um dia, eu prometo te contar tudo. Detalhe por detalhe. Poderia falar pra você descansar agora, mas ja dormiu por dois dias, bela adormecida."
"O QUÊ?" - gritei espantada.
"Christopher aplicou algo em sua veia assim que desmaiou."
"Filho da...."
"Calma, não vale a pena." - me interrompeu.
Ele fechou a maleta de primeiros socorros e estava se retirando do quarto quando o interrompi, dizendo: "Não há jeito de sair daqui?"
"Bom, eu nunca tentei." - respondeu e logo saiu.
Nunca tentou?  Que?  Ele é maluco?
Oque ele faz aqui com esse psicopata?
Ele literalmente não pode ser minha única chance de sair daqui.
Lembro o que David disse sobre Christopher ter saído então decido andar pela casa, em busca de respostas.
Ando pelo corredor e fico impressionada ao ver a cópia exatamente igual de minha casa, até que..
Aquele quartinho não lembro de ter em minha casa.
Uma porta de madeira ja velha, e na frente uma placa "entre e se arrependerá".
Ao ler aquilo, pude imaginar meu raptor falando, então decido não me meter ali.
Dou meia volta até que escuto uma voz:
- Sempre quis entrar ali.
Era David.
Me virei para ele e disse:
- Então, vamos?
Ele me olhou temeroso, mas assentiu com a cabeça e veio até mim.
Dou um passo a frente e logo sou puxada por ele.
"Que foi?" - pergunto.
Ele segura a minha mão e da um passo a frente.
Me sinto corar, mas apenas o sigo.
As mãos dele... As nossas mãos... Meu Deus, não consigo explicar a sensação ao ver aquela mão se entrelaçando na minha. Parece que nasceram uma pra outra. Nascemos um pro outro.
Heeeeyyy Camilla, calma aí né? Você nem conhece esse rapaz direito. Sem contar que você tem coisas piores para se preocupar agora.
"Então, quem abre?" - pergunta fazendo-me acordar de meus pensamentos.
"Você!"
Ele me olha com uma cara de negação, mas abre.
Solto a mão dele e coloco a mão na boca. O quarto parecia de menina.
3 estantes cheia de boneca. Uma cama normal, mas ao lado uma mesa pequena onde havia bonecas repartidas. Uma sem cabeça, outra sem os braços e outras sem os olhos.
"Meu Deus, esse cara é doido" - digo entrando para o quarto.
Quando entro, me assusto mais ao ver uma prateleira cheia de faca, de todos os tipos. E em outra, armas. Muitas armas.
Corro para uma pequena cômodazinha onde há várias gavetas e começo a procurar indisparada por uma chave que me tirasse daquele lugar ou então, respostas.
Nada de chaves. Porém, um pequeno livro escondido em meio a roupas.
Pego, sento na cama e começo a ler.
Querido diário. (20 de Janeiro)
Vou começar a escrever aqui, porque me sinto sozinho.
Vi em um filme um garotinho que se sentia assim. Ele tinha um diário. Ele era seu melhor amigo.
Hoje mamãe me cortou o rosto porque eu disse que queria ir a escola. Ela disse que escola é pra criança idiota e que se eu falasse sobre isso mais uma vez, iria pro quartinho do castigo.
O quartinho do castigo é ruim diário. Lá tem ratos e baratas.
Quando vou lá, fico trancado por muitos dias e eu fico com muita fome.
Mamãe não me da nada de comer e nem de beber. A não ser pelas vezes que ela me obriga a comer baratas.
Eu fico muito triste com ela diário, mas ela diz que me ama...
Christopher Teixeira, 6 anos.
Levo a mão na boca ao ler aquilo, e antes de pensar em qualquer coisa, David diz:
- Temos que ir. Christopher chegou cedo.
Em uma atitude desesperada, guardo o livro debaixo de meu vestido e corro para meu quarto.
David diz tchau e me tranca lá.
Após alguns minutos, ouço gritos e me lembro:
A porta. Esquecemos de fechar a porta.
"CAMILLA, VOCÊ ENTROU EM MEU QUARTO?" - grita furioso.
Se aproxima do quarto e chega a girar  maçaneta, até que David grita:
- FUI EU!!!! ELA FICOU TRANCADA O DIA TODO.
Ele parece largar a maçaneta e solta uma risada, dizendo:
"Vá ao porão e me espera lá. Vou te ensinar a não entrar mais lá."
Penso em gritar, assumir toda a culpa, mas ele me mataria. O medo não me deixa dizer nada.
Logo escuto alguém batendo a porta, e passos pelo corredor. Percebo que Christopher foi ao porão e começo a chorar.
Foi eu que levei ele pra isso tudo. A culpa é minha. Agora ele vai sofrer nas mãos daquele psicopata.
Que idiota, Camilla!
Escuto barulhos de chicotadas e gritos. Muito gritos de David.
Isso dura por minutos e só consigo chorar, quando de repente, não ouço mais nada.
"Agora sim, posso sair e resolver meus problemas. Tchauzinho!" - escuto Christopher dizendo e rindo logo em seguida.
David.. Oh meu Deus.. A dor parou, ou será o coração?

De repente, boneca. - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora