Prólogo

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Essa noite Kate teve pesadelo outra vez. Ela tem esses pesadelos pelas coisas terríveis que passamos no orfanato. Diferente de mim Kate não tem pais, eles morreram em um acidente quando ela tinha dez anos, isso por si já causava medo nela, mas depois que ela chegou ao orfanato tudo só piorou. Ela é três anos mais velha que eu, mas sempre pareceu que eu era bem mais velha. Todos os tormentos do orfanato não me assustavam, fui deixada lá pela minha mãe que não tinha condições de me criar, mas eu nunca tive raiva dela, acredito que o meu maior sonho é conhecê-la, mas já procurei por ela incansavelmente e nunca tive nenhuma pista de onde ela estaria. A única coisa que tenho dela e um perfume de nome Princess mas que provavelmente é bem antigo pois nunca achei onde vendesse, eu nunca uso ele só pego ele quando sinto uma dor de incerteza se vou ou não reencontra-la.

– Não, por favor não me deixe... Ahh... Lucy me ajude... – No começo eu não sabia o que fazer, mas depois de tantas vezes já era mais do que comum.

– Kate... Kate já passou. Pronto, pronto. – Deito ao seu lado e ela me abraça apavorada depois me olha com os seus olhos arregalados. – O que foi dessa vez? Com a Senhorita Margarete?

– Não. O... acidente. Era... Tão real. – Fala com dificuldade. – Eu vi o que meu pai fez. De novo. – Ela chora.

Eles estavam viajando para as férias, no meio do caminho o pai dela perdeu o controle do carro e eles bateram no acostamento da estrada e o carro capotou. A mãe de Kate morreu na hora da batida, seu pai sobreviveu mas viu que o carro iria explodir, então ele conseguiu tirar o cinto que prendia a Kate e a jogou para fora do carro e mandou ela correr e buscar ajuda, mais mal sabia ela que ele só queria tira-la de perto quando o carro explodisse. E então aconteceu, ela ficou dois meses em coma e quando acordou não se lembrava de nada, os médicos até acharam melhor assim, mas foi só uma perda temporária, assim que ela chegou no orfanato e tudo começou a acontecer, os pesadelos começaram.

– Tudo bem. Você tem que ficar calma. – Sussurro baixo. Isso já é mais do que normal. Tem dias que ficamos acordadas até o dia amanhecer.

– Desculpa te atrapalhar a dormir. Amanhã você levanta cedo pra trabalhar e eu...

– Pare com isso Kate. Não precisa ficar assim meu amor. Tudo vai ficar bem, eu te prometo, eu vou sempre estar aqui. Tudo bem?

– Tudo. – Ela sorri. Ela muda de humor tão rápido. – Eu conheci uma pessoa. – Fala mudando de assunto. Eu a olho seria. Kate e homens não dá muito certo, ela sempre se apaixona fácil, depois sofre e ninguém aguenta. – Não me olhe assim. Não vou me apaixonar. Eu prometo.

– Ah não prometa isso. Mana nos duas sabemos que isso não é bem verdade. – Falo e ela ri.

– Ah por favor, me dê um voto de confiança. Ele se chama William e bem carinhoso e eu tenho certeza que ele não vai me magoar...

– Não. Por favor não termine. Amor, você já sofreu muito. Você ainda é muito inocente pra tudo isso bebê. – Falo interrompendo-a.

– Olhe só, você fala como se eu fosse mais nova do que você. E você sabe qual é o meu desejo. – Reviro os olhos. O sonho dela e ser mãe. Acredito que o meu também mas não tenho certeza se eu serei uma boa mãe como a Kate seria. – Não faz isso. Eu já estou velha. Se eu não começar logo vou passar do tempo.

– Vinte e seis anos não é ser velha. Velho no meu conceito e a partir dos setenta.

– Setenta já é idoso. E que eu quero ser mãe do meu filho e não avó. – Dou uma gargalhada.

– Que exagero. Tudo bem. Mas fale para ele que se ele te magoar eu irei escalpelar ele. Não melhor. Vou matar ele, esquartejar e jogar pros cachorros comerem. – Falo séria e ela sorri.

– E por isso que eu te amo. Obrigada.

– Que isso gente. Uma demonstração de amor assim? Devia ter gravado. Katherine Granville em um ato inusitado.

– Ah, nem vem. – Ela puxa o cobertor e nos cobre.

Quinze minutos depois ela já está dormindo. Eu juro que não consigo entender como alguém pode dormir tão rápido assim. Fico olhando para ela e fico pensando como nos somos completamente diferentes, ela é loira olhos verdes mais ou menos 1,75 metros um sorriso lindo, corpo perfeito e bem cuidado e ninguém fala que ela tem tantos demônios que a atormentam. Eu sou o contrário, cabelo preto comprido um corpo bom pra quem não faz academia, só se for de tanto andar.

Eu trabalho em um Café não é grande e nem recebo bem mas dá pra pagar as contas, digamos que não seja muito fácil se manter em Los Angeles com um trabalho simples, mas nada e impossível. Kate também trabalha. Ela é vendedora em uma loja de luxo no centro, mas o salário também não e lá essas coisas. O que ganhamos da pra viver, mas não com luxo. Nossa casa não é uma casa grande, dois quartos com suite, uma sala conjugada com a cozinha, e uma área de serviço minúscula. Só Deus sabe o que passamos para conseguir essa casa, tivemos que deixar de fazer muitas coisas.

O relógio apitou marcando 02:45 a.m eu soube que já estava mais do que na hora de dormir ou então Ferdinand meu chefe ficará no meu pé. Não que ele seja um péssimo chefe, pelo contrário. Ele me ajudou e muito tudo que ele pôde fazer para mim ele fez mais um pouco. Ele adora fazer graça com tudo.

Não sei quando o sono me levou só percebi quando o despertador tocava extremamente alto me lembrando que era hora de levantar. Kate não estava mais na cama quando acordei, levantei contra a minha vontade, fiz tudo o que tinha que ser feito e fui para a cozinha onde Kate preparava o café da manhã. Ela só vai trabalhar as dez, o que seria um sonho já que eu tenho que estar no café até no máximo as oito, e agora era 07:20 a.m. ou seja eu estava no tempo ainda.

– Hum, que cheiro bom. – Falo sentando. – Hoje parece que a minha fome está fora do normal. – Sorrio.

– Volta pra cama. Não vai trabalhar hoje. Ficou até tarde acordada, deve estar cansada. Eu fico com o aluguel esse mês tudo bem?

– Não mesmo. – Bebo um gole do leite com achocolatado. – Mês passado você pagou. Esse mês sou eu.

– Mas você teve que pagar o médico pra mim. Não e certo. – Corta um pedaço do bolo e põe para mim.

– E claro que é... Isso foi uma emergência. – Falo de boca cheia. – Fica tranquila mana.

– Eu odeio quando você faz isso sabia. Oh menina teimosa. – Senta a mesa comigo e me olha seria. – Lucy eu estou com um mal pressentimento. Fica em casa hoje. – Kate tem disso. Esses maus pressentimentos. Ela é super sensitiva, eu sempre a escuto e fico em casa, mas hoje e impossível ficar em casa. Janete a outra menina que trabalha comigo não poderá ir, então serei só eu naquele caos.

– Oh meu amor, eu sempre te escuto. Mas hoje e impossível, a Janete já tinha dito que não ia hoje. Me perdoe. – Ela me olha com os olhos tristes.

– Então promete que vai tomar cuidado? – Pergunta já chorando.

– E claro que prometo minha linda. Eu vou ficar bem. E você também prometa que vai ficar bem. – Falo abraçando-a.

– Eu prometo.

Depois de despedir dela fui para o ponto esperar o ônibus pra mais um dia naquele calvário que era o café sem Janete.

O Poder da Sedução { Completo }Onde histórias criam vida. Descubra agora