Capítulo 14 - Onze horas

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Seis horas. Ja tinham se passado seis horas e estávamos na mesma posição. E o pior, fazia um calor desgraçado.
Estava todo mundo muito estressado com a situação. Várias vezes Júlia discutiu com John e minha mãe com meu pai.
Não conseguíamos mais conversar sem gritar um com o outro. Mas também era impossível pela situação em que estávamos.
"Comam frango!" - de repente ouvimos.
Como robôs, automaticamente nos abaixamos e comemos.
Minha coluna fez um "creck" quando me abaixei e senti uma dor horrível ao me levantar.
Júlia era daquelas patricinhas irritantes, e começou a gritar quando quebrou a unha.
Voltamos ao nosso lugar.
David cuspiu a poeira que tinha comido junto com o frango e me olhou com olhar de misericórdia.
Não aguentava mais aquilo. Ninguém mais aguentava.

O silêncio tomava conta do lugar até que Anna falou:
- Eu não entendo porque Christopher faz isso.
O que? Ela tinha dito que não entende?  Não pude me segurar.
"Ah, você não entende? Então deixa que eu vou te explicar. O David que me desculpe, mas é porque ele teve uma mãe filha da puta. Que o batia, abusava dele quando era apenas uma criança. Ai chega com o discurso de que ele te batia, te violava. Por favor né. Não senti o mínimo de pena de você minha senhora, pois fizera com ele muito pior do que isso"
Todos me olhavam abismados, exceto David que tinha abaixado a cabeça.
"Quem é você pra me dizer a respeito da criação do meu filho?"
"Qualquer pessoa desse mundo pode falar a respeito disso.
Isso não é criar um filho nem aqui nem na china, senhora." - disse minha mãe antes de eu dizer qualquer coisa. Anna começou a rir e falou:
- Ótimo. - revirou os olhos - Disse a mãe que ensinou a filha a desprezar um garotinho quando criança. Você não é merda nenhuma pra falar de mim querida.
Não aguentei. Christopher podia me matar. Mas ninguém se dirigia a minha mãe daquela forma.
Sem pensar duas vezes, voei ao pescoço dela.
"Você não fala com a minha mãe nesse tom não, tá me ouvindo?"
Eu podia matar ela a enforcando. Mas, fui interrompida quando Christopher abriu a porta.
"Venham comigo as duas. Vocês sairam do quadrado."
"Não mate minha filha, por favor!" - exclamou minha mãe.
"Cala a boca" - disse Christopher dando um tapa em sua cara.
Furiosa, arranhei sua cara com toda minha força. Ele olhou pra mim. Passou a mão na cara e viu que sangrava. Então, pegou em meu cabelo e assim me tirou daquele cômodo.
Anna veio logo atrás, sendo puxada por ele também.
Ele só me soltou quando fechou a porta e lá dentro, ouvia os gritos desesperados de meus pais.
Eu ia morrer. Eu ia morrer...

Ele nos levou lá pra fora, onde eu estive com David, e me largou em qualquer canto.
Eu caí de cara no chão quando ele me soltou e a mesma ficou cheia de terra. Pude sentir minha boca arder e um gosto de sangue me dizia que eu tinha cortado.
Ele pegou a mãe dele e a amarrou.
"Sabe. Por um lado a minha boneca tem razão. Você foi uma péssima mãe. Agora vou ser um péssimo filho." - disse tirando do seu bolso uma faca.
Ela gritava e isso só parecia o irritar mais.
Ele passou a faca em seu rosto lentamente e ela gritava mais e mais.
Eu podia sentir aquela dor. Não tinha pena alguma, pois colhemos o que plantamos.
Mas eu podia sentir em mim aquela dor.
"PARA!" - gritei sem pensar.
Então ele se virou para mim:
- O que disse?
Mordi os lábios e respondi:
- Christopher, eu sei que você sofreu nas mãos dessa mulher. Mas não, não use isso como desculpa para maltratar pessoas desse jeito.
Você não pode simplesmente se vingar de todos que te causarem algum mal. Isso é desumano.
Ele riu e respondeu:
- Então me considere desumano.
Logo em seguida, me deu um soco no nariz o fazendo sangrar. Ardia muito.
Ele foi até a mãe novamente que tentava sair dali se arrastando e lhe deu um pontapé em sua barriga. A mesma gemeu de dor no chão.
Ele pisou em sua cara e começou a rir. Ela tentava desviar o rosto. Mas ele colocava toda sua força.
Até que se irritou com a tentativa de luta dela e começou a chutar sua cara e barriga.
A mesma ja sangrava demais e gritou pra que ele parasse. Então, ele parou, saiu de perto, mas voltou novamente, se abaixou e cuspiu em sua cara.
Ele estava vindo até mim. Senti meu coração gelar. Meu corpo tremia de medo.
Ele quase matou a mãe só com chutes. O que poderá fazer então comigo?
Você vai morrer Camilla... Chegou a hora.... Você está morta agora...
A voz ficava repetindo essas frases em minha cabeça. 
Ele me deu um soco 4
e eu cai para trás. Ele se abaixou e pegou em meu pescoço.
Logo não conseguia mais respirar. Ele estava me sufocando. E quando achei que ia morrer, ele me soltou.
"Tenho planos melhores pra você, Camillinha. Não espere que eu te mate agora."
Outro soco e desmaiei.

Acordei e estava no porão. David me olhava do quadrado onde estava.
Minha cabeça doía muito e o mesmo com meu nariz.
Tentei levantar, mas o meu corpo não respondia.
Os meus pais agora dividiam o mesmo quadrado e choravam muito me olhando.
Júlia, Laura, John e Lucas me olhavam perplexos. E Anna... Anna não estava ali.
Me levantei e novamente cai.
Mais uma vez tentei e fiquei zonza, mas me segurei em pé e devagar fui até o meu quadrado.
David parecia zangado comigo.
Me sentei e sussurrei:
- Desculpa.
O mesmo me olhou e respondeu:
- Não Camilla. Você tem toda razão.
Ele ia falar mais alguma coisa, mas Christopher interrompeu dizendo:
- 11 horas. Ja se passaram 11 horas.
"11 horas só? Eu não aguento nem mais um minuto" - disse Laura chorando. 
"Nem eu. Uma unha minha foi quebrada. Esse psicopata tem noção disso?" - Júlia respondeu olhando para a unha quebrada.
"Meu Deus Júlia. Você corre perigo e se preocupa com uma mísera unha?" - disse John.
"Se é pra morrer, que eu morra com unha né..."
Todos a olharam, e então ela disse que estava apenas brincando.

De repente, boneca. - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora