Você já deve ter uma idéia de como o mundo é diferente quando visto com os
olhos da mecânica quântica. Se ainda não caiu vítima da tontura sentenciada por
Bohr, com a loucura quântica que vamos discutir agora, você vai ficar pelo menos
um pouquinho delirante. É mais difícil aceitar intimamente a mecânica quântica —
imaginar-se e pensar em si mesmo como uma minipessoa, nascida e criada no reino
microscópico — do que as teorias da relatividade. Mas existe um aspecto da teoria
que pode funcionar como guia para a sua intuição, um princípio cardeal, que
distingue fundamentalmente a mecânica quântica do pensamento clássico. É o
princípio da incerteza, descoberto pelo físico alemão Werner Heisenberg em 1927.
O princípio decorre de uma objeção que já pode ter lhe ocorrido. Observamos que o
ato de determinar a fenda pela qual passa cada elétron (a sua posição) afeta
necessariamente o seu movimento subseqüente (a sua velocidade). Mas se é
possível fazer contato com uma pessoa dando-lhe um expressivo tapa nas costas ou
tocando-a suavemente, por que então não poderíamos determinar a posição do
elétron com fontes de luz cada vez mais suaves, de modo a produzir conseqüências
cada vez menores sobre o seu movimento? Do ponto devista da física do século
XIX, isso seria possível. Usando fontes de luz cadavez mais fracas (e detectores de
luz cada vez mais sensíveis) podemos produzir um impacto mínimo sobre o
movimento do elétron. Mas a própria mecânica quântica identifica um erro nesse
raciocínio. Ao reduzirmos a intensidade da fonte deluz, sabemos que estamos
reduzindo o número de fótons que ela emite. Quando chegamos ao ponto em que os
fótons estão sendo emitidos um a um, não podemos mais reduzir a intensidade da
luz: teríamos de apagá-la. Existe um limite básico,imposto pela mecânica quântica,
à "suavidade" da nossa intervenção. E portanto haverá sempre um efeito mínimo
sobre a velocidade do elétron, causado pelo nosso ato de determinar a sua posição.
Bem, é quase assim. A lei de Planck diz que a energia de um fóton é proporcional à
sua freqüência (e inversamente proporcional ao seu comprimento de onda).
Utilizando luz de freqüências cada vez mais baixas (comprimentos de onda cada vez
maiores), podemos produzir fótons cada vez mais suaves. Mas aqui está a questão.
Quando lançamos uma onda sobre um objeto, a informação que recebemos só nos
permite determinar a posição do objeto dentro de uma margem de erro igual ao
comprimento da onda lançada. Para uma percepção intuitiva desse fato importante,
imagine que você esteja tentando determinar a localização de uma grande rocha
ligeiramente submersa, observando a maneira como ela afeta as ondas do mar.
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O universo elegante
RandomEsse é um livro científico, porém eu recomendo também para leigos, por usar analogias diversas e procurar expor da maneira mais clara possível algumas das idéias dos maiores contribuintes da física e da matemática , além de expor claramente a loucur...