Coisas espontâneas

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Por Ian

Não me lembro a última vez que tinha tido um jantar tão agradável. Na verdade, estava além de agradável com aquela companhia tão divertida. Naquela noite, Lucy estava incrivelmente atraente, sendo sexy sem precisar usar um vestido decotado ou maquiagem extravagante. Ela estava naturalmente bela, mostrando cada detalhe facial que a natureza havia lhe presenteado. Na maioria das vezes, meus jantares com mulheres eram apenas mais uma das diversas formas de transar. E bom, aquele plano não tinha começado diferente. Porém, eu não imaginei que o que me aguardasse fosse uma garota simpática, inteligente, espontânea, engraçada, totalmente interessante.

Não acredita em mim? Bom, posso dar alguns exemplos. Como no momento em que perguntei se ela estava ficando com alguém. Lucy assentiu e isso me tirou o ar por alguns segundos, antes dela bebericar de sua bebida e murmurar para mim:

- Sabe o tal do amor próprio? - Seu sorriso dançou em seus lábios rosados pelo vinho. - Então, tô ficando com ele e nossa relação anda ótima!

Tinha como não rir daquela frase? Soava tão confiante, tão sincera. Teve melhor, quando eu perguntei sobre seus relacionamentos anteriores e ela me falou de um cara do colégio e quando questionei sobre o término, ela sorriu e passou a mão pelos cabelos:

- Gostava tanto do meu pé que o levou consigo na bun/da.

Gargalhei e ela continuou:

- Sério. - Disse, rindo. - Ele tentou reatar tempos atrás, porém tenho uma teoria muito boa: voltar com o seu ex namorado é a mesma coisa que comprar um carro usado que já foi seu. Volta com os mesmos defeitos, só que mais rodado.

Quanta perspicácia dela. Quanta inteligência, quanto humor. Pu/ta que pa/riu, de que lugar mágico tinha saído aquela mulher?

- Homens são complicados. - Ela disse, quase no final do jantar, quando o vinho já tinha efeito forte sobre suas ações. - Mais do que as mulheres. Eles parecem super legais, mas na verdade, estão esperando o momento certo pra magoar você. Explicando melhor: homem acelera, acelera, acelera... De repente, puxa o freio de mão e é você que roda.

- Não esqueça que está conversando com um homem. Mas... Sério que você pensa isso? Existem muitas mulheres por aí carregando sonhos de se casarem e dormir de conchinha pelo resto da vida. - Brinquei e ela revirou os olhos lindamente.

- Dormir em silêncio e esparramada até meio dia é dez vezes melhor do que de conchinha com seres e suas idiossincrasias nasais. - Lucy mexeu no prato com o garfo, porém não comeu.

- Isso é sério? - Ergui as sobrancelhas. - Prefere a solidão? - Perguntei, vendo-a assentir de leve.

- Sparks me faz companhia. - Dando de ombros casualmente.

- Seu cachorro? - Chutei e ela negou com a cabeça.

- Meu gato. - Disse sorrindo. - Homenagem a Nicholas Sparks, o melhor autor de romances que já pisou nesse planata. - Lucy disse isso como uma adolescente apaixonada por alguma trilogia de um autor bonitão, soou tão natural que eu tive que sorrir. Ela gostava de livros, e tinha um gato. E eu não imaginava mais "a garota solitária que conversa com gatos", mas era capaz de ver uma linda mulher doce, lendo seus romances com seu mascote no colo. Como se voasse para outro lugar, como se mergulhasse naquele mundo só dela criado pra ela em sua própria mente. E eu nunca, nunca, tinha pensando tão profundamente sobre alguém.

- Então, você é romântica? - Perguntei.

- Romântica? - Erguendo as sobrancelhas levemente. - Ah, não! Sou apenas eu. Sem definições, gato.

- Sem definições, gata. - Repeti brincando e ela abriu seu sorriso mais lindo.

Foi realmente um jantar maravilhoso. E depois, mesmo com o ar condicionado do carro, o calor dela emanava até tocar minha pele. O cheiro chegava facilmente até mim. Tudo parecia incrivelmente sedutor.

- Obrigada. - Sussurrou Lucy, assim que estacionei em frente a seu prédio.

- A seu dispor. - Respondi brincalhão, destravando o cinto, mas ela segurou minhas mãos.

- Não precisa. - Murmurou ela e eu encarei sua expressão por longos segundos. - Não se incomode.

- Tudo bem. - Assenti, fechando o cinto de novo. - Então...

Antes que eu terminasse a fala, sua boca quente invandiu a minha enquanto ela escorregava seus dedos por meu rosto. Fechei os olhos ainda surpreso, porém envolvi uma mão em seu cabelo macio e aprofundei minha língua em sua boca, trazendo mais intensidade para aquele beijo. Lucy afastou-se de leve, ofegante e com a boca brilhando na semi escuridão do carro.

- Adorei jantar com você. - Apenas os cantos de seus lábios estavam erguidos. - Tenha uma boa noite, Ian.

- Boa noite, Lucy. - Respondi, ainda sem conseguir acreditar que eu tinha aceitado aquilo numa boa. Não tinha sequer tentado mais um beijo, prendido ela no carro por mais alguns minutos para pelo menos ganhar um amasso, levá-la até a porta de casa e reclamar do frio para ouvir sua doce voz me convidar para entrar? Eu não tinha mesmo tentado nada disso?

Olhei pelo vidro meio aberto para ver Lucy acenar da portaria, antes de entrar no prédio e sumir de minha vista. Foi quando me senti a vontade para me xingar.

Joguei a cabeça no volante a primeira coisa que veio a cabeça foi "babaca". Noite perfeita pra ser convidado pra entrar. Noite perfeita pra transar com Lucy. Mas não, tinha que ter dado uma de amiguinho.

E agora, tinha que ficar com aquela dúvida pelo resto da noite. Olhando aquela morena e repassando suas falas, risadas e gestos na mesa durante a noite que tivemos, vi um sorriso sincero surgir em meu rosto. E que cara/lho de sentimento indecifrável eu estava sentindo agora?

As coisas estavam mudando. Eu só tinha que descobrir de qual forma. Eu ainda não entendia, mas tinha um toque diferente em tudo aquilo. Era como se Lucy fosse tudo o que eu sempre procurei monotamente em todas as mulheres. Ela preenchia o vazio que eu tentava sufocar, e sabia muito bem como fazê-lo sem parecer forçada. Era apenas sorrir, contar uma piada, ser ela como foi naquela noite. E eu, nem que fosse por alguns segundos, ao ver aquele sorriso esquecia que tinha um mundo rodando lá fora.

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