epílogo - Quem são, quem são?

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— Essas são as últimas! – avisou Zoey por trás do ombro enquanto levantava duas caixas pesadas de suprimentos, carregando-as até os carrinhos que as levariam até o estoque.

Um dos rapazes que estava levando os carrinhos gritou em resposta.

Havia se passado uma semana após o ataque da rainha em Québec. Logo quando a monarca fora sugada junto a sua peça para dentro dos céus, o Alarme de Emergência Máxima cessou; os monstros voltaram para as pequenas fendas e, desde então, nenhuma das criaturas sequer ousara irromper de A Fenda, deixando a cidade – e o mundo – numa paz estranha.

Bem, não exatamente paz.

Houvera muitas mortes, de todas as partes: Caçadores, habitantes e monstros. O total de mortes de pessoas fora de 906, um número elevado para Alarmes que eram acionados tão raramente. Isso provocara tantos funerais, tanto luto, tantas pessoas ainda trajando preto pelas ruas em lembrança das pessoas que se foram por causa de um desejo. Um jogo.

— Isso aqui é muito pesado – disse o rapaz de dreads, segurando as manoplas do carrinho, um risinho enquanto Zoey descarregava as duas caixas – Como consegue carregar duas de uma vez?

— Ah, eu também não sei – disse ela com um sorriso tímido, ajeitando o boné azul do grupo em que estava. O rapaz sorriu de volta e manobrou com o carrinho, entrando ao estabelecimento.

Zoey respirou fundo, sentindo os braços arderem enquanto observava as famílias lá dentro. O ataque provocara muita destruição de moradias e, quando o Governo se manifestara, ordenara aos habitantes que não haviam se ferido gravemente para que se reunissem em grupos nos quais ajudariam as pessoas que perderam suas casas. A construção das moradias havia muito começado e eram rápidos – famílias já estavam voltando para o conforto de ter uma cama boa para dormir.

Porém, ainda assim, observando as crianças dormirem em colchões finos, mães grávidas e pequenos grupos que perderam suas famílias, a construção de casas não poderia apagar o que acontecera. Um acontecimento que marcaria a humanidade para sempre.

E à Zoey também.

Quando o som das sirenes se aproximaram, ela, Lucca e Rune foram separados pelas ambulâncias que chegaram, cuidando dos ferimentos do trio. Zoey havia apagado quando uma das mulheres que a levou de maca lhe dera um tranquilizante nas veias, adormecendo-a. Acordara no dia seguinte em uma cama de hospital, seus pais e Noah vivos ao redor de sua cama. Por um segundo, ela pensara que havia morrido e ido para algum lugar, contudo, eles estavam lá, eram reais, sólidos, verdadeiros. Nenhum sonho do qual acordara e que nada, nem as armaduras, nem a rainha tivessem ao menos existido.

Noah e seus pais não tiveram ferimentos graves – foram protegidos pelos Caçadores, policiais e pelo subsolo em que estavam – e ficaram muito preocupados pela situação de Zoey. Ela ainda se lembrava da sensação ao acordar: a exaustão corrompendo seus braços e pernas nas quais não conseguia ao menos sustentar direito por muito tempo, a cabeça pesava como uma rocha e ela sentia dor em lugares que nunca imaginaria que sentiria. Os olhos doíam, até mesmo a garganta. Tudo doía de uma maneira horrorosa. Parecia até que havia mergulhado em um mar de dor e pesar, comprimindo cada membro e órgão do corpo.

Mas, para a sua imensa felicidade, Zoey tivera alta em dois dias. A médica que supervisionava sua saúde dissera que ela possuía um estado de recuperação impressionante.

Zoey também se lembrava do modo que seus pais conversavam com a mulher do lado de fora do quarto. Enquanto Noah desenhava ao lado de sua cama, ela conseguiu fazer leitura labial; a doutora havia mencionado sobre galhos que nasceram durante o sono dela e queria saber como aquilo era possível. A expressão dos pais ainda era fresca em sua mente; nervosos, mas dizendo algo que deixara a mulher calada e sem fazer perguntas à Zoey. Ela queria saber o que eles disseram para deixa-la assim.

Flower boys, thorn girls #1 [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora