Por Lucy.
Mal tinha amanhecido e eu já estava acordada. Pra falar a verdade, eu mal tinha pregado os olhos. Meus cochilos eram interrompidos por pesadelos e mais pesadelos. A voz de Ian, os braços fortes... seu corpo. A crueldade de suas palavras. Como alguém consegue ser tão baixo como ele? Como alguém consegue agir tão friamente?
Em pensar que...
Sparks se aproximou com seus miados de gatinho carente, exigindo ser alimentado. Dei-lhe um afago no pescoço e enchi seu pote com o resto que sobrou de sua ração.
- Você anda comendo demais. – Lhe disse.
Ele miou baixinho antes de passar por entre minhas pernas e atacar seu café da manhã. Tomei um longo banho para espantar a preguiça e fui ao mercadinho da esquina comprar a ração preferida de meu mascote. Ele já tinha mudado meus planos de passar o dia na cama ignorando o mundo.
Eu estava horrível. Com olheiras, cansada. Não de forma física, mas mentalmente. Eu queria e precisava manter a maior distância que eu pudesse de Ian, mas não se tratava de uma escolha minha. Estava longe disso.
Meus sentimentos não eram os únicos que importavam. Eu não podia simplesmente desistir. Eu era uma prisioneira.
Quando atravessei a rua, lá estava ele, em frente ao meu apartamento, encostado na porta do carro. Óculos escuros, bermuda jeans e regata preta. Sua cabeça balançava suavemente no ritmo da música que devia estar tocando no fone de ouvido. Estava tão distraído que não me viu. Ah, como eu queria ir até ele e lhe jogar umas verdades na cara. Meu coração saltava no peito e eu quis chorar, gritar, fazer um escândalo. Mas o principal: quis perguntar o porquê. Porém, permaneci ali, imóvel.
Troian. O rosto dela invadiu meus pensamentos. Depois Sash, Ashley. Várias outras garotas sem rosto que já sofreram, que sofreriam caso eu desistisse. Droga, droga, droga.
Antes que eu pudesse construir um plano de fuga, ele olhou na minha direção e abriu um largo sorriso. Sorri discretamente e obriguei meus músculos a se movimentarem.
- Oi, minha linda. – Ian disse quando me aproximei.
- Oi. – Respondi baixinho.
- Vamos dar uma volta?
Respirei fundo. Foi uma péssima idéia. Aquele perfume invadiu meus pulmões e me deixou meio tonta.
- Eu não posso. – Respondi por fim.
- Não pode. – Ele repetiu dando um breve sorriso. Ian tirou os fones e colocou no bolso. Abriu a porta do carro e estendeu a mão para que eu a segurasse.
- Não vamos demorar.
- Eu... – Cocei a testa. – Eu realmente não posso.
- Tem alguém mais interessante que eu te esperando? – Um sorriso brincou em seus lábios e ele tocou meu rosto de leve. Foi como um choque. Abaixei meu rosto reprimindo toda a repulsa que estava sentindo.
Ele não desistiria tão facilmente.
- Eu tenho que ver a Sasha. – No instante que disse isso, me arrependi. Ian tirou os óculos e me encarou com o cenho franzido.
- Sasha? – Perguntou. – Sash? O que vai fazer com ela? Vocês por acaso são amigas?
Ele estava visivelmente preocupado com essa aproximação. Claro, Sash poderia estragar seus planos.
- Nos conhecemos na biblioteca. – Dei de ombros.
- Na biblioteca? – Ian ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços.
- Isso. Ela me pediu ajuda em um trabalho, porque estávamos lendo o mesmo livro de genética.
Ian me encarou por longos segundos como se estivesse analisando cada palavra que eu tinha dito. Estava morrendo de medo. Eu quis rir.
- Você gosta de genética? – Ian perguntou como quem não quer nada, desviando o olhar.
- É, um pouco.
- Entendi...
"Você pode brincar". Quase pude ouvir a voz sapeca de Sash em meu ouvido e não pude conter um sorriso.
- Vocês são amigas a muito tempo? – Quis saber ele.
- Quem? – Fingi.
- Você e... ela.
- Sasha? Ah, não. Algum tempo, eu acho. – Disse despreocupadamente.
- Mas são amigas mesmo ou só colegas?
- Por que está tão interessado? – Cruzei os braços e o olhei fixamente nos olhos.
- Interessado, eu?
- Você.
Ele soltou o ar preso em seus pulmões numa arfada e pôs as mãos no bolso.
- Não estou.
- Está sim. – Insisti, contendo a risada.
- Eu só não fazia ideia que eram próximas. – Ian tentou se explicar. Seu desconforto era óbvio mas não durou muito, parecia até que ele estava com ciúmes. Aquele Ian convencido de seus poderes deu as caras novamente.
- E nós dois? – Ele se aproximou e prendi minha respiração.
- O que tem?
Ele riu e tocou meu queixo, me puxando suavemente para um beijo. Foi o beijo mais longo da minha vida. Doce e torturante. Foi uma total mistura de sentimentos contraditórios. Eu podia sentir seu hálito fresco em meu rosto quando nos olhamos. Ele passou a língua suavemente nos lábios e senti minhas pernas amolecerem.
Fechei meus olhos e suspirei. Merda.
O motivo da minha raiva era também o motivo de meu desejo. Pu/ta merda. Ian Harding é um desgraçado. Mordi meu lábio inferior e quando abri os olhos, ele ainda me olhava com a mesma vontade que eu.
- Você me quer. – Ian afirmou. Seus braços envolveram minha cintura e ele me encostou na porta do carro. Uma mão deslizou entre meus cabelos e a outra apertou minha coxa por baixo do vestido florido. Seus lábios encontraram os meus novamente, dessa vez num beijo quente.
- Nós estamos na rua. – Falei num sussurro. Ele se afastou meio ofegante e assentiu.
- Te vejo ainda hoje?
- Se tiver com sorte. – Pisquei de lado e aproveitei a deixa pra sair.
Antes de ir, Ian me deu um beijo leve nos lábios e sorriu. Assim que o carro virou a esquina, senti meus olhos arderem e logo já estava chorando. Entrei em casa como um furacão e me enfiei rapidamente embaixo do chuveiro na inútil tentativa de tirar o cheiro dele do meu corpo. Mas não adiantava, ele estava impregnado em mim.

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Todas Contra Ian | Lucian
FanfictionEle tinha tudo nas mãos. Ele tinha todas nas mãos. Ashley, a popular líder de torcida, Troian, editora chefe do jornal do campus e Sasha, a experiente aluna de intercâmbio. Elas se odiavam até descobrirem que compartilhavam o mesmo namorado, Ian Ha...