Capítulo 27 - Pobres meninos

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Eu estava sentada a beira do riacho com Laura quando ouvi o casalzinho sussurrar e rir.
"Não demonstre o que sente. As pessoas amam ver o quanto te destroem, mas odeiam ver que não tiveram efeito algum sobre sua vida."
"Obrigada por estar sendo tão legal comigo, Laura."
"Não há de que." - diz, dando palmadinhas em minhas costas.
Molho meu cabelo com a água do riacho e o arrumo.
Ele estava a dias sem ser penteado e ja parecia um ninho de tão embaraçado.
Ele estava tão grande.
Em outro momento, eu comemoraria por isso.
David chegou por trás e perguntou:
- Estão bem?
Laura olhou pra mim e eu olhei nos olhos dele sem demonstrar fraqueza alguma e respondi:
- Estamos ótimas. - sorri - E você?
Laura me olhou orgulhosa e assentiu com a cabeça.
David fez que sim com a cabeça e se afastou meio sem jeito.
Eu ia contar a Laura sobre Anna, mas estava levando a sério esse assunto de não confiar em ninguém.
Ela me perguntou se eu me sentia melhor e eu disse que sim, então ela se levantou.
Meus pés molhavam no riacho e eu me lembrava de meus pais.
Se ao menos eles estivessem em casa, seguros.
Eu ficaria tão bem! Mesmo com tudo isso aqui acontecendo.
O bem estar deles sempre foi o que mais importou para mim.
Estava quase escurecendo, então me levantei e deitei na raiz de uma árvore.
Olhei para o chão e havia um papel caído.
Estava dobrado demais e tive dificuldade em abrir, mas consegui.
Laura percebeu e chegou perto para ler. Não pude evitar.
O papel dizia:
Existem coisas que você não sabe. Vou sempre te ajudar.
C
"Christopher?" - Laura perguntou.
"Eu não sei." - respondi abaixando a cabeça. 
O que é que eu não sei?
O que não estou conseguindo ver?
Eu preciso ver.
"Cuidado. Christopher pode estar brincando com você Camilla. É perigoso!"
"Eu sei, mas eu sinto que não é isso. Sinto que há coisas a serem descobertas."
Laura abaixa a cabeça e parecia que ia falar algo, mas logo desistiu.
Algo me diz que todos sabem de algo que eu não sei e isso está me irritando.
Ser sempre a mais frágil.
"Sinto saudades de Lucas." - disse.
"Eu te entendo. Sinto o mesmo com meus pais. Ele era mesmo seu melhor amigo?"
"Na verdade, ele é meu irmão. Eu fui adotada então resolvi ir atrás da minha verdadeira família. Descobri que meus pais morreram em um acidente de carro, só havia um irmão vivo. Lucas. Tentei explicar a Christopher, mas ele não parava de falar em matar, torturar..."
"Tudo isso porque não souberam o amar.. Christopher só é carente de amor."
"Estranho alguém concordar comigo nisso. Júlia acha que sou boba por pensar assim." - diz fitando Júlia e David.
"Bom saber que há mais alguém de bom coração por aqui." - sorri.
Ela ia me responder,  mas de repente, um grito.
"De onde veio isso?" - David disse.
Todos olhávamos atentamente para a mesma direção até que um vulto passou correndo.
De novo.
Laura segurava o meu braço e não desviavamos o olhar.
Então alguém correu.
Não conseguíamos ver.
Era rápido demais.
Até que vimos.
E ouvimos.
Um rosto.
Uma voz.
"Pobres meninos. Vão todos morrer."

De repente, boneca. - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora