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                      Lucca havia lhe enviado uma resposta, perguntando o quê exatamente iriam fazer aquela noite. Zoey, com um sorriso travesso, respondeu que descobrira o local onde o clube havia encontrado a tal coisa. O rapaz dissera que sabia onde ficava e que iria buscar Zoey no horário marcado para irem juntos.

Ela não sabia como ele viria – passara seu endereço pela última mensagem -, mas se não fizesse barulho o suficiente para acordar seus pais e Noah, estaria tudo bem.

Tudo bem uma ova. Estaria saindo outra vez na cara dura, como se todas as outras últimas vezes não lhe pesassem a consciência, como se um cutucar não alfinetasse seu coração. Pense no bem deles, Zoey. É a única coisa que vale a pena. A vida deles.

A cada movimento que fazia enquanto estava no quarto, preparando-se para sair, as alfinetadas já lhe cutucavam. Ao trajar a roupa, lá estavam as pinicadas. Ao manter o próprio silêncio; elas estavam lá. Zoey balbuciava um palavrão para cada uma delas.

A quietude reinava em casa, porém, fora dela, explodiam como trovões longínquos. Zoey sentiu um calafrio, pensando nos pais e Noah sozinhos depois que saísse. Não ficariam se você não saísse, uma voz pareceu sussurrar ao pé do ouvido. Ela a espantou com um balançar de cabeça.

O celular vibrou. Zoey o pegou, uma mensagem de Lucca.

Você já usou óculos? Fica diferente com eles? Se sim, eu vou levar um para você usar. É por precaução no caso alguém te reconhecer depois de hoje.

Zoey franziu a testa e mandou uma resposta. Ela já havia usado uma vez, fantasiada de Harry Potter, mas só daquela vez. E realmente ficava diferente.

Lucca lhe enviou outra mensagem, dizendo que chegaria em dez minutos, e para que ela fosse até a Pére-Marquette.

Tudo bem. Dez minutos. Zoey teria tempo de se redimir, pedindo desculpas aos pais por sair após o Toque, por transgredir tantas coisas, mas tudo em voz baixa e sem olhá-los nos olhos. Sua mentirosa, falsa, disse a voz outra vez.

Ela estava calçando o tênis quando o barulho de papel caindo no chão chamou sua atenção. O mesmo calafrio trespassou pelo seu corpo, no entanto, desta vez, Zoey não temeu. Não sentiu medo.

Erguendo o olhar até o chão, havia um envelope próximo a janela. Que estava fechada. Zoey fez uma careta, olhando para os lados. Amarrou os cadarços e andou até o envelope, abrindo-o, sentindo o costume de receber as cartas mesmo que fosse pela terceira vez.

E leu-a.

Os monstros cantam, os sinos badalam e as rosas murcham. Um tabuleiro é posto entre os jogadores, mas há cartas, há damas. O jogo não é só xadrez, não só baralho.

Não são os monstros as verdadeiras feras. Está ali, está lá, está aqui. Quem são, quem são?

Então algo se quebra, ou já se quebrou.

O coração tropeçou. A sensação de algo se aproximando se apoderou de Zoey, alguma coisa, sabia que havia algo em algum lugar, mas não vinha. Se vinha, não era capaz de vê-la. Tentou fingir que não dava a mínima àquilo, focando nas palavras da frase.

Os dizeres da carta pareciam um poema. Uma rima estranha, quase como uma música. Diferentemente das outras duas, ela conseguia entender. Não completamente, mas algumas faziam sentido. Não são os monstros as verdadeiras feras. Assim como a segunda, aquilo se referia aos homens. Zoey não era burra; a humanidade se esvaia a cada crueldade, corrompendo-se. Entretanto, havia um detalhe a mais, escondida, isso ela não conseguia ver.

Flower boys, thorn girls #1 [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora