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      — Acorda, sua maluca.

Ar gélido deu um tapa, estalido na pele de Zoey, o corpo encolhendo como um broto murchando. Resmungou quando o cobertor foi retirado de cima dela. Ela virou para o canto, cobrindo o rosto.

Me deixe, Noah. – Ela murmurou, as pálpebras pesando como duas âncoras. Ela sentia o corpo igualmente pesado, como se sua roupa estivesse encharcada de água.

— Seu celular despertou umas cinco vezes – disse o irmão, irritado. Zoey sentiu a mão dele segurar em seu calcanhar e puxá-la para baixo. Ela abriu os olhos e agarrou-se na cabeceira da cama. – Você vai se atrasar, idiota.

Noah a puxou com mais força. Zoey sentiu os músculos fracos demais e não aguentou; os dedos soltaram a cabeceira e ela escorregou ao chão com um baque surdo. Ela grunhiu em dor, as costelas doendo.

— Eu não quero levantar – Zoey choramingou, tentando abrir os olhos. O quarto estava iluminado pelos raios de sol que entravam pela janela. Noah surgiu em seu campo de visão inclinado, a encarando com a cara feia.

— Não levante para ver o que vai te acontecer. Hoje não é domingo para você estar nessa moleza.

Com um peteleco na testa de Zoey, Noah deixou o quarto.

Ela choramingou de novo, esforçando-se para se levantar, se apoiando nos cotovelos e sentou, o cabelo bagunçado. Zoey se sentia exausta, como se tivesse carregado caixas de chumbo, âncoras ou um navio inteiro.

Ela se lembrou de cada detalhe do que acontecera na madrugada daquele dia. Do que passara antes de acender o pavio, de entrar na galeria, de encontrar corpos com as cabeças decepadas e mais três pessoas que haviam sobrevivido, lutar contra um monstro no qual não fazia ideia do nome, fugir da galeria e dar de cara com uma forma esquisita que a atacou e...

Aquela constelação. Aquele escudo que a protegeu daquela forma sinistra.

Com os olhos inchados pelo cansaço, Zoey olhou para si. Depois de trinta minutos para se recompor do que ocorrera e recuperar o folego ao chegar em casa, ela só conseguira tirar as roupas pretas rasgadas pelos galhos e vestir uma camisa imensa e desabar na cama. E dormir. Dormir muito. E ela esperou que Rune estivesse bem. Quando recobrasse as energias, perguntaria a ela se estava tudo bem.

Zoey bocejou, sentindo o aroma de café fresco subir até seu quarto e circundá-lo, aquecendo-o. Ela percorreu o olhar dos pés e subiu até os braços. E congelou.

A constelação de Cassiopéia estava gravada no interior de seu antebraço esquerdo como uma tatuagem.

Zoey soltou um berro.

Zoey, você está bem? – Seus pais gritaram em uníssono, o tom carregado de preocupação.

O corpo dela começou a tremer e ela engoliu em seco, encarando a entrada do quarto com os olhos arregalados.

— Eu estou bem! – ela respondeu, tentando disfarçar o nervosismo da voz – Eu só cai no chão!

— Tome cuidado! – gritou Matthew e Zoey escutou um idiota de Noah.

Zoey voltou para o antebraço, os dedos percorrendo a tatuagem ou sabe os céus o que era aquilo. Ela aproximou-o do rosto, analisando, alguma coisa vibrando dentro do peito. As estrelas que formavam a Cassiopéia estavam interligadas em pontinhos, a cor num tom preto como nanquim, e essas estrelas estavam preenchidas em tons de lilás e azul e violeta. Zoey moveu o braço; a constelação se remexeu como se houvesse água ali.

Ela cobriu a boca com a mão direita. Como aquilo era possível? Por que tinha uma tatuagem ou sei-lá-o-que em seu braço? Por que...

Zoey tocou com o dedo indicador a constelação. Nada aconteceu.

Flower boys, thorn girls #1 [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora