Epílogo

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Fazia duas semanas desde que voltei para casa. Vovô, que não me largou desde o acidente, me forçou a ver uma terapeuta.

Eu não lembro exatamente de nada do dia em que bati a cabeça... Só das alucinações. E os pesadelos, muitos pesadelos. Por causa deles eu estava naquela sala de espera. Havia muitos quadros de pintura contemporânea, aqueles com varias cores que a gente nunca sabe o que é de verdade; também tinha muitas revistas de três anos atrás. De verdade, não queria estar ali. Já tinha passado por sessões de terapias de mais. E, de certa forma, os pesadelos nem me incomodavam mais... Só quando eram ruins de verdade. Como aquele em que um monstro gigantesco arranca a cabeça de um cara... Ou aquele em que eu estou em um carro e acabo batendo em uma estatua e nos giramos e giramos...

Contar todas essas coisas a uma segunda pessoa parecia idiotice. Mas meu avô não descansou até eu aceitar.

Quando a porta do consultório da doutora Sol abriu um garoto de casaco verde saiu. Ela o consolava passando a mão em suas costas, ele parecia enxugar o rosto com a manga do casaco. Respirei fundo e me levantei da minha cadeira. Estava sozinha, mesmo com todos os meus familiares e amigos se dispondo a ir comigo.

"Olá!" A terapeuta disse animadamente. Ela era muito, mas muito bonita. Os cabelos ruivos em cachos caindo perfeitamente ao redor do rosto, que era incrivelmente branco... Ela devia ser da Europa... Os olhos eram de um azul forte, nada que eu tenha visto antes. "Olá!" Ela repetiu.

"Oh. É que você tem olhos azuis e é ruiva. Isso é... Bem raro." Eu disse. Era estranho... Como se eu soubesse que tinha algo... Diferente naquela mulher.

"Oh... Obrigada... ?"

Houve um segundo de silencio e constrangimento.

"Ok. Entre."

Ela me deu espaço para passar. O consultório não era muito diferente da sala de espera. Havia um sofá de cor clara e uma poltrona marrom; muitos quadros, replicas de obras famosas; uma estante com uns poucos livros, algumas estatuas e muitos, muitos globos de neves.

"Então... Como você está Lana?" Ela se sentou na poltrona e, devagar, sentei-me no sofá.

'Ainda tá em tempo de levantar e sair correndo!' Eu disse para mim mesma.

Ela me olhava esperando uma resposta. Devia estar com cara de idiota levando tanto tento para responder.

"Bem." Nem eu acreditei. Ela sorriu e inclinou a cabeça, fiquei sem fala por dois segundos. Aquela beleza era natural?

"Tem certeza? O que a trouxe até aqui?"

Eu sorri pensando na resposta.

"Minha família acha que eu estou... Abalada... Aconteceram muitas coisas nos últimos seis meses..."

"Que tipo de coisas?"

"Eu... Até algum tempo atrás eu achava que não tinha nenhum parente vivo... Mas eu encontrei uma prima e meu avô..."

"Entendo. Sim, esse tipo de 'surpresa' pode mesmo mexer com a nossa cabeça. Mas, aconteceu algo mais? Seu comportamento mudou? Porque eles acham que você está abalada?"

"Eu sou eu ainda... Eu acho... Quer dizer..." Eu não encontrava as palavras e contar a outra pessoa algo que nem você mesmo é capaz de explicar é bem complicado!

"Quer dizer...?" Ela suspirou. "Pode confiar em mim Lana, pode me contar tudo que quiser."

Eu acreditei de imediato.

"É como... Como se tivesse algo faltando! Quer dizer é ótimo encontrar alguém da minha família, mas... Não está completo." Ela me olhava com pena, como se soubesse muito mais do que eu. "Toda vez que eu chego perto... Some. Está ali, esperando... Esperando que eu encontre... Seja lá o que for, está sempre lá, esperando por mim."

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