Se a relatividade especial manifesta-se sobretudo quando as coisas se
movem com rapidez, a relatividade geral sobressai quando as coisas têm grande
massa e o encurvamento do espaço e do tempo é correspondentemente intenso.
Vejamos dois exemplos.
O primeiro é uma descoberta feita pelo astrônomo alemão Karl
Schwarzschild. Em 1916, na frente russa da PrimeiraGuerra Mundial, em meio aos
cálculos de trajetórias balísticas, ele estudava asrevelações de Einstein sobre a
gravidade. Poucos meses depois de Einstein ter dadoos toques finais à relatividade
geral, Schwarzschild conseguiu aplicar a sua teoriapara captar a maneira exata
como o espaço e o tempo se curvam na vizinhança de uma estrela perfeitamente
esférica. Ele enviou os resultados da frente russa para Einstein, que os apresentou,
em nome de Schwarzschild, à Academia da Prússia. Além de confirmar e dar
precisão matemática ao encurvamento esquematicamente ilustrado na figura 3.5, o
trabalho de Schwarzschild — hoje conhecido como "a solução de Schwarzschild" —
revelou uma implicação estonteante da relatividade geral. Ele demonstrou que se a
massa de uma estrela estiver concentrada em uma região esférica suficientemente
pequena para que o resultado da divisão da sua massa pelo seu raio seja maior do
que determinado valor crítico, o encurvamento do espaço-tempo assim produzido
será de tal modo radical que nada que esteja muito próximo à estrela, nem mesmo a
luz, é capaz de escapar da sua atração gravitacional. Como nem mesmo a luz pode
escapar dessas "estrelas comprimidas", elas foram inicialmente denominadas
estrelas escuras, ou frias. Posteriormente John Wheeler deu-lhes um nome mais
atraente — buracos negros (black holes). Negros porque esses objetos não podem
emitir luz, e buracos porque qualquer coisa que esteja muito perto cai dentro dele e
nunca mais sai. O nome pegou.
A figura 3.7 ilustra a solução de Schwarzschild. Embora os buracos negros
tenham uma reputação de voracidade, os objetos que passam por eles a uma
distância "segura" sofrem um desvio comparável ao que sofreriam ao passar perto
de uma estrela normal e prosseguem sua viagem. Mas se um objeto, qualquer que
seja a sua composição, se aproxima demais — dentro do que se denomina o
horizonte de eventos do buraco negro — ele está condenado: será tragado
inexoravelmente para o centro do buraco negro e sofrerá uma tensão gravitacional
crescente que terminará por destruí-lo. Por exemplo, se você mergulhasse, com os
pés à frente, no horizonte de eventos, à medida quevocê se aproximasse do centro
do buraco negro sentiria um desconforto cada vez maior. A força gravitacional do
buraco negro aumentaria em uma proporção tão gigantesca que os seus pés seriam
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O universo elegante
RandomEsse é um livro científico, porém eu recomendo também para leigos, por usar analogias diversas e procurar expor da maneira mais clara possível algumas das idéias dos maiores contribuintes da física e da matemática , além de expor claramente a loucur...