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          O mundo pareceu se inclinar por um segundo após o barulho irritadiço. E se inclinou ainda mais quando ela encarava um par de olhos da mesma cor que os seus.

Carmesim.

Um rapaz alto de ombros largos, a pele escura e o rosto sério a fitava com os olhos acesos em rubro. Zoey sabia que os seus mudaram de cor e... Por todas as cadeiras daquela sala, então ele possuía os mesmos olhos que os dela?

Zoey engoliu em seco; o rapaz caminhou até a carteira a frente dela, sentando-se tranquilamente. Ela observou cada movimento dele com os olhos chocados. Suas mãos deslizaram das orelhas.

Até o dia anterior, ela nunca havia encontrado alguém que possuísse aqueles olhos. Aquelas três pessoas, agora aquele garoto. Zoey sempre pensou que fosse a única a ter aquela anomalia...

O rapaz olhava para o trio de garotas que haviam falado sobre contrabando de armas, as írises mudaram para cor de avelã. Zoey tapou a boca com a mão. Como ele conseguia alterar a cor tão facilmente como Kira? Será que ele era da Ordem... um espião que estava a seguindo?

— Ei, Nea – disse uma voz carregada de irritação e Zoey desviou o olhar. Um garoto magro de cabeleira escura com um cordão azul que pendia entre os fios próximo à nuca se aproximara do rapaz a frente, arrastando a cadeira de uma carteira ao lado, sentando-se nela. – Chris vai chegar depois do intervalo. A gente tinha um assunto para tratar, sabia?

Zoey soltou um risinho. Claro que ele não era um espião. Ela estava ficando paranoica demais. E aquilo era um estado de emoção. Ela procurou pelo celular no bolso da calça, pegando-o e se olhou no reflexo. Seus olhos voltaram a ser violetas. Zoey suspirou em alivio.

Ela ergueu os olhos e estava sendo observada pelo garoto do cordão. Ele a encarava de soslaio, e os olhos dele... Eram bicolores. Bicolores! Verde e carmesim!

— Vamos sentando, classe – Uma mulher entrou na sala, rumando até a mesa próxima a lousa. Ruído de cadeiras sendo arrastadas e pessoas correndo para seus lugares ressoou pela sala, todos se organizando.

Zoey fitou o garoto na mesma intensidade suspeita, vendo-o abrir um sorrisinho, e se virou.

A Maldição de Pandora, a voz de Kira sussurrou em seus ouvidos. Não era só Zoey que a tinha. E se não era só ela... Quantas mais surgiriam?

*

Zoey só sabia sentir alivio e gratidão quando verificou as horas no relógio e que os ponteiros estavam colaborando com a sua pressa.

Os três primeiros períodos foram tranquilos, sem que ela precisasse se levantar e se apresentar à sala inteira; um constrangimento a menos. Ao chegar o intervalo, os dois rapazes que ela havia encarado a ignoraram como se ela não tivesse a mesma coisa que eles, o que foi em parte bom e parte... ruim. Zoey sentiu o impulso de cutuca-los e perguntar se eles sabiam da razão para que seus olhos se alterassem e se possuíam a mesma força que ela e até... se nasciam galhos de suas peles. A questão pareceu esquisita na cabeça dela, mas se eles tinham a mesma anomalia...

Zoey lanchou ainda dentro da sala, sozinha com seus próprios pensamentos e ninguém para incomodá-la. Na verdade, ela era tratada como se já fizesse parte da escola há anos e, embora algumas pessoas a olhavam com certa dúvida – dúvida de quê, ela não sabia -, outras a jogavam sorrisos e até lhe davam um oi. Zoey não era muito boa em socialização de primeiro dia de aula, porém retribuiu os cumprimentos e continuou no mesmo canto, observando a paisagem além da janela.

Mesmo que não fizesse um interrogatório com aqueles dois garotos, Zoey preferiu esperar e conversar com Kira. Ela imaginou a General inventar uma história fantástica para persuadi-la a aceitar o tal favor misterioso no qual independente se era perigoso demais ou não, Zoey teria que concordar. E ela não conseguia pensar em algo mais perigoso do que lidar com monstros.

Flower boys, thorn girls #1 [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora