Vinho

199 33 60
                                    

Por Lucy.

Minha cabeça estava a mil, meu corpo doía como se eu tivesse passado o dia com uma tonelada sobre os ombros. Acho que destruída talvez seja o termo certo.

Droga! Meu coração pulsava descompassado e minhas mãos tremiam.

Eu só conseguia me encarar no reflexo do espelho enquanto tentava encaixar as palavras de Ian com suas atitudes. Eu não podia acreditar que ele estava me expondo daquela forma, não agora que eu...

Deus, eu queria tanto chorar, queria sentar no piso gelado debaixo do chuveiro sentindo a água escorrer pelo meu corpo levando embora tudo o que Ian me fazia sentir. Queria que a água morna fosse capaz de borrar o que ele tinha tatuado em mim.

Não seria pedir muito, não é? Bom, talvez fosse. Eu tô nessa por opção própria.

Passei as mãos entre meus cabelos e aspirei o máximo de ar que consegui, tentando encontrar algum vestígio de coragem dentro de mim.

Sim, Noah ainda estava ali e aquilo não foi apenas mais um dos meus pesadelos.

Ele estava distraído com o celular e não me viu sair do banheiro. Era incrível como ele não perdia aquele ar jovial. Sorri mentalmente ao me lembrar de seu desespero com os primeiros fios brancos enquanto eu tentava acalmá-lo dizendo que eu tinha alguns desde os 14. Foi em vão, claro, e no dia seguinte ele apareceu na aula com o cabelo raspado.

Ele ergueu o rosto pra mim e sorriu formando as mesmas pequenas rugas no canto dos olhos. O tempo só lhe fez bem.

Merda, quantas lembranças. Eu odiava minhas lembranças. Ainda mais quando elas me traziam velhos sentimentos esquecidos numa gaveta num canto qualquer da minha mente.

E enquanto eu dava um jeito no que Ian tinha feito, elas me bombardeavam sem dó. Tudo o que vivemos passava diante dos meus olhos como um filme.

- Eu não consigo mais fazer isso.

Me virei rapidamente pra frente cobrindo o rosto com as mãos, fechando os olhos com força.

Era tudo tão intenso, eu estava exausta mentalmente. Ele tinha que ir embora, eu preciso que ele vá embora.

- Lolita, você tá bem? - Senti seu corpo se aproximar e sua mão tocou meu braço.

- Não, não me toca. - Me afastei.

- Ei, calma. Você tá com medo de mim? - Perguntou, unindo as grossas sobrancelhas.

- Eu... eu já terminei de limpar o machucado. Você pode ir.

- Lolita... - Ele sussurrou.

O que estava acontecendo comigo? Nem o beijo me causou isso. Eu não devia estar tão abalada com a presença dele, eu... eu o odeio?

Tentei controlar minha respiração e desacelerar meu coração, mas nada parecia ser capaz de me ajudar.

- Você não quer falar comigo?

- Eu não acho que temos o que conversar. - O encarei.

- Não precisamos falar do que já passou, não quero te fazer reviver o que tanto te fez mal.

Sorri sem humor.

- Se não quisesse não estaria aqui, não acha?

- Só não quero tocar nesse assunto, Lucy. E você também não. Quer dizer, existem tantas opções para conversar e... Fazer.

Revirei os olhos. Homens. Noah.

- Ei, não leve pro lado sexual da coisa, Lolita.

- Ah ok, qual sua sugestão pra uma coisa não sexual pra se fazer? - Perguntei ironicamente.

- Sei lá, você tem vinho?

Eu tinha. E antes que eu percebesse, tínhamos bebido quase toda a garrafa do vinho que Jimmy me deu. Ele ficaria bem chateado de eu não ter dividido seu presente com ele, mas eu precisava disso.

Já estava quase amanhecendo enquanto tomávamos a última taça e ríamos dos nossos tombos no parque quando Noah achou que eu tinha equilíbrio o suficiente para carregá-lo na minha bicicleta.

- Eu sinto sua falta.

Noah disse e tocou levemente uma das minhas mãos e dessa vez não recuei. Pra falar a verdade, eu estava perdida demais para ter qualquer reação.

- Sei que não tenho o direito de sentir nada, mas... eu não sei não sentir nada.

- Eu achei que era pra sempre. - Murmurei. - Achei que era real.

- Você acha que não foi?

- Real era o seu noivado, Noah. Real foi a dor de te ver chegar de mãos dadas com outra enquanto eu achava que quando estivesse enfim livre do colégio, poderia gritar pra quem quisesse ouvir que eu amava você. Eu achei que era profundo, eu mergulhei de cabeça no nosso amor. Mas você mal tinha molhado os tornozelos. Me diz como alguém se afoga em algo tão raso? Me diz como se afunda em tão pouco?

Eu despejei minha mágoa sobre ele sem ao menos dar chances de defesa, eu tinha que aproveitar a deixa que o vinho me deu mesmo sabendo que não tinha sido uma boa ideia beber com ele.

- Você só lembra das coisas ruins? - Perguntou.

- Elas me deixaram marcas mais profundas.

Noah não disse nada por um tempo e desviou seus olhos dos meus. A áurea leve entre nós sumia gradativamente.

E foi então que fiz a coisa mais estúpida da noite, deixei meus dedos deslizarem por seu cabelo curto, como eu fazia quando ele estava estressado com provas e trabalhos, e segurei seu queixo virando seu rosto pra mim.

- Eu nunca quis que você sofresse. - Noah disse.

- Mas eu sofri, sofri pra caramba.

Me encostei no sofá, nos afastando e respirei fundo.

- Muito mais do que livros clássicos, poemas, frases inteligentes de grandes filósofos, lugares históricos ou posições sexuais, você me ensinou que a vida pode ser uma grande, imensa e gigantesca merda.

Arfei e minha cabeça começou a girar.

- É, ela pode ser. - Ele deu de ombros.

- E que não existe essa porra de príncipes e contos de fadas porra nenhuma. - Completei e ele deu um sorriso de lado.

- Mas também te ensinei boas coisas, não é?

- Você foi um péssimo professor, Noah. - Eu disse entre um sorriso.

- Pois é. Mas você esqueceu da parte mais importante. Eu te ensinei a amar, Lucy.

Ele sorriu antes de envolver minha cintura facilmente e me puxar para um beijo calmo e intenso. Puta que pariu. Ele ainda tinha o mesmo gosto, o mesmo jeito de brincar com as mechas do meu cabelo enquanto eu me desligava do mundo.

Mas que merda estou fazendo? Não! Karen Hale, NÃO!

Ian. Seu rosto invadiu meus pensamentos mas eu não conseguia me soltar de Noah. Talvez eu não quisesse. Talvez eu quisesse mais. Céus, o que está acontecendo comigo? Eu devo estar louca, meus músculos não obedecem meus comandos e Noah está praticamente sobre mim sem camisa. SEM CAMISA. Onde está a camisa dele? Suas mãos apertam minhas coxas por baixo da minha camisola me trazendo pra perto dele, juntando nossos corpos. Eu não conseguia parar.

Ian. Ian. Ian Harding. Meu Ian.

Eu não parava de pensar no desgraçado do Ian.

Ótimo, a campainha tocou.

Mais tarde posto mais um e lá pras 00:00 posto outro, estou bastante animada, os comentários de vocês me incentivaram muito.

Todas Contra Ian | LucianOnde histórias criam vida. Descubra agora