Capítulo 5 - Falar como boneca.

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Essa aqui não é sua casa.. Eu estive em seu quarto.. E aí eu mato você...
Essas palavras ficaram se repetindo em minha cabeça como se fosse um eco. Eu não conseguia processar aquilo tudo.
Eu sentia raiva, medo e ao mesmo tempo pena. Por ter causado tudo aquilo a ele.
Mas eu era uma criança mimada. Não sabia de nada.
As coisas mudaram. Eu não sou mais assim. Não há motivo pra tanta crueldade!
Eu ainda estava na sala, do mesmo jeito que estava antes. Parecia estar paralisada.
O meu raptor ja tinha sumido e só estavam ali eu e o cara misterioso que "me servia".
"Talvez com fé, você saia dessa." - sussurou o homem pra mim, fazendo uma cara confiante.
Forcei um sorriso e não consegui responder aquilo. Eu não era o tipo de pessoa que tinha muita fé.
"Será que posso subir para o meu.. Para aquele quarto?"
"Pode. A brincadeira só começa amanhã."
"Brincadeira?" - perguntei, temendo a resposta.
"Sim. Amanhã você terá de fazer tudo que ele ordenar. Não serão as melhores ordens. Seja forte. Se prepare hoje" - respondeu.
Ele estava sendo legal demais comigo. Isso só me faz ter mais certeza de que ele também está aqui por pura obrigação.
Sai da sala aos poucos. Ao chegar na escada, me virei pra ele novamente e perguntei:
- Porque você está aqui?
Ele abaixou a cabeça, cruzou os braços e disse:
- Acredite, eu também não quero estar.
Sem entender, apenas subi às escadas e fui para aquele quarto.
Fechei a porta e me joguei na cama.
O meu quarto costumava ser o lugar mais seguro do mundo pra mim. E ao saber que no lugar seguro, eu era vigiada, me senti como uma criança desprotegida.
Olhava aquele cômodo e meu Deus. Era mesmo tudo igual ao meu quarto.
As fotos na parede. Os quadros. E até o guarda roupa com uma das gavetas quebradas.
Ele pensou em tudo.
Não pude conter as lágrimas. Apertei a "minha" almofada e chorei como nunca havia chorado antes. E sem perceber, adormeço.

"Papai?" - grito.
Sem resposta, me levanto da cama. Desço até a sala, onde vejo meus pais.
Eles estão caidos no chão. Corro até eles.
Sangue. Sangue por todos os lados. Eles estão mortos.
E de repente, um homem atrás de mim diz:
"Eles partiram, minha boneca."

Acordo assustada e vejo pela janela que escureceu e me pergunto por quanto tempo dormi.
Viro para o outro lado da cama e olho para a parede onde há fotos coladas.
Foco especialmente em uma onde tem os meus pais e fico pensando se eles estão bem.
Será que estão a minha procura? Ultimamente não estávamos nos dando muito bem. Mas saibam mamãe e papai, que sinto saudades.

Havia caído no sono sem perceber mais uma vez. E só acordara porque estava tocando aquele barulho horrível.
Me levantei e na mesma hora, através da caixa de som, recebi a seguinte ordem:
- Vista o que há no seu guarda roupa. Te dou 5 minutos.
Rapidamente abri o meu guarda roupa e verifiquei o que tinha ali.
Um vestido rodado, rosa. Um lacinho também rosa e sapatinhos vermelhos. Parecidos com o que eu ja estava.
Me vesti, sem banho algum, pois temia passar dos 5 minutos.
Sentei na cama e esperei por outra ordem até que a porta se abriu.
Fui ao corredor e logo:
- Siga o caminho de luzes.
Dessa vez, fui levada ao porão. O ambiente ja estava escuro e como sempre, havia apenas uma vela acesa.
Fui até ela, e vi que na frente, havia uma cadeira.
"Sente-se." - ouvi.
Me sentei e senti meu coração apertar.
"Hoje vamos começar finalmente a nossa brincadeira. Está preparada?"
Engoli seco, então, ele continuou:
- Me lembro que a boneca que você tinha estava vestida como você no dia que a vi. E lembro também que ela falava. Me lembro bem das seguintes falas: Tô com fome e vamos brincar.
Hoje você falará essas coisas, na ordem que eu disse, toda vez que eu te der um tapa. Não importa o que acontecer. Ou então, eu mando trazer os seus pais e os mato. Bem aqui, em sua frente. Entendido, minha boneca?
Afirmei com a cabeça e uma lágrima rolou em meu rosto ao me preocupar com meus pais.
Logo, o rapaz que me servia entrou, dizendo:
- Mãos para trás por favor.
Obedeci e ele amarrou-as bem forte com uma corda.
"Vamos começar" - disse o meu raptor.
Bateu as mãos e logo, as luzes se acenderam. Pude ver o seu rosto. E o seu olhar frio me trazia medo.
"Acho que me esqueci de uma coisa. Este aqui é o David. Ele está aqui para servir você, minha boneca.
Tomei a liberdade de pegar ele emprestado hoje para me servir. Acho que você não vai se importar." - diz, apontando pra David que estava com um prato de minhocas na mão.
Sem nada entender, observo enquanto David retira a vela da mesa em minha frente, colocando no lugar o prato de minhocas.
Eu não tinha medo de minhocas. Porém, tinha medo do que ele faria com aquilo.
Sinto o meu rosto arder e percebo que levei um tapa.
"Então boneca, qual é a primeira fala?"
Continuo em silêncio e começo a chorar quando entendo o que irá acontecer.
Mais um tapa e dessa vez muito mais forte, então grito:
- ESTOU COM FOME!!!
No mesmo momento, aquele homem começa a rir, e enche uma mão com minhocas. Com a outra, força minha boca, a abrindo totalmente.
Ele enfia aquilo em minha boca e eu não consigo reagir. Fico com a boca aberta, então ele enfia mais um pouco e eu começo a gritar descontroladamente.
Ele cospe em minha boca e diz:
- Você grita demais. Engula.
Não obedeço e continuo com a boca aberta.
Ele me dá um chute na barriga fazendo-me cair pra trás com a cadeira. Se ajoelha e sussurra em meu ouvido: "Agora engula"
Eu mastigo aquilo e engulo devagar, sentindo uma enorme vontade de vomitar.
David levanta a cadeira e logo estou de frente com meu raptor outra vez.
Então ele pega um isqueiro e diz:
- Agora vamos brincar de uma brincadeira que eu mesmo inventei. Eu queimo partes do seu corpo escolhidas por mim! - ri maleficamente.
Ele me da um tapa e logo me lembro da próxima fala.
"Vamos brincar" - falo, com a voz trêmula.
Usando o isqueiro, ele queima o meu braço.
Começo a gritar e me contorcer na cadeira de dor. Então, ele me dá outro tapa.
Imploro por misericórdia, mas ele não ouve.
Então ele passa para o meu outro braço. Sinto uma dor horrível e começo a chorar.
Ele para e diz:
- Repita a sua fala.
Não consigo dizer. Então ele grita, aproximando o isqueiro de meu rosto.
"VAMOS BRINCAR!" - grito, chorando muito.
"David, por favor, tire a roupa dela."
"O QUÊ? NÃO!" - grito, me contorcendo na cadeira.
David olha pra mim com um olhar de misericórdia e não obedece. Por conta disso, leva um soco em sua barriga.
"Deixa que eu mesmo faço então" - diz o meu raptor, tirando meu vestido de uma forma tão bruta que sou arranhada em todas as partes do meu corpo. Logo estou nua. Não sinto vergonha alguma, porque o medo não me permite sentir.
"Você quer brincar minha boneca, então que assim seja."
Ele aproxima o isqueiro de minha intimidade e eu grito pra que ele pare. Mas, ele ri e aproxima mais. Logo, sinto minha intimidade sendo queimada.
Me contorço de dor, e choro desesperadamente. Olho para David e imploro por socorro.
O mesmo me olha assustado, mas nada faz. Então me dirijo ao meu raptor, e pergunto: "Porque não me mata de uma vez?"
"Porque a morte, minha boneca, é uma vez só." - escuto e logo desmaio.

De repente, boneca. - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora