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          Tudo bem, pensou Zoey. Era fácil escapar dessa, não era? Fingir que não era com ela, apenas ela estava ali e mais ninguém. Fingir. Por mais que sempre usasse essa arma contra os monstros, Zoey não sabia usá-la direito. Era péssima nisso.

— Acho que ela não te escutou, mana. – Uma outra voz feminina, mais animada, pinicou em outra parte do corpo de Zoey: as bochechas. Ela estava começando a entrar em desespero; seu rosto ficaria vermelho e quente como se estivesse com ele dentro de água fervente.

Anda, pense em algo. Ela tinha que agir logo. A melhor coisa a se fazer naquele momento... era mesmo fingir que não era com ela.

Zoey recolheu suas adagas, assoviando uma música que escutou por esses dias e que não fazia ideia do nome, os olhos fixos na grama da colina. Ela poderia subi-la e imaginar que estava apenas dando uma caminhada, conhecendo a cidade de fato, como havia dito a Noah.

E foi isso que fez.

Era muito fácil ser identificado como Caçador de Recompensas Ilegal – ou clandestino. E quando você era registrado na Ordem, qualquer um poderia te reconhecer apenas com um objeto. Zoey já vira várias vezes um deles perambular no bairro onde morava antes, Lévis, e todos eles – homens e mulheres – usavam o brasão da OCRC: um corvo de asas recolhidas empoleirado em um crucifixo prata.

E Zoey não tinha aquele brasão. Uma hipótese percorreu pela sua mente: e se essas duas pessoas a tivessem observado? À distância? O coração pareceu cair para o lugar mais escuro e vazio nela.

— Mas que porcaria... – ela resmungou, os ombros encolhidos, seguindo em frente. O que ela faria agora...

Zoey chocou contra algo meio macio. Andando com a cabeça baixa, ela a ergueu para ver quem era, uma gota de suor correndo por sua espinha, gélida. Se ela entrasse em desespero bem ali, tudo iria por água abaixo.

— Eu te aconselho a não fugir, garota. – disse a voz. Ao Zoey erguer a cabeça, ela teve a visão de um quadro de uma deusa. Espere, não. Não uma deusa exatamente, mas de uma mulher muito, muito bela, semelhante às gueixas que Zoey já vira em alguma vez em sua vida. A mulher era alta e esbelta, com cabelos longos e ondulados, tingidos de prata, mas que lhe caiam como se fossem naturais. O rosto era fino, os olhos repuxados nos cantos, uma pequenina pinta logo abaixo do olho esquerdo; descendência asiática.

E aqueles olhos estavam encarando Zoey.

Ela deu um passo em recuo. Estava curvada e encolhida. Zoey fungou e engoliu em seco. Não dava para ficar naquela postura diante daqueles Caçadores. Assim realmente mostraria que era uma Caçadora ilegal.

Zoey se empertigou, encarando a mulher bonita de volta, retesando os ombros e segurando as adagas e o bloco de metal com mais firmeza, tentando disfarçar os braços trêmulos. Em cada lado da mulher havia duas outras pessoas, um rapaz e uma garota. A garota era um pouco mais baixa, os cabelos suavemente ondulados coloridos de rosa com dois coques acima, a pele da cor de avelã, os olhos acesos em curiosidade direcionados à Zoey seguido de um sorriso travesso. Ela trajava um vestido escuro e um sobretudo rosa.

O rapaz também tinha descendência asiática, os cabelos negros lisos bagunçados, vestindo um sobretudo marrom-pastel. E todos os olhos estavam direcionados à Zoey.

— Ela estava fingindo que não nos escutava, mana! – a garota de cabelos rosa soou indignada, colocando uma mão à frente a boca, desviando os olhos escuros para a mulher esbelta.

— Eu não estava fingindo. – rebateu Zoey, a voz saindo quase esganiçada pela mentira. Ela quis dar um tapa na testa. Sempre quando mentia... – Só estava procurando outra coisa que deixei cair no chão e...

Flower boys, thorn girls #1 [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora