Capítulo 11 - Gritos misteriosos

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Era um alívio enorme não ter mais que dividir um quadrado com cobras. Mas, quando David me disse o que viria agora, senti novamente desespero.
Quando eu estava dentro da casa, só bebi água uma vez. Quando David foi cuidar de minha queimadura e ele mesmo levou.
Como ficaria três dias sem agora?
David batia na porta toda hora, gritava a palavra "covarde" sempre se referindo ao Christopher por ele me deixar naquele estado.
É incrível a forma que ele tenta me proteger, me cuidar... Estávamos nos dando realmente muito bem.
Não é atoa que nos beijamos, né?
Ah, o beijo...
Ainda não havíamos falado sobre isso. Eu sentia meu rosto corar a cada vez que tentava. Porque fiz aquilo? Onde estava com a cabeça? Ele deve pensar que sou uma oferecida qualquer.
Só não posso mentir. Eu gostei. Gostei muito.

"Ja tenho sede" - falo, engolindo seco.
"Só estamos no primeiro dia. Terá de aguentar mais dois. Achas que consegue?"
Sinceramente, eu acho que não. Mas respondi:
- S-sim... Eu preciso - sorri - E você? Como se sente?
"Ainda não sinto falta de água. Me sinto com fome, apenas."
O primeiro dia sem água passou rápido. Apesar de, não termos feito nada, de ter ficado sentada o dia todo no mesmo lugar, passou rápido. 
Quando noite, me deitei no colo de David e o mesmo acariava meus cabelos até que dormi.

O segundo dia ja foi mais complicado. Sentíamos sede. Muita sede.
Procuramos em todo lugar algum tipo de torneira, ou qualquer outro lugar que nos trouxesse o que tanto
precisávamos. Água.
Nada. Não havia nada.
"Aquele miserável pensou mesmo em tudo" - falei nervosa.
David permaneceu em silêncio.
Hoje ele acordara estranho e eu ainda não havia perguntado o por quê.
Se ele quisesse conversar sobre, teria me contado. Achei melhor não me meter. Poderia ser apenas sede.
O sol está tão forte hoje que, 5 minutos fora da sombra ja é capaz de nos queimar a pele. E isso só aumentava a sede.
Clamei por chuva diversas vezes, mas David me falou que Christopher devia ter conferido a previsão e não faria isso se soubesse que choveria. E isso realmente fazia sentido.
Christopher era inteligente. Até agora havia pensado em tudo. Não deixaria tão facil para nós.
A tarde foi passando e o sol ja abaixara.
"Eu não aguento mais" - disse com a voz trêmula.
David me olhou preocupado e respondeu:
- Estamos no segundo dia. Amanhã a noite ele nos tira daqui. Por favor, seja forte Camilla, aguente firme - segurou minha mão - Eu também ja não aguento mais. Mas estou aguentando por você!
As palavras de David sempre me animavam. Mas hoje havia algo tão diferente nele que não consegui me animar. Eu precisava perguntar o que estava acontecendo. Mas agora só conseguia pensar em como eu desejava água naquele momento.

A noite finalmente chegou. Ja não aguentava mais tanto calor.
A brisa batia em meu rosto e por alguns minutos me permiti sentir aquilo.
Fechei meus olhos e pensava em coisas boas. Precisava achar algo que me fortalecesse. Pensei em meus pais.
Pelo menos eles estavam seguros.
De repente, uma voz ecoou na minha cabeça:
Não por muito tempo...
Abri os olhos e uma sensação horrível invadiu todo o meu ser.
Meus pais.
Oque acontecerá com meus pais?
Sem perceber, uma lágrima rolou pelo meu rosto, então David perguntou:
- Porque choras?
Rapidamente limpei meu rosto e disse:
- Os meus pais, David. Tenho saudades. E hoje ao pensar neles, tive um pressentimento ruim.
Vi sua expressão mudar. Ele ficou totalmente sério, perguntei o que estava acontecendo e não tive resposta.
"Christopher" - murmurou baixo ainda sério.
"O que tem o Christopher David?"
"Hoje passei o dia com um pressentimento ruim. E eu não sei porque, mas só pensava em minha mãe."
"Mas Christopher me disse que sua mãe tinha morrido."
"Eu sei. Quer dizer, não sei." - disse virando o rosto para o outro lado.
"Como assim não sabe?"
"Sabe Camilla. Eu não a vi em um caixão. Quem me contou sobre a sua morte foi o Christopher e minha avó. Mas depois de alguns dias, minha vó queria me contar algo, mas sempre voltava atrás.
E então, em uma manhã,  ela apareceu morta em nossa garagem.
A polícia investigou, mas depois de 3 meses de perguntas sem respostas, simplesmente desistiram do caso."
Não sabia o que responder. Era por isso que ele estava assim durante o dia. Porque sentimos algo em comum com nossos pais?
Até que aquela voz veio mais uma vez em minha mente, então repeti em voz alta:
4
- David. Sua mãe pode não ter morrido, Christopher pode estar com ela. Sua avó pode ter tentado te contar, e por isso aquele psicopata a matou. E agora, meus pais...
Ele pode estar com meus pais!
David arregalou os olhos e ficou me olhando perplexo com tudo que havia falado. Então cai em mim:
- Me desculpa! Eu não sei porque eu falei isso. Me desculpa, David. Eu não sei do que falo.
David assentiu com a cabeça e respondeu que tudo bem. Mas de alguma forma, aquilo poderia ser verdade. E sinto que David também pensava nisso.
"Deita aqui, você precisa descansar" - disse ele, me puxando para seu peito.
Encostei minha cabeça e logo, adormeci.

Acordei de repente. O meu coração estava acelerado e eu respirava como se eu tivesse acabado de correr muito. E na minha cabeça só vinha uma palavra:
Água.
David estava encostado na parede e eu ainda me encontrava em seus braços.
Lentamente sai, precisava respirar.
O meu corpo inteiro tremia muito. Me levantei e me senti zonza. Então me encostei na parede, quando de repente...
Gritos. Muitos gritos vindo lá da casa.
Cheguei mais perto e pude perceber, havia alguém lá.
Mas, quem?

Sem pensar duas vezes, balancei o David para que acordasse.
Pouco tempo depois, ele acordou assustado e perguntou:
- O que aconteceu?
Não precisei responder. Ele mesmo ouviu os gritos.
"M-inha.. M-ãe... Camilla!!!! É a minha mãe!!!!!"
"David. Não tem como ser sua mãe tá? Pode ser coisa da sua cabeça por termos falado nisso hoje. Ela está morta David. Dói, mas é a verdade."
Ele pareceu hesitante. Mas depois concordou:
- Mas.. Então quem está la dentro? Não podemos ficar aqui sem fazer nada. Christopher deve estar magoando alguém.
"Não podemos fazer nada David. Estamos trancados aqui, lembra?" - respondi me sentando.
Estava exausta e a cada vez que eu falava minha garganta arranhava.
"Você está mal né Camilla? Muito mal. Vejo em seu rosto. Seus olhos estão fundos, e seu rosto pálido."
"Sinto que estou desidratando"
Ele permaneceu em silêncio, se sentou e com uma expressão preocupada, ficou ali acariciando meu rosto.
Os gritos pararam. Imaginei o pior. Mas não havia nada que pudéssemos mesmo fazer. Estávamos trancados.

Adormecemos sem perceber. E quando acordamos, percebi que algo estava errado. David estava longe.
Fui ter com ele e perguntei o que houve e o mesmo apontou para a porta da casa.
Estava aberta.

De repente, boneca. - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora