Leão faminto

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Por Ian.

Eu sei que o planeta gira naturalmente, mas o meu estava fora do normal. Tudo rodava e eu não conseguia definir o que era chão e o que era teto e nem o que estava pisando. Sim, eu assumi o risco tanto com a minha vida quanto com a dos outros quando peguei no volante, mesmo bêbado, e dirigi até o apartamento de Lucy. Eu podia ter ferido ou até mesmo causado a morte de um inocente, me julguem a vontade. Mas ninguém sabe como é querer muito ver uma pessoa.

Eu queria ver Lucy. Eu precisava vê-la. E sabia que não teria o azar de ser parado pela polícia duas vezes no mesmo dia. Então, lá fui eu. O prédio dela era próximo e as ruas, aquela hora da madrugada de um dia de semana, já estavam desertas.

O portão ficava sempre aberto e eu tinha descoberto isso quando visitei a morena de surpresa pela primeira vez. Sorri involuntariamente ao lembrar daquela noite e depois arrotei alto com cheiro de cerveja. Meu corpo tinha um sistema de auto defesa onde ele estragava sempre qualquer momento romântico. Não é minha culpa, sério.

As escadas acabaram comigo. Fui batendo com os ombros nas paredes e cheguei ao andar de Lucy com os braços doloridos. Estava prestes a vomitar, mas engoli em seco e sentei no degrau em que antes pisava. Okay, não abaixa a cabeça, não cai nessa cilada.

Só preciso falar com ela.

Respirei fundo para que o ar tocasse o fundo dos meus pulmões e o oxigênio chegasse mais rápido ao meu cérebro, fazendo com que eu raciocinasse com mais clareza.

Levantei quando senti a ânsia passar e sussurrei baixinho:

- Comporte-se, estômago. Só um pouquinho, depois você pode vomitar a vontade e expulsar toda essa porcaria de álcool.

Me aproximei da porta dela, imaginando o que Lucy pensaria ao me ver ali antes mesmo do sol nascer. Ela ficaria brava por eu acordá-la... Brava e linda.

Estendi a mão para apertar o botão da campainha, mas parei com o dedo no caminho quando ouvi risadas. Lucy estava acordada? E acompanhada?

Podia ser Ash. Ou o cara que trabalha com ela, Jimmy. Acho que são seus únicos amigos, pelo menos íntimos o suficiente para estarem em seu apartamento aquela hora.

Mordi o lábio e pensei em ir embora, dando meia volta, então ouvi uma voz masculina falar algo e Lucy rir depois. Tudo bem que minha mente alcoolizada não era muito confiável naquele momento, mas meus ouvidos ainda sabiam diferenciar um tom de voz masculino de um feminino.

Eu não ia me aguentar de curiosidade. A lógica dizia ser Jimmy, mas e se não fosse? Eu precisava ver com meus próprios olhos.

Virei rapidamente e esperei alguns minutos, tomando coragem. O silêncio então reinou no interior do apartamento e eu quis que aquela porta fosse de vidro, daqueles tipos de sala de interrogatório policial, onde eles não me veriam, mas eu poderia assistir tudo o que se passava no cômodo.

Então, tomei coragem e apertei a porcaria da campainha.

Não escutei nada e algum tempo depois, a porta foi destravada por dentro. Lucy abriu apenas uma pequena brecha, colocando a cabeça ali. Ficou branca como papel ao me ver e seus olhos estavam vermelhos de sono.

- Ian?

Quando ela falou, senti cheiro de vinho.

- Droga, o que você tá fazendo aqui? Você tá bem?

Eu não sabia o que falar. Quer dizer, eu até sabia, mas não conseguia. As palavras fugiram de mim e eu só conseguia pensar o que ela estava escondendo atrás daquela porta. Ou melhor, quem ela estava escondendo.

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