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                         A cabeça de Zoey pesava. Pesava muito, como uma pedra e seu corpo parecia feito de papel e não conseguia sustentar o peso.

Seus olhos estavam abertos, fixados ao teto. Naquela manhã, chovia, o som das gotas pingando rápidas lá fora, algumas batendo na janela fechada.

Naquela manhã, Zoey vomitou.

Ela acordara com a barriga doendo tanto, como se tivessem jogado alguma coisa muito forte ali e o estomago revirou. Ela desceu as escadas como um jato e chegou ao banheiro a tempo para jogar tudo fora na privada. Após terminar – pensando que até o coração sairia pela boca -, conferiu a situação da barriga, lembrando-se do causador daquela dor. Uma bola verde-arroxeada manchava sua pele e Zoey pensou que tivesse vida própria; porque, pelos planetas, o hematoma parecia pulsar.

Para seu alivio, conseguira trancar a porta do banheiro; seus pais acordaram com o ruído do vomito e perguntaram se ela estava bem, preocupados. Bem (bem ela não estava), mas tivera que mentir e ganhar algum tempo. Ao voltar para casa, não tinha percebido que as mangas de sua blusa estavam completamente aos frangalhos e ela estava com respingos do sangue dos monstros impregnados na pele. Tomou um banho no qual relaxara os músculos, porém, a barriga ainda doía.

Lembrara-se então do liquido que Lucca dera a ela. Após o banho – sua mãe tateando seu corpo para ver se tudo estava bem, se tudo estavam nos eixos –, Zoey correu ao quarto e tomou aquela coisa. Coisa pois o gosto era terrivelmente amargo e quase a fez vomitar tudo outra vez. Contudo, as dores estavam sendo apaziguadas gradativamente.

E ficara na cama desde então. Seus pais disseram que era melhor que não fosse a escola naquele dia para descansar da febre que surgira. Pediram até para que Noah faltasse para cuidar dela, mas Zoey protestou que ficaria bem. Receosos, eles seguiram para o dia chuvoso de trabalho, exceto pelo irmão, que dissera que poderia entrar na hora do intervalo.

A febre havia passado e mesmo assim o peso permanecia. Zoey tentou se erguer pelos cotovelos, mas ao tirar a cabeça do travesseiro, caiu na cama com um grunhido frustrado. Ela precisava levantar. Precisava ir ao colégio, precisava ir até as garotas do clube e saber mais sobre aquele cristal, falar com Lucca...

— Ei, maluca – disse Noah ao surgir na porta, subindo o restante das escadas e indo até ela. – Se sente melhor?

Zoey franziu a testa quando a mão dele repousou, verificando se estava quente. Ela o encarou e seus olhos refletiram um alivio silencioso. Em seguida, ele lhe lançou um olhar suspeito, muito suspeito, quase inquisitivo. Ela formou uma careta.

— O que foi? – Zoey indagou – Estou melhor. Pode ir à escola agora.

— Muito estranho você ficar assim do nada – Noah pressionou o dedo indicador no meio da testa dela – E eu ouvi uns barulhos ontem. Você ouviu?

O sangue de Zoey congelou. Estava explicado aquele olhar. Merda. Não tinha sido cautelosa o suficiente? Além disso, Noah dormia feito pedra quando ela saiu, enfiado naquele casulo de cobertores.

— Claro que não – disse ela, afastando o dedo dele – Deve ter sido dos monstros lá fora, dos Caçadores matando e tal. Deveria estar acostumado com isso. Em Lévis era mais frequente.

— Hum, mais frequente – ecoou ele, duvidoso – Consegue ficar bem sozinha?

— Já fiquei sozinha antes – ela respirou fundo. Os músculos doeram menos. Que alivio.

Noah ergueu uma sobrancelha e soltou um humpf, saindo do quarto. Zoey relaxou. Estrelas, ele poderia ter levantado e visto ela chegar naquele estado, ou até mesmo antes.

Flower boys, thorn girls #1 [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora