Grand jeté

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— Sakura! Leve isto a sério! Você não está se esforçando o bastante! Repita tudo e se errar...

Eram palavras há muito já conhecidas por mim, era sempre assim, se errasse um passo, se desse um suspiro a mais ela gritava comigo e eu recomeçava até acertar. Mesmo estando cansada ou dolorida, eu recomeçava. Não que seja masoquista ou algo do tipo, só não podia controlar, eu já havia virado uma boneca desde meus sete anos, era automático obedecer a eles.

Quem sou? Sakura Haruno, mas pode me chamar de Boneca se quiser, ou quaisquer outras coisas, não irei me importar de qualquer forma. Onde estou? No estúdio de balé mais cobiçado de toda Nova Jersey, o que para mim não é grande coisa já que estou aqui desde que comecei a dançar.

— Sakura, ainda não está bom, repita — gritou novamente as palavras já conhecidas, enquanto eu repetia a sequência.

A minha história é simples, como a de qualquer outra bailarina, bom, mais ou menos. Minha mãe era uma ótima bailarina, dançava lindamente, como todos os membros da minha família. Quando ela faleceu meu pai se perdeu na bebida e minha tia, Tsunade, pegou minha guarda. Ela não é tão ruim, na verdade chega até ser divertido viver com ela. Quando fiz sete anos disse à ela que queria dançar em homenagem a minha mãe, o que a deixou radiante, enfim como ela era dona de um estúdio não foi difícil me ingressar no colégio. Tsunade também mexeu no meu quarto, o deixando ainda maior, colocou alguns espelhos e barras e começou a me treinar. Aos nove anos já era a primeira da turma e com mérito.

" — Você será uma grande bailarina como sua mãe, Sakura"

Era o que todos diziam, o que, modéstia a parte me deixava muito feliz, a ponto de toda a noite me ajoelhar na frente da janela e dizer de olhos fechados

" — Mãe, hoje o professor disse que eu serei incrível como você quando crescer! Eu te prometo que vou conseguir, vou me esforçar o máximo para que você fique feliz."

Ou quando era uma crítica, ou estava dolorida, ficava ao seu lado chorando.

— Mais rápido! É isso que você chama de Grand jeté?!

Foi sempre assim, nunca me importei de faltar à aula na escola, não ter muitos amigos, nem com os gritos e nem com nada. Eu queria me tornar uma grande bailarina, esse sempre foi meu sonho... Bom, eu acho que foi, mas... E se eu estiver errada, e se na verdade o sonho nunca foi meu, mas...

Uma dor aguda em meu tornozelo quebrou minha linha de raciocínio e quando me dei conta já estava no chão borrachudo de linóleo. Tudo rodava em minha volta, fazendo com que as paredes brancas parecessem mais brancas, e o majestoso espelho, pequeno. A imagem de minha tia não passava de um borrão amarelo caminhando em minha direção

— Francamente... — disse em um suspiro se aproximando.

Não olhei para Tsunade, não queria ver seus olhos de desagrado, por isso preferi observar seus saltos como se fossem a coisa mais interessante do mundo. Ao menos era um belo par de scarpin. Tentei me levantar, apoiando as mãos com força no chão, mas não consegui por causa da dor, havia torcido o tornozelo que já começava a inchar.

— Não adianta, você está torcido... — comentou, com mais um de seus profundos suspiros. — Já chega por hoje, mas não pense que só porque está machucada irei deixar passar, você ainda será castigada pela falta de concentração hoje.

Assenti levemente com a cabeça, mantendo-a abaixada. Queria impedir o mínimo contato visual possível.

— Ande, levante e coloque gelo. Conversamos á noite.

A boneca e o bailarinoOnde histórias criam vida. Descubra agora