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          Zoey leu aquelas palavras várias vezes com os olhos arregalados, processando o fato de ser sua caligrafia. Ela acessou as memórias em sua mente em busca se houve um dia que tinha escrito aquilo por simples momento de inspiração, anotando uma frase bonita ou que fizesse sentido.

Mas aquilo não fazia sentido e muito menos era belo.

Era sinistro.

Ela nunca anotaria aquilo e menos ainda ter colocado a carta em um envelope com um selo de cera. Talvez fosse Noah, tentando assustá-la? Ah...Claro que não. Não poderia ser; seu irmão possuía uma caligrafia completamente diferente da dela: rustica e inclinada. Seus pais - ah, nem pensar.

Seria de Kira, tentando mostrar que não se escapa da Ordem? Zoey tentou ser mais sensata e não dar tanta atenção às paranoias. Quando fosse até à Ordem para falar com a General, a mulher provavelmente perguntaria se Zoey recebera uma carta. Se isso acontecer, alguma coisa faria sentido.

— E se não for? – ela sussurrou, correndo o dedo no papel áspero.

As vozes de seus pais ressoaram e subiram até o quarto de Zoey, animadas. Ela teria que esconder aquilo e encontrar uma maneira de descobrir o remetente daquela carta. Sendo engano ou não, para Zoey ou não, a sensação que se assomou no peito dela não era nada agradável.

*

— Eu quero que vocês cheguem antes do Toque de Recolher – disse Nina, arrumando a roupa de Noah embora tudo estivesse no lugar.

— Sempre chegamos antes, mãe – resmungou Zoey, calçando os tênis, sentada no chão próxima a porta. Ela ficou grata por não ter que usar uniforme na nova escola e prender os cabelos no alto.

— E antes de voltarem para casa, passem na cafeteria – disse Matthew. Ele estava em pé ao lado de Zoey calçando pantufas, bebericando do café na caneca. Ela ergueu a cabeça a ele e ambos fizeram caretas esquisitas.

— Vocês sabem que eu tinha dito que iria à uma entrevista depois da escola – a voz de Noah saiu arrastada. Zoey gostava de provoca-lo nas manhãs pelo simples fato de ele parecer um garoto de 10 anos e não 18.

— Ah, é. – disse a mãe. Zoey desviou o olhar a Nina desta vez. Ela era dois centímetros mais alta que seu pai, os cabelos eram cacheados e escuros, os quadris largos sendo a única coisa semelhante que Zoey e ela tinham em comum apesar de não compartilharem do mesmo sangue. – Mas passe para nos ver do mesmo jeito.

Noah respirou fundo e tamborilou os dedos no topo da cabeça de Zoey, abrindo a porta e saindo de casa.

— Estamos indo. – disse com um aceno preguiçoso e uma olhadela para dentro de casa.

— Ah, espere, Noah – Zoey levantou num salto, virando-se para os pais e dando um beijo rápido em suas testas. – Estamos indo!

— Tomem cuidado! – gritou Nina quando Zoey saiu correndo em direção a escada.

Zoey passou pela recepção, vazia outra vez, sem Orla atrás do balcão. Antes de dormir no dia anterior, ela pensara bem em perguntar se chegara um envelope com selo de cera, mas a mulher de quarenta e poucos anos não estava sentada observando o pouco movimento do prédio enquanto ela previa o futuro das pessoas, conversando sozinha.

— Você sabe onde está Orla? – Zoey perguntou a Noah ao atravessar a porta do prédio, observando-o destravar a tranca da bicicleta de uma barra de metal. – Quando cheguei ontem ela não estava e hoje também não.

— Ela não estava quando cheguei das escolas. – respondeu ele, concentrado no que fazia. – Talvez ela tenha ido até uma casa para prever o futuro a pedido de alguém. Por que?

Flower boys, thorn girls #1 [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora