Capítulo Quatro

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Chegamos em casa por volta das três meia da tarde, consegui enrolar Igor o suficiente para que ele não percebesse que eu havia mexido em suas coisas. Eu sempre imaginei que ele e meu pai foram honesto comigo. Quando ele me disse que minha mãe não gostava de fotos ou que ela não era muito apegada a família.

Só agora pude ter uma dimensão do quanto minha vida era uma mentira.

As fotos, a carta, o colar e todas as outras coisas dentro da caixa me mostravam um pedaço da minha mãe que eu jamais consegui, ao menos, imaginar.

Estava feliz por encontrar algo concreto sobre minha mãe e triste por meu pai adotivo ter omitido isso por tantos anos.

Era a segunda do bingo com as senhoras da comunidade então Igor saiu me deixando responsável pelo jantar. Quando ele veio dizer tchau eu não consegui não desviar involuntariamente do seu beijo. Estava magoada o suficiente para rejeitar seu carinho. Mas eu não ia confronta-lo antes de ler a carta.

Depois da sua partida sentei-me em minha cama e simplesmente fiquei lá encarando a carta. Deveria haver um motivo para ele esconder isso de mim. Talvez eu não vá gostar do que vou ler. Peguei o envelope e percebi que ainda estava lacrado.

"Quem não arrisca não petisca, não é?"

Abri a carta e uma emoção completamente nova invadiu todo o meu ser.

A letra comprida e inclinada da minha mãe se assemelhava a minha, pode parecer bobagem para alguns mas para mim era maravilhoso saber que minha caligrafia se parecia com a dela.

Eu comecei a ler.

É clichê começar uma carta com "Querida Lana"?

Eu espero que você não ache isso, meu amor. Eu acho lindo.

Até a sua maneira de se expressar parecia com a minha.

Um dia você entenderá o amor que sinto por você. Um dia terá de dizer adeus aos seus filhos e compreenderá a dor que sinto por ter de deixa-la. Mas, Lana meu amor, eu só fiz isso para o seu bem. Na maioria dos casos é mais seguro para um bebê sua mãe estar por perto, mas nós fazemos parte de uma exceção.

É complicado querida. Mas você tem de acreditar em mim. Eu te amo tanto.

Agora você já deve ter idade suficiente para fazer suas próprias escolhas, seu próprio caminho. Por isso pedi ao Igor e a senhora Penelope guardarem esta carta até o momento em que você se tornasse independente pois o que eu tenho para lhe dizer não é fácil. É, na verdade, algo que as pessoas tentam fugir: Seu legado, seu verdadeiro eu. Eu também os fiz prometer que, se possível, você fosse adotada por uma boa família. Não quero que perca a experiência de estar em união com um grupo de pessoas que te amam, se você permaneceu no orfanato eu tenho certeza de que foi bem criada e amada.

Eu estou olhando para você agora, é tão pequeninha, tão frágil. Eu sinto tanto por não poder ficar com você, espero que me perdoe. Você é tudo agora.

Havia uma parte hachurada que eu não conseguia ler, algumas manchas que lembravam gotas estavam espalhadas pelo papel, provavelmente lágrimas. Eu também já não podia conter as que corriam pelo meu rosto. Parei alguns segundos até minha visão desembaçar e meu coração desacelerar e então continuei de onde eu conseguia entender sua letra que agora estava tremida.

E isso é algo complicado de mais para lhe contar em uma carta. Está em suas mãos querida, estou lhe dando a chance que eu nunca tive: A chance de escolher o seu destino.Você pode seguir em frente e ter uma vida tranquila ou pode saber sobre nossa família. Saiba que perto deles você estará segura, mas não será exatamente normal.

Eles estão escondidos no sul da Inglaterra. Procure por Ania Lokaster, ela terá todas as respostas para as suas perguntas.

Acima de qualquer escolha busque ser feliz, Lana.

Com todo amor do mundo, mamãe.

Agora eu estava cheia de questionamentos.

O quê a minha família tinha de tão complicado que não poderia ser colocado em uma carta? Por que era mais seguro para um bebê viver longe de sua mãe?

Uma coisa era certa: Eu teria de fazer uma escolha muito importante agora.

Infinito - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora