AFINAL, QUEM ESTA EM MOVIMENTO?

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A relatividade do movimento é a chave para a compreensão da teoria de

Einstein, mas é também uma fonte potencial de confusão. Você deve ter notado que

a reversão das perspectivas troca os papéis dos múons "em movimento", cujos

relógios, de acordo com a argumentação, andam devagar, e dos múons

"estacionários". Assim como João e Maria tinham, ambos, igual direito a considerar-se estacionários e atribuir ao outro o movimento, também os múons que dissemos

estar em movimento têm todo o direito a proclamar, desde a sua perspectiva, que

estão imóveis e que os múons ditos "estacionários" são os que se movem, na

direção oposta. Os argumentos apresentados aplicam-se igualmente bem a essa

perspectiva, o que leva à conclusão aparentemente oposta de que os relógios dos

múons que chamamos de "estacionários" andam devagarem comparação com os

dos múons que descrevemos como em movimento.

Já vimos uma situação, a cerimônia de assinatura aoacender da lâmpada, na

qual pontos de vista diferentes levam a resultados que parecem incompatíveis.

Naquele caso, fomos forçados pelo raciocínio básicoda relatividade especial a

abandonar a idéia enraizada em nós de que todos, independentemente do estado de

movimento, concordam a respeito da simultaneidade de eventos. A presente

incongruência, contudo, parece ser maior. Como podeser que dois observadores

proclamem que o relógio do outro é que anda mais devagar? Mais ainda: as

perspectivas, diferentes mas igualmente válidas, dos dois grupos de múons parecem

levar-nos à conclusão de que cada um dos grupos poderá afirmar que é o outro

grupo que morre antes. Estamos aprendendo a ver queo mundo apresenta

aspectos inesperadamente estranhos, mas sempre mantemos a esperança de que

isso não nos faça chegar ao absurdo lógico. Então, o que é que está havendo?

Como acontece com todos os paradoxos aparentes que derivam da

relatividade especial, também esse dilema lógico dissolve-se diante de uma boa

análise e traz novas percepções dos mecanismos do universo. Evitemos novos

esforços de antropomorfização de partículas e voltemos dos múons para João e

Maria, que agora levam em seus trajes espaciais, além das lanternas coloridas,

brilhantes relógios digitais. Da perspectiva de João, ele está estacionário enquanto

Maria, com a lanterna verde e o grande relógio digital, aparece à distância e passa

por ele na escuridão do espaço vazio. Ele nota que o relógio de Maria está andando

devagar em comparação com o seu (a proporção do retardamento depende da

velocidade com que eles se cruzam). Se fosse um pouquinho mais esperto, João

notaria também que além da passagem do tempo no seurelógio, tudo o mais que se

refere a Maria — o seu aceno, a velocidade com que pisca os olhos e assim por

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