Capítulo Treze

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Virei-me para direção da voz. Era mansa, porem forte. Como se um tigre ronronasse. O reconheci do bar: O cara que ficou me encarando. Seus cabelos compridos chicoteavam com o vento, a feição perfeita como um arcanjo... Um arcanjo obscuro e amedrontador.

"Anh... Estou bem." Eu disse dando uma ultima olhada ao redor. "Já estou entrando, obrigada." Dei a volta nos meus calcanhares para ir para o pub, mas, rapidamente ele bloqueou meu caminho.

"Tem certeza? Você parece perdida..."

Por algum motivo, eu precisei de uns bons segundos para me mover. Sua presença causava uma bizarra paralisação no meu corpo.

"Eu já disse que estou bem!" Eu disse um tanto quanto exaltada. Seu olhar me provou que isso foi um grande erro, o homem parecia extremamente ofendido.

Olhei para dentro do bar, Lauren e seus amigos estavam fora do meu campo de visão. Ele aproximou-se, lenta e ameaçadoramente, quanto mais ele chegava perto mais eu caminhava para trás na intenção de manter distancia. Um sorriso brilhante e com dentes de mais surgiu em seu rosto, talvez fosse a luz ou o medo, mas eu pude jurar que seus olhos estavam mudando de cor. Se isso de fato chegou a acontecer eu nunca pude constatar, pois quando ele pareceu pronto para pular em cima de mim, minhas costas bateram em algo, ou melhor, alguém.

Perdi meu equilíbrio quando nossos corpos se chocaram. Porem, seus braços firmes e gélidos me deram apoio.

"O que pensa que está fazendo, Ryan?" Sua voz era um terrível mistério para mim: Suave como vento de fim de tarde, mas, ao mesmo tempo, feroz como um trovão.

Ele retomou sua postura elegante, negou com a cabeça e disse.

"Você é um tédio!" Agora ele estava nitidamente voltado para mim. "Te vejo por ai, docinho."

O homem suspirou e com um sorriso de deboche começou a se afastar e por fim sumiu na escuridão. Quando tive certeza de que ele havia ido, senti-me segura o suficiente para sair dos braços daquela pessoa. Minha atitude me assustou, para falar a verdade: Como eu poderia confiar em alguém sem nem ao menos ver seu rosto?

Mas eu tinha quase certeza, apesar do pouco tempo, aquele toque gélido era reconhecível. No momento em que me virei pude acabar com minhas duvidas.

"Está tudo bem com a senhorita?" Ela perguntou.

Sob a luz da lua ela era ainda mais bela, seus olhos pareciam refletores com aquele brilho estrondoso. Eu quase me sentia hipnotizada. Quase.

"Sim. Anh... Muito obrigada." Ela nem mesmo olhava para mim. Respirava pesadamente, com a postura completamente rígida, olhava para os próprios pés como se estivesse envergonhada. Como uma criatura, tão próxima da perfeição, como ela poderia sentir-se envergonhada?

"Lana?!" Ouvi alguém gritar do bar. Era Lauren. "Algum problema?"

"Não. Está tudo bem." Eu respondi rápido e virei-me de volta para a garota, não queria que ela fosse embora sem mais nem menos.

"É melhor você ir." Ela disse num tom extremamente passivo.

"Anh..." Mas que droga! O que houve com a minha boca!

"Ele vai voltar... Você está hospedada na cidade?" Afirmei com a cabeça. "Pegue." Ela estendeu um pequeno cartão. "Com certeza você vai preferir se hospedar aqui."

"Hum... Obrigada." Eu mirei o cartão. Com letras cursivas e bem detalhadas estava escrito 'Casa Cor De Rosa'. Lembrei-me imediatamente do meu primeiro dia em Lavenham, o taxista havia me recomendado esse lugar...

Quando ergui minha cabeça de novo ela já ia longe e eu nem sabia seu nome...

***

Íamos andando de volta para a pousada onde eu estava e mesmo eu insistindo muito, Lauren preferiu e para a sua casa. Espero não ter deixado a impressão errada quando um dos garotos deu em cima de mim e eu disse que era lésbica. Eu havia bebido algumas cervejas... Talvez tenha sido de mais... Afinal eu tive a impressão de estar sendo seguida durante todo o caminho.

Despedi-me de Lauren e agradeci a gentileza. Ela parecia até um pouco mais aberta, mais gentil.

Cheguei ao meu quarto muito cansada, mas, naquela noite, nada me impediu de ter sonhos como os que eu costumava ter antes de vir para Lavenham.

Havia um quarto pequeno e mofado. Apenas um feixe de luz azul vindo da janela desmontava a profunda escuridão. Era tão real que eu podia sentir o chão frio em baixo dos meus pés.

"Olá, docinho!" O tal de Ryan acabara de entrar, sua imagem era cortada como se eu estivesse em um filme.

As imagens iam e vinham alternado entre uma clareira no meio de uma floresta e o quarto. Desesperei-me e caí no chão. Quando ergui minha cabeça novamente, o rosto do homem estava a sentimentos do meu, ele me fitava ameaçadoramente como se quisesse me devorar. Mas ele não o fez, um rosnado feroz o assustou. Ele saiu da minha frente e mais rápido do que eu poderia imaginar ele partiu. E então só ficamos eu e o lobo. Ele me olhou de, certa maneira, como se quisesse enxergar-me por dentro. Olhando no vermelho profundo dos seus olhos vi meu reflexo, eu e o lobo naquele momento de falta de lucidez éramos um só.

Acordei nervosa, porém logo me controlei. O sonho fora tão rápido, mas eu ainda podia ouvir o farfalhar das folhas na floresta. Levantei-me e à medida que me aproximava do banheiro o barulho aumentava e transformava-se em um ruído horrível, lavei meu rosto e sai tateando tudo que vi pela frente estava e enquanto caminhava o ruído em minha mente ia tomando forma e consistência... Ficando mais nítido, audível... Era... Era meu nome.

Sai do banheiro atordoada, a visão ligeiramente turva, talvez ainda estivesse dormindo, afinal quando olhei para frente deparei-me com a garota do bar. Ela me olhava fixamente, o ruído aumentando e mudando ao mesmo tempo. Abri minha boca umas duas vezes para tentar dizer algo mas não podia... Meu nome já não era entoado pela voz na minha cabeça, era outro nome... E a garota ainda parada na minha frete sem nada dizer. Constatei que tudo não passava de uma 'visão' quando minha mãe tomou o lugar da garota.

Um vento forte adentrou o quarto pela porta de acesso a varanda que estava meio aberta, mas nada saiu do lugar há não ser um pequeno papelzinho rosa.

Infinito - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora