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             Zoey teve que escutar um bombardeio de perguntas sobre a bicicleta após chegar em casa, mas o assunto foi deixado de lado rapidamente pela admissão de Noah em seu novo emprego numa casa de artigos de pintura.

— Você não precisa dar o dinheiro que ganha a nós – disse Nina baixinho enquanto Zoey cortava o tomate numa tábua na pia, ao lado da mãe.

Mas eu quero, ela quis dizer, porém manteve-se centrada cortando o tomate em rodelas desiguais.

Para que ninguém suspeitasse de onde o dinheiro veio – como todas as vezes -, Zoey dissera que ajudara um rapaz na floricultura próxima à cafeteria onde seus pais trabalhavam; então era uma meia verdade. Havia uma floricultura e um rapaz. Contudo, ainda era uma mentira; ela sabia.

E as mentiras doíam. Era como se todas as vezes que o fazia, uma pontada forte e pesada perfurava o peito de Zoey, fazendo a lembrar que um dia eles descobririam. E ela não saberia o que fazer.

— O importante é você estudar, conhecer coisas que te agradam, que tenha prazer – sua mãe continuou, jogando cebolas cortadas dentro de uma panela com água e temperos fervendo, o aroma flutuando pela cozinha, arrancando um gemido de seu pai, que organizava os objetos de uma caixa junto a Noah. – Conseguimos nos sustentar. E agora seu irmão está trabalhando, então isso vai nos ajudar. Não deveria se preocupar com isso.

Zoey engoliu em seco, observando suas mãos, seus dedos. Eles estavam repletos de cicatrizes por causa daquele incidente e lembra-lo fazia com que ela quisesse dizer que fez algo que lhe deu prazer, que a fez chorar de saudade: tocar novamente piano. A vontade de dizer entalou na garganta, querendo sair e ela o forçou, mas nada saiu. Se Zoey contasse, seus pais, Noah, se lembrariam e isso...

— Está tudo bem, Zoey. – Nina afagou as mãos de Zoey. Estava crescendo os galhos delas. Ela respirou fundo, e eles voltaram para sob a pele.

— Você é quem não deveria se preocupar – Zoey conseguiu usar um tom de brincadeira na voz, sorrindo e olhou para sua mãe. – E eu vou continuar dando dinheiro a vocês, querendo ou não.

Nina a encarou por alguns segundos e soltou uma risada, dando uma empurrada de leve na cintura de Zoey. Ela riu de volta, uma torcida no peito como um beliscão. Teria que mentir de novo.

*

Zoey se esparramou na cama após o jantar, e ficou olhando para o teto, o quarto iluminado pela lua lá fora.

Ela tinha uma missão hoje. Na verdade, várias missões, porém, a mais arriscada era a daquela noite.

O horário do Toque de Recolher chegaria daqui a alguns minutos e nada de mensagens de Rune. Zoey se ergueu, puxando a bolsa para si e a abriu, olhando a máscara. Ela franziu a testa, quase encolhendo o corpo.

A máscara tinha o formato de um rosto, branca como porcelana, com detalhes em tons roxos e rosas escuros, contornos delicados em torno dos olhos, a boca delineada em vermelho. A beleza solene e fria e assustadora. A Máscara de Veneza.

Quando Kalhy entregou as máscaras gêmeas a ela e Rune, Zoey demorou o olhar sobre a sua. Seus dedos percorreram lentos pela textura fria e lisa do objeto e aquilo ativou sensações estranhas nela, como se aquilo a fizesse lembrar de algo ou de um sentimento, uma memória, mas Zoey não conseguia saber o quê exatamente.

E ficar fitando a máscara era horripilante. Parecia que, ao encará-la, o objeto encarava de volta, e a paranoia foi tão grande que ela imaginou um par de olhos na escuridão da bolsa. Ela empurrou a máscara de lado e encontrou os brincos de cervo, retirando-os de dentro da bolsa.

Flower boys, thorn girls #1 [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora