Infinito - Livro I

Capítulo Sete

"O que você acha?"

"Você já sabe..."

"Mas é loucura!"

"Sua vida nunca foi exatamente normal... E além do mais você já se descidiu. Só tá aí fazendo cu doce porque tem medo. " As vezes parece que Mel me conhece melhor do que eu mesma.

Estávamos deitadas no capô do seu carro em frente ao mar. O céu tinha uma coloração mística de azul, rosa e roxo.

"Mas e se não for nada... E se eles forem da máfia?"

"Máfia inglesa? Ah, super!"
Ri da careta que minha melhor amiga fez.

"Ok..."

"Ok, o quê?" Ela perguntou.

"Eu vou"

Ela levantou abruptamente.

"Onde você vai?" Perguntei levantando também.

"Onde NÓS vamos?! Vamos comprar a sua passagem para Lavenham agora." Ela disse com convicção entrando no carro.

"Eu não devia ter te mostrado a caixa." Na caixa com as coisas de minha mãe nos achamos uma porção de fotos. Uma delas havia um endereço e uma dica para mim:

'A casa de uma grande amiga, minha peuquena Lana. Um ótimo lugar para começar.'

"É, não devia. Vem logo."

Nós voltamos para casa depois de horas dirigindo.

"E então?" Igor perguntou mais para Mel do que para mim. Eles tinham arquitetado tudo.

"Isso é um complô?" Perguntei com um olhar, falsamente, indignado.

"É sim." Os dois reponderam juntos.

"Certo. Igor, nós vamos comprar a passagem agora mesmo." Mel respondeu subindo as escadas.

Meu pai sorriu para mim. Um daqueles sorrisos que só os pais conseguem dar: acolhedor, seguro...

"Ok, eu já sei." Passei por ele e ele beijou o topo da minha cabeça.

"Boa sorte." Ele disse.

Mel e eu passamos a noite procurando o lugar mais adequado. Lavenham era uma cidade muito aconchegante, cheia de lugares encantadores. Havia uma linda e enorme igreja e era uma cidade relativamente montanhosa.

"Acho que vou gostar desde lugar." Eu disse olhando as fotos.

"Tá brincando, você vai amar olha isso?!" Ela disse apontando para as casas charmosas e convidativas. "Ei, sabia que ela foi usada como set de gravações pros últimos filmes de Harry Potter?"

"Sério?" Disse olhando para a tela do seu celular.

"Super. Wikipedia não mentira pra mim." Nós duas rimos.

"Aí, eu vou sentir tua falta." Eu disse a abraçando de lado.

"Ouch, falando desde jeito até parece que não vai voltar." Ela disse fazendo uma careta que me fez rir. "E se você pensar em não voltar... Eu juro que vou lá e te trago pelos cabelos. Eu não quero nem saber se as britânicas são charmosas e lindas e talvez muito românticas e... Aí meu Deus você tem que achar uma britânica dessas!"

Eu caí na gargalhada.

"És sério!" Ela disse com a convicção que só Mel tem.

"Eu não prometo nada." Sinceramente? Eu não esperava me apaixonar tão cedo. Talvez fosse melhor bloquear esse tipo de sentimento.

***

Passagem comprada, pousada escolhida e reserva feita. Daqui à cinco dias eu viajaria para a Inglaterra para conhecer o passado da minha família materna.

Se eu iria me arrepender, se eu iria gostar do ia ver ou se eu iria encontrar aquilo que parecia faltar em mim? Eram incógnitas que não me deixaram dormir aquela noite.

Deviam ser umas três da manhã e eu estava sentada na janela do meu quarto. A lua estava cheia, pode parecer loucura mas eu sempre achei que meu humor é conectado à lua. Quando ela estava assim, grande e luminosa eu me sentia animada e inquebrável. Eu sei é estranho. Como a Mel disse, minha vida nunca foi exatamente normal.

O vento balançava suavemente as folhas da árvore que cobriam o teto da minha casinha da infância. Tudo parecia calmo do lado de fora, mas dentro de mim tudo estava um turbilhão.

Sentei-me à minha escrivaninha e comecei a vascular os meus últimos desenhos. Eu adorava desenhar e quando os sonhos aumentaram de frequência eu comecei a desenhar o que eu via neles.

Alguns deles continham lobos, uns eram gigantescos outros eram, com certeza, no mínimo maiores que eu se estivessem de pé. Outros desenhos eram de uma moça em um vestido longuíssimo vermelho sangue. Outros de minha mãe.

Estava mentalmente esgotada. Logo caí no sono ali mesmo.